TÚNEL DE SETE QUILÔMETROS COM OLEODUTO DA LINHA 5 SOB O LAGO DE MICHIGAN COMEÇARÁ AS OBRAS NO INÍCIO DE 2023
O governo de Michigan, nos Estados Unidos, ainda discute com a operadora canadense Enbridge o polêmico projeto do novo oleoduto da Linha 5, que atualmente está submerso no leito do Lago de Michigan. No próximo dia 7 de junho, haverá uma nova rodada de debates envolvendo a comunidade local, o governo de Michigan e a empresa canadense dona do oleoduto. Para lembrar, há pouco mais de dois anos, a âncora de um navio bateu no oleoduto existente, construído há cerca de 70 anos, quase causando um desastre ambiental sem precedentes na região. A Enbridge decidiu construir um túnel sob o lago e lançar um novo oleoduto substituto, evitando que haja um acidente, mas ainda não definiu qual a empresa fará esta construção. O túnel terá quase sete quilômetros sob o lago e abrigará o novo oleoduto de 30 polegadas, que vai substituir a tubulação atual.
Nos debates realizados durante as audiências públicas, a Enbridge apresentou a tecnologia brasileira da empresa Liderroll, já consagrada internacionalmente, como a melhor forma de se lançar oleodutos e gasodutos em ambientes confinados, como túneis, o que foi aprovado pelo governo local e pela sociedade de Michigan que participaram das discussões. A Liderroll, que tem uma grande experiência neste tema, já projetou, fabricou, construiu e lançou quatro linhas diferentes em dois túneis. Uma de 38 polegadas, no Túnel GASDUC III, no Rio de Janeiro, e três oleodutos de diferentes diâmetros dentro do Túnel GASTAU, sob a serra do mar, em São Paulo. Hoje, a responsabilidade desses dois túneis está com a empresa operadora NTS. Até o final deste ano ou no início do próximo, a escolha da tecnologia a ser usada para o lançamento do oleoduto dentro do túnel sob o lago será conhecida. Neste momento, a Enbridge está estudando as propostas.
A Liderroll é proprietária das patentes tanto nos Estados Unidos quanto no Canadá. A Enbridge, que demonstrou para o governo de Michigan a tecnologia brasileira, está apresentando agora em seu site, uma forma diferente de realização construtiva para o oleoduto em questão, que jamais foi testada em um túnel com perfil muito acidentado (ver figura) e tão longo, com estimativa de mais de 17 bar de pressão de água, a uma profundidade de enterramento em torno de 170 metros de profundidade. Além disso, ainda apresenta uma dificuldade extra: o túnel terá um longo trecho em descida e outro em subida. Sem roletes motrizes e suportes especiais, muito provavelmente não há outra tecnologia capaz de resolver este problema. Este projeto ficará a cargo de uma empresa empreiteira contratada, mas que ainda não foi escolhida, segundo o porta voz da empresa, Ryan Duffy (foto principal), com quem o Petronotícias conversou:
– Como está a relação da Enbridge com o governo de Michigan?
– Temos trabalhado bem com várias agências estaduais de Michigan e funcionários dessas agências no processo de licenciamento para o projeto do túnel. Recebemos uma licença do Departamento de Meio Ambiente, Grandes Lagos e Energia de Michigan e estamos aguardando a aprovação da Comissão de Serviço Público de Michigan.
– A empresa para a construção do túnel já foi contratada?
– Ainda não. Fizemos um pedido de propostas para o projeto e estaremos analisando as propostas de empresas interessadas na construção do túnel. Esperamos selecionar uma empresa até o final deste ano ou início de 2023.
– A empresa brasileira, que já possui bastante experiência neste tipo de trabalho, foi contatada?
– Caberá à construtora selecionada para o projeto escolher seus subempreiteiros para o projeto.
– Quando a Enbridge pretende iniciar a construção do túnel?
– O processo de licenciamento é o condutor do cronograma do projeto. Quando recebermos todas as licenças, iniciaremos a construção. O processo de construção em si levará aproximadamente quatro anos.
– A empresa lançará apenas uma linha de dutos dentro do túnel ou terá linha de reserva, para qualquer eventualidade?
– Haverá um novo duto de 30 polegadas dentro do túnel que substituirá o atual trecho da Linha 5 no Estreito. Também haverá espaço no túnel para outras utilidades.
– A Enbridge manteve inspeção e manutenção na atual Linha 5?
– Todas as nossas inspeções e testes da Linha 5 nos dizem que está em muito boas condições. Estamos constantemente inspecionando a tubulação. Tanto interna quanto externamente. Além disso, nosso regulador federal, o Pipeline Hazardous Materials Safety Administration, disse várias vezes que a linha está apta para o serviço.
– No dia 7 de junho haverá nova rodada de negociações com o governo de Michigan. Qual é a expectativa da Enbridge?
– Em 7 de junho haverá uma reunião da Autoridade do Corredor do Estreito de Mackinac. É uma reunião de rotina, mas ainda não vi a agenda da reunião, então não tenho certeza do que está planejado.
A Enbridge pode esperar até o início do próximo ano para anunciar a empresa vencedora. A empresa terá que construir um túnel de sete quilômetros abaixo do leito do lago, um trecho rochoso sob o Estreito de Mackinac, mas ela ainda precisa de licenças da Comissão de Serviço Público de Michigan e do Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos. O Petronotícias também conversou com o CEO da Liderroll, Paulo Fernandes, sobre esse assunto. Ele disse que conhece bem o tema e que será muito possível que a empresa que for contratada use o conhecimento da Liderroll nesta obra:
– Bem, em primeiro lugar, quero dizer que estranhamos que em 2019 o vídeo divulgado no site da Enbridge, usava 100% da nossa tecnologia, inclusive a exata geometria das nossas peças, até as nossas cores verde e amarela do Brasil, tudo isso para apresentar a população e aos políticos locais como o oleoduto seria construído, lançado e o quão seguro ele estaria longe das águas do lago dentro do túnel.
Estranhamos porque foi um vídeo com a nossa tecnologia que foi tomado como referência e base técnica nas apresentações das audiências públicas, as quais ensejaram a criação da lei pelo senado estadual de Michigan e assinada pelo governador da época. Não só o vídeo mostrava claramente a nossa solução, mas os relatórios técnicos e documentos entregues para as autoridades citavam com fotos inclusive o sucesso da obra no Brasil do túnel GASTAU. E agora mostram uma outra concepção que dribla tudo que foi estudado pela consultoria da época. E com isso, não concordamos. ( https://youtu.be/v8TV8_-n55Y ) – clique NO LINK para ver esta apresentação.
– Quando o senhor tomou conhecimento, o que fez?
– Imediatamente, enviamos algumas correspondências alertando para isso e mostrando que a nossa solução daria velocidade a construção e garantia de performance. Ouvi que eles puxariam o tubo com um cabo de aço. Mas isso é praticamente impossível, porque são sete quilômetros de túnel, sendo que há um declive acentuado, que precisa ter controle de tração, posicionamento preciso para as soldas e freios que segurem toda a coluna em declive, além da segunda parte do túnel ser uma subida pesada e bem íngreme para qualquer tipo de sistema de tração. A nossa tecnologia já demonstrou que é muito eficiente e segura, que no túnel do GASTAU, lançamos uma linha de 28 polegadas e antecipamos o prazo em dois meses. Imagine a economia. Depois disso, ainda lançamos mais duas linhas menores por cima deste Gasoduto 100% pressurizado e em operação.
– É possível lançar outra linha em túneis assim?
– Com certeza, como falei. Nós lançamos mais duas linhas com o gasoduto vivo. São cinco quilômetros de túnel. Quem está na entrada não vê o final do túnel e lá, o túnel tem quase sete quilômetros. Imagine! Nós podemos utilizar nosso know how, metodologias, a nossa tecnologia para que a construção seja possível e, o mais importante, evite riscos de acidente, tanto na construção como na operação permanente ao longo dos anos. A nossa técnica é única no mundo e só no túnel GASDUC III já está em uso sem qualquer manutenção desde 2009.
– O senhor conversou com o pessoal da Enbridge sobre isso?
– Bem, mandamos algumas correspondências e por últimos usamos a DHL para mandar um material completo. Neste material chamamos a atenção para graves problemas de ordem técnica e construtiva, inclusive tomamos a iniciativa de já mandar o anteprojeto e o projeto conceitual o qual confirma todas as nossas advertências dos riscos e a melhor solução a ser adotada. Esse alerta foi enviado para o CEO da companhia, a Chefe da engenharia e algumas outras pessoas. Eticamente cumprimos o nosso dever e o alerta foi dado para evitar danos de todas as ordens. Vamos ver agora o que irão decidir, será que tentarão executar o novo projeto que foi apresentado às autoridades de Michigan, que contém riscos técnicos irrefutáveis que documentamos, em detrimento da tecnologia reconhecida da Liderroll, testada e premiada mundialmente?
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