WÄRTSILÄ MOSTRA OTIMISMO PARA FECHAR NOVOS NEGÓCIOS AINDA ESTE ANO NA ESTEIRA DO LEILÃO DE RESERVA DE CAPACIDADE
O leilão de reserva de capacidade (LRCAP) é a grande pauta do setor elétrico brasileiro neste primeiro semestre. Conforme noticiamos no início desta semana, o certame atraiu a inscrição de 327 projetos, totalizando 74 GW de capacidade instalada. Por isso, é grande a movimentação nos bastidores do segmento em preparação para o leilão, que deve acontecer no dia 27 de junho. Uma das empresas mais atentas a essas oportunidades é a finlandesa Wärtsilä. Em entrevista ao Petronotícias, o diretor de vendas de projetos da companhia, Gabriel Cavados, mostra otimismo em relação a possíveis novos negócios a partir do LRCAP. O executivo avalia que as regras divulgadas até aqui incorporaram mudanças importantes em comparação com certames anteriores. “Entre os pontos mais interessantes, destaco a contratação de produtos para vários anos: 2025, 2026, 2027, 2028, 2029 e 2030. Isso ajuda a solucionar, no longo prazo, os desafios de capacidade no Brasil e alinha o planejamento do setor”, disse. Outra possibilidade interessante aberta pelo LRCAP é a conversão de usinas a óleo para combustíveis sustentáveis. “Temos clientes que hoje são donos de usinas e estão se preparando ativamente para participar desse leilão com biodiesel, além de avaliarem outros combustíveis renováveis, como etanol e biogás”, contou. Por fim, Cavados prevê que é possível ainda fechar novos negócios com investidores vencedores do LRCAP ainda neste ano, já que alguns deles estão se antecipando para garantir equipamentos antes do leilão. “Devemos ter notícias ainda este ano, e estamos muito animados não apenas para projetos novos, mas também para conversões de usinas existentes para gás natural ou biodiesel”, finalizou.
Para começar, seria interessante ouvir sua avaliação geral sobre o novo leilão de capacidade, previsto para junho.
No início deste ano, fomos surpreendidos positivamente com as primeiras definições sobre o leilão. Entre os pontos mais interessantes, destaco a contratação de produtos para vários anos: 2025, 2026, 2027, 2028, 2029 e 2030. Isso ajuda a solucionar, no longo prazo, os desafios de capacidade no Brasil e alinha o planejamento do setor. Essa visão estratégica é muito positiva.
Outro ponto positivo foi a separação entre produtos novos e existentes. Isso significa que térmicas já em operação não vão competir diretamente com térmicas novas. Essa decisão resolve um problema do setor: o que fazer com as térmicas legadas? Agora, elas podem continuar operando e, melhor ainda, são incentivadas a buscar combustíveis mais sustentáveis. Essa novidade tem atraído muito interesse de clientes.
Para novos projetos, também vemos uma competição interessante no segmento de gás natural. Antes, uma portaria de 2021 exigia que os projetos fossem exclusivamente de gás natural em ciclo aberto. Agora, é possível participar com outros combustíveis renováveis, como biodiesel, etanol e biogás. Isso amplia bastante as possibilidades.
De uma forma geral, estamos muito otimistas com o leilão, pois as regras são boas para o mercado. Ainda falta a publicação da Minuta do Contrato, que normalmente sai algumas semanas antes do leilão, mas não esperamos surpresas. As condições estão justas para os empreendedores.
Em fevereiro, a portaria 100/2025 do Ministério de Minas e Energia trouxe algumas definições importantes sobre o certame. Qual sua opinião sobre os pontos apresentados?
A publicação da portaria foi muito importante porque define a fórmula que o governo usará para ranquear os projetos. A fórmula do preço de potência anteriormente usava um fator de capacidade muito baixo para precificar a tecnologia, priorizando a compra de capacidade muito barata, mas que talvez não fosse a mais eficiente. Agora, houve uma atualização dessa fórmula, que se mantém parecida, mas com ajustes que consideramos positivos.
No modelo anterior, todas as tecnologias eram ranqueadas principalmente com base no custo de instalação e avaliadas com um “fator f” de 120 horas de operação por ano (cerca de 1,5% de operação). Isso beneficiava tecnologias baratas para instalar, mas caras para operar, enquanto penalizava aquelas um pouco mais caras na instalação, mas mais econômicas ao gerar energia. Pelas nossas contas, esse fator deveria ser algo entre 8% e 9% para uma avaliação mais justa.
A nova fórmula introduziu uma métrica que considera parâmetros de flexibilidade. Agora, fatores como o tempo necessário para acionar uma usina são levados em conta. Por exemplo: uma usina que leva uma hora para entrar em operação será considerada menos competitiva do que uma que pode ser ativada em 10 minutos. Além disso, são analisados o tempo necessário para manter a usina operando e o tempo de parada. Isso representa um avanço significativo.
Algum ponto destoou dos demais na portaria?
Um detalhe que chamou atenção foi a consideração de que essas usinas contratadas serão acionadas e desligadas cerca de 60 vezes por ano. Para nós, esse número é conservador. Em nossas simulações do setor elétrico brasileiro para 2031, a média foi de 120 a 130 partidas anuais. Como essas usinas ficarão no sistema por cerca de 15 anos – por exemplo, uma usina que entra em operação em 2028 deve seguir até 2043 –, acreditamos que 60 partidas por ano é um valor subestimado. Apesar dessa ressalva, a atualização da fórmula foi um avanço significativo, pois permite uma avaliação mais qualificada das tecnologias, indo além da simples análise de CAPEX.
Como avalia a possibilidade de conversão de usinas movidas a óleo para soluções mais sustentáveis?
Entre 2006 e 2009, o Brasil contratou muitas usinas a óleo como uma solução viável. Elas não operaram continuamente, mas serviram como reserva estratégica e foram acionadas em momentos críticos, como nas secas de 2012, 2013 e 2014. Durante a pandemia, também tiveram um papel importante e, hoje, ainda são utilizadas em alguns momentos do dia para equilibrar a geração solar, quando esta deixa de produzir ao final da tarde.
Apesar da utilidade que demonstraram, atualmente não vemos mais espaço para usinas a óleo. Além do impacto ambiental, há alternativas que cumprem a mesma função e podem ser mais competitivas.
O grande desafio sempre foi o seguinte: se uma usina a óleo está próxima de um gasoduto, ela pode ser convertida para gás natural e participar do leilão com um novo contrato e um combustível mais limpo. Mas e as usinas localizadas no interior, sem acesso ao gás? Essas ficariam excluídas do leilão. Vale lembrar que a sociedade brasileira já pagou por essas usinas a óleo. Elas foram pouco utilizadas e, se não forem contratadas novamente, será um desperdício de dinheiro público. Permitir que participem do leilão com combustíveis renováveis abriu um leque de possibilidades.
Essa flexibilização permite aos investidores explorarem alternativas viáveis e resolve um problema estrutural do setor elétrico brasileiro. Embora existam fornecedores dispostos a fornecer gás natural, o número de agentes ainda é pequeno, e o custo logístico de transporte continua sendo um impeditivo.
E como o mercado está olhando para essa possibilidade?
Temos clientes que hoje são donos de usinas e estão se preparando ativamente para participar desse leilão com biodiesel, além de avaliarem outros combustíveis renováveis, como etanol e biogás. Há dez anos, seria impensável usar algumas dessas fontes na geração de energia, mas agora há um grande entusiasmo.
Ao seu ver, tendo em vista a transição energética em curso, qual será o papel das térmicas no sistema elétrico?
Eu gosto de fazer a seguinte analogia: a térmica é parecida com o seguro de um carro. O seguro é algo que você paga, torcendo para nunca precisar usar, mas, quando precisa, ele se torna extremamente útil. A térmica funciona da mesma forma. O sistema elétrico todo paga para manter essa energia disponível, e o custo para mantê-la é irrelevante comparado ao custo total do sistema.
Às vezes, muitos reclamam de estarmos pagando pelas térmicas sem utilizá-las. Mas isso é um ótimo sinal. Quando essas térmicas não estão operando, isso significa que o sistema elétrico está operando com energia renovável e de baixo custo – seja hídrica, eólica ou solar. O custo de manter a térmica disponível é pequeno perto dos benefícios das fontes renováveis.
Em contrapartida, quando você não tem chuvas suficientes, por exemplo, e os reservatórios das hidrelétricas ficam em baixa, a térmica vai operar como backup e será a solução mais barata para garantir a segurança do sistema.
Nos sistemas elétricos, como um todo, as termelétricas já estão migrando para operar na ponta, como backup. A térmica, que antes era usada continuamente, passará a ser acionada apenas em momentos de escassez. E, no longo prazo, essas mesmas usinas térmicas que hoje queimam gás natural poderão usar combustíveis renováveis. Estamos nos preparando para essa transição há anos, desenvolvendo tecnologias capazes de operar com diferentes combustíveis.
Por fim, poderia compartilhar conosco como estão as expectativas da empresa com o leilão de capacidade e futuros negócios?
O mundo está passando por uma revolução com a inteligência artificial (IA), e essa revolução exige muita energia. Para você ter uma ideia, o mercado enfrenta dificuldades para contratar equipamentos para usinas com início de operação previsto para 2028. Os principais fornecedores, incluindo a própria Wärtsilä, estão atingindo recordes históricos de pedidos. Esse aumento é impulsionado, principalmente, pela demanda nos Estados Unidos, que está enorme e está diretamente relacionada à revolução da IA.
Vários clientes estão se antecipando para garantir equipamentos antes do leilão, então pode ser que tenhamos novidades sobre negócios ainda este ano. Normalmente, os clientes aguardam a assinatura do contrato com o governo. Mas, considerando o atual cenário, acreditamos que alguns clientes vão se antecipar para garantir o fornecimento.
Devemos ter notícias ainda este ano, e estamos muito animados não apenas para projetos novos, mas também para conversões de usinas existentes para gás natural ou biodiesel.
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