SAUDI ARAMCO PROCURA FORNECEDORES BRASILEIROS DE OLHO NO CRESCIMENTO GEOPOLÍTICO DOS GASODUTOS E OLEODUTOS
A gigante do petróleo saudita, Saudi Aramco, aproveitou a realização da Rio Oil & Gas para convidar empresas brasileiras, previamente já selecionadas há mais de três meses por uma empresa especializada aqui do Brasil, com o objetivo entrevistá-las para se tornarem possíveis futuras fornecedoras, focados na excelência e qualidade de cada uma, visando arregimentá-las para os empreendimentos que a empresa faz e fará na Arábia Saudita. Um exemplo do que a empresa fez durante a OTC, nos Estados Unidos. O evento no Brasil foi realizado no Hotel Fairmont, em Copacabana, e também contou com a presença do Presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), Roberto Ardenghy.
O tamanho dos investimentos da companhia saudita oferece oportunidades concretas para fornecedores. Existem demandas que, na maior parte das vezes, não são atendidas na própria Arábia Saudita. São empresas fabricantes, investidores em vários setores-chave de energia, com foco especial em produtos de sustentabilidade e descarbonização; tecnologia para impressão 3D e robótica; aplicações industriais de fabricação de chapas de aço, construção modular e armazenamento de energia; e materiais como não-metálicos, fibra de carbono, pipeline etc. Representantes árabes também participaram do fórum e tiveram a oportunidade de falar com representantes das empresas brasileiras sobre os seus principais projetos de expansão.
O Petronotícias conversou com o Presidente da Liderroll, Paulo Fernandes, convidado para o evento, em função das tecnologias que a empresa domina no setor de pipelines. Fernandes enfatizou a necessidade de permanecer na vanguarda para garantir a sustentabilidade global e apoiar as inovações tecnológicas, especialmente em setores de transporte de gás e petróleo.
– Como o senhor viu esta oportunidade?
– Olha, é interessante observar que é um assunto que venho trazendo para o mercado há muitos anos e, vocês do Petronotícias, são testemunhas. O que mais assusta a todos é o setor de energia. Porém, venho tentando conscientizar as empresas e o próprio Ministério de Minas e Energia que o apagão que irá nos impactar frontalmente será o apagão da mão de obra neste segmento. O que percebi é que os dirigentes árabes da Aramco enxergaram exatamente o que venho falando neste tempo todo e sentiram que este tipo de apagão já irá bater ou já está batendo em sua porta. Só pode. Precisam colocar obras em curso e aumentarem a sua produção, mas falta a qualificação da mão de obra e a capacidade de uma resposta fabril. Em Dubai, é conhecida a chegada de trabalhadores de vários países. São estrangeiros, mas não tem a mesma qualificação exigida para este segmento.
A empresa é gigante, tem dinheiro para os investimentos, mas esbarram no lapso temporal de formação de mão de obra para o que planeja, projeta, fábrica e monta.
– Esse é um cuidado que deve manter o país bem alerta, não?
– Com a falta das obras, a prioridade indo para a China, Singapura, Coréia do Sul, deixam as empresas brasileiras descalças, com o pires na mão e sem ter pessoal para fazer o que é preciso. É um erro não priorizar as nossas empresas. Não criamos dispositivos e barreiras naturais para impedir toda e qualquer evasão e, pior, a perda da nossa memória técnica. Só com investimentos e novas obras é que vamos conseguir praticar, ensinar, formar e desenvolver novas gerações. Isso não é uma brincadeira.
– O Brasil tem mão de obra capaz de encarar esses desafios?
– Nós já perdemos muitos talentos por falta de contratação de obras aqui. E isso em diversos setores. É a chamada fuga da mão de obra. Não preciso nem lembrar as dificuldades que o setor de petróleo e gás passou desde o surgimento da Lava Jato. As obras desapareceram, as pequenas empresas fornecedoras sumiram do mapa, deixaram de existir. A quem interessou isso? Quando pensávamos em botar o nariz para fora d’água, a pandemia chegou e afogou aqueles que estavam sobrevivendo a duras penas. Hoje, estamos vivendo este novo momento, mas de olho para o futuro que nos reserva as eleições de domingo.
– A Liderroll foi convidada para participar deste evento, como foram as conversas?
– Posso dizer que foram surpreendentes e boas. Não sabia que eles tinham tanto conhecimento de nossas atuações. Tanto no Brasil como no exterior. Interessante. Foram perguntas interessantes sobre as nossas capacidades e determinações de nos instalarmos na própria Arábia Saudita porque, pelo visto, ao contrário do Brasil, eles estão dando máxima prioridade para a realização do conteúdo local. Para se ter uma ideia, possuem uma métrica bem elaborada para controlar este volume e contribuição a indústria nacional deles.
– Uma mudança assim tão radical seria bem vinda?
– Apesar de todas as oportunidades, temos que estudar e estudar bem. Quem sabe com um investidor nos apoiando. Tudo será levado em consideração. Os sauditas, claro, estão vendo a importância geopolítica que hoje os gasodutos e oleodutos passaram a ter no mundo. Basta ver o Nord Stream 1 e 2, os gasodutos da Sibéria para a China, os gasodutos no Canadá, na própria China, Rússia, Turcomenistão, Nigéria, Marrocos para Europa etc. Nós estamos acompanhando. Se tiver investidores ligados nesta realidade, poderá ser uma operação bem-sucedida.
Que tiver uma boa malha de dutos interligada ou fechada em anel terá uma mobilidade gigantesca em movimentar grandes volumes e manter todo o país constantemente abastecido fazendo o balanço energético demandado por cada região ou países membros de acordos bilaterais. Infelizmente, e para se ter uma ideia, um país como o Qatar tem 10 vezes mais dutos do que o Brasil e veja a diferença de tamanho entre os dois países.
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