VENCEDORES DO LEILÃO EVITAM FALAR EM ESTIMATIVAS DE PETRÓLEO EM LIBRA | Petronotícias




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VENCEDORES DO LEILÃO EVITAM FALAR EM ESTIMATIVAS DE PETRÓLEO EM LIBRA

Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) – 

A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) não hesitou em anunciar estimativas de oito a 12 bilhões de barris de óleo recuperável na área de Libra nos últimos meses, mesmo com apenas um poço perfurado no bloco e a quantidade de incertezas envolvidas no segmento de exploração de petróleo, chegando a estimar o pico da produção em 1,4 milhão de barris por dia. O país inteiro – e principalmente as petroleiras vencedoras do leilão – torce com todas as forças para que a ANP acerte nas previsões, mas a postura dos executivos das companhias que arremataram o bloco foi bem diferente. Nenhum deles quis falar sobre números e, sempre que perguntados, evitavam o assunto.

Como explicado em reportagem do Petronotícias na última semana, Libra contém recursos prospectivos e contingentes, e não reservas certificadas de petróleo, o que ainda envolve muitos riscos em relação à viabilização comercial da produção. Ainda assim, todos os participantes da rodada acreditavam que há muito petróleo no bloco oferecido, mas mantêm a cautela quando vão falar de números.

O presidente da Shell, André Araújo, respondendo ao grupo de jornalistas que o questionava na saída do certame, deixou clara a necessidade de ponderação antes de divulgarem números:

“Vocês que acompanham bastante o setor de exploração e produção sabem que é difícil fazer previsões, e a gente só começa a chegar a algum lugar quando o programa mínimo de exploração estiver terminado. O que eu posso dizer é que a ANP estima entre 8 e 12 bilhões [de barris]. Entendemos que esse é o número da ANP. Vamos ver qual vai ser o resultado”, disse na segunda-feira (21) após o encerramento da disputa.

A diretora-geral da ANP, Magda Chambriard, em entrevista coletiva ao fim do evento, também falou sobre o assunto, explicando que a consultoria americana Gaffney, Cline – pertencente à Baker Hughes – havia certificado as estimativas de recursos antes da perfuração do poço, mas que não houve uma recertificação após a descoberta. Mesmo assim, para o órgão regulador, as informações eram suficientes para que as previsões fossem reiteradas com tanta veemência.

“Foi exatamente essa perfuração, somada ao levantamento sísmico, que nos fez perceber que ao invés de cinco bilhões nós poderíamos ter de oito a 12 bilhões de barris de óleo recuperável. Esses dados são bastante disponíveis e não esperamos que nenhuma empresa acredite em nós. Porque, num negócio deste tamanho, qualquer empresa, qualquer interessado, ao se comprometer com investimentos de bilhões de reais, certamente tem suas próprias contas”, disse.

O executivo da Shell reconheceu o fato, afirmando que cada empresa deve ter avaliado, mesmo dentro do seu consórcio, qual é a estimativa de Libra, mas nenhuma delas se animou a fazer previsões. O presidente da Total no Brasil, Denis Palluat de Besset (foto à direita), falou sobre o aumento de investimentos, o lugar estratégico que o Brasil vai ocupar nas operações da empresa, mas também evitou dar números: “tomara que seja verdade”, disse, referindo-se à projeção de que o pico da produção em Libra deve representar 1,4 milhão de barris extraídos por dia.

A presidente da Petrobrás, Graça Foster, que havia falado sobre o assunto em entrevista coletiva no final de setembro, saiu do evento sem dar declarações à imprensa, mas escreveu uma carta aos funcionários da estatal sobre a aquisição de Libra em que os números da ANP também não foram mencionados.

“Libra é considerado um prospecto de elevado potencial. (…) À medida que a fase de exploração evoluir, divulgaremos as estimativas sobre o volume de óleo recuperável, custos e cronograma dos sistemas definitivos de produção”, escreveu a executiva aos empregados da empresa.

No Brasil, uma portaria da própria ANP, que define os critérios para apropriação e estimativas de reservas, publicada em 21 de janeiro de 2000 no Diário Oficial da União, afirma que esse tipo de cálculo sempre envolve incertezas quanto às informações geológicas, de engenharia e às condições econômicas. Em função disso, a agência estabelece que as reservas de petróleo e gás natural de um campo somente estarão formalmente reconhecidas após a aprovação de seu Plano de Desenvolvimento. No caso de Libra, estão estimados recursos prospectivos e contingentes – e não reservas –, o que envolve uma incerteza ainda maior sobre o volume de petróleo da área.

As ações das petroleiras sobem nas bolsas de valores amparadas pela expectativa de que muito óleo tenha sido adicionado às suas reservas, mas os riscos por trás de projetos desta magnitude também são enormes. A OGX é um dos casos que surfou na onda dessas estimativas de recursos prospectivos e contingentes (inicialmente previstos em 10,8 bilhões de barris de óleo recuperável), mas acabou em situação complicada. As cinco empresas que arremataram o campo de Libra – Petrobrás (40%), Total (20%), Shell (20%), CNPC (10%) e CNOOC (10%) – não são novatas na área como a OGX era, e já demonstram que é necessária muita cautela em relação a este aspecto.

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