VOLT ROBOTICS AVALIA QUE RESSARCIMENTO POR CORTES DE GERAÇÃO E REFORMA SETORIAL SÃO FUNDAMENTAIS PARA O FUTURO DO SEGMENTO ELÉTRICO
O tema dos cortes de geração em usinas eólicas e solares (curtailment) tem sido uma grande dor de cabeça dentro do setor elétrico. Um recente levantamento da Volt Robotics apontou que, entre março do ano passado e fevereiro deste ano, os geradores sofreram um impacto de R$ 1,9 bilhões quando valorados pelo preço spot e de R$ 3,3 bilhões quando valorados pelos preços dos contratos. Ao todo, os cortes somaram 18,7 TWh. A indústria de energia tem feito um amplo debate sobre como superar esse desafio. Para o CEO da Volto Robotics, Donato Filho, o ressarcimento de geradores é uma alternativa para evitar que os projetos de energias renováveis se tornem inviáveis. Segundo ele, essa medida traria um efeito mínimo nas contas de energia. “Nós simulamos os impactos tarifários de vários cenários e, nos casos de maiores aumentos, as tarifas se elevam em 0,38%, que é um valor baixo na nossa percepção”, detalhou. O especialista também defende que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) tem um papel fundamental na resolução desse dilema, bem como sugere outras medidas, tais como eliminar atrasos nas obras de transmissão e promover o armazenamento de energia. Por fim, Donato afirmou que o setor elétrico como um todo precisa de uma reforma. “Em 2025, estamos com crescimento do nível de cortes. Sem uma reforma robusta, os investimentos começam a ser freados, elevam-se o risco de defaults no mercado e a tarifa cresce por causa dos subsídios”, declarou.
Para começar, poderia relembrar brevemente aos nossos leitores qual foi o impacto do curtailment nos empreendimentos renováveis no Brasil nos últimos 12 meses? Quais têm sido os efeitos desses cortes para geradores e consumidores?
Os efeitos para os geradores eólicos e solares de 01/03/2024 a 28/02 de 2025 foram de 18,7 TWh cortados, com impacto de R$ 1,9 bilhões quando valorados pelo preço spot e de R$ 3,3 bilhões quando valorados pelos preços dos contratos. O número de horas cortados neste período foi de 465 mil.
Os cortes são classificados em Razão Energética (insuficiência de carga ou sobra de geração no Brasil), Confiabilidade (limitações de transmissão) e Razão Elétrica (limitações de transmissão associadas com indisponibilidade de equipamentos). Apenas esta última razão possui previsão de ressarcimento pelos consumidores quando o número de horas cortadas ultrapassa uma franquia associada com a indisponibilidade média das funções de transmissão. Em 2024, estima-se que o ressarcimento representou aproximadamente 2,2% do impacto total dos agentes de geração.
Em sua opinião, o ressarcimento das usinas é o melhor caminho para equacionar a questão?
O ressarcimento é uma solução para evitar que os projetos se tornem inviáveis, comprometendo todo o desenvolvimento das usinas renováveis. Há medidas de curto e longo prazo que reduzem os cortes e resolvem o problema.
Contudo, essa alternativa pode representar um aumento de custos para os consumidores? Como equilibrar essa balança?
Nós simulamos os impactos tarifários de vários cenários e, nos casos de maiores aumentos, as tarifas se elevam em 0,38%, que é um valor baixo – na nossa percepção – em relação aos potenciais prejuízos sobretudo à região Nordeste.
Também simulamos os impactos tarifários, e chegamos a um acréscimo de 0,015% na inflação.
Qual deve ser o papel da Aneel para a resolução desse dilema no setor?
A ANEEL tem um papel fundamental. Primeiro, entendendo profundamente o que está acontecendo, com fatos e dados.
Segundo, garantindo – o que é sua razão de existir – o equilíbrio entre os agentes do setor elétrico. Esse equilíbrio se consegue primeiro com transparência em relação a todos os cortes, simetria de informações, garantia de critérios claros, objetivos e reprodutíveis para os cortes.
Terceiro, dando tratamento igualitário entre todas as fontes. Não há motivo para, quando há impedimento sistêmico para as usinas gerarem, independentemente da fonte, algumas serem ressarcidas, e outras não.
Em sua opinião, além do ressarcimento dos geradores, quais são as outras sugestões que poderiam ajudar a minimizar os efeitos dos cortes de renováveis?
No curto prazo: mutirão para eliminar atrasos nas obras de transmissão; flexibilização das gerações inflexíveis das termoelétricas; aceleração dos programas de resposta da demanda; aceleração da implantação de tarifas inteligentes, que incentivem o consumo ao longo das manhãs; e interligação energética do Brasil com outros países da América do Sul (no início, aproveitar a infraestrutura existente com Argentina e Uruguai).
No longo prazo, será preciso expandir a capacidade de transmissão, aprimoramento o planejamento setorial para que ele seja capaz de antecipar as necessidades futuras. Estamos na situação atual porque estamos sendo reativos.
Além disso, é necessário promover o armazenamento de energia em larga e em pequena escala; incentivar a eletrificação da economia, começando pela mobilidade elétrica associada às tarifas inteligentes; e promover a integração do mercado de energia com os mercados de gás, biogás e biocombustíveis.
Por fim, independentemente do prazo, também é desejável dar transparência aos dados, aos critérios de cálculo e aos critérios de corte. Os agentes de geração, e qualquer cidadão, dificilmente aceitariam pagar uma conta que não consegue reproduzir em casa para saber se está correta.
Diante de todo o quadro atual do setor, quais são suas perspectivas com a indústria renovável brasileira em 2025?
Uma reforma setorial é muito importante para dar mais consistência aos preços, reduzir subsídios, garantir oferta de energia competitiva à indústria nacional e trazer consistência à expansão e ao consumo.
Em 2025, estamos com crescimento do nível de cortes (veja o relatório anexo). Sem uma reforma robusta, os investimentos começam a ser freados, elevam-se o risco de defaults no mercado e a tarifa cresce por causa dos subsídios.
Deixe seu comentário