GLOBAL BUSCA NOVOS MERCADOS FORA DO PAÍS PARA INVESTIR EM ENERGIA | Petronotícias




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GLOBAL BUSCA NOVOS MERCADOS FORA DO PAÍS PARA INVESTIR EM ENERGIA

A Global Participações em Energia será uma das empresas que participará do próximo leilão da Aneel, o A-5, em 20 de dezembro, mas corre o risco de não poder levar adiante as suas propostas por falta de gás para a produção de energia. Ao todo, 34 projetos de termelétrica foram apresentados, mas a Petrobrás já afirmou que não terá capacidade de fornecer gás para as novas usinas. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) também deixou o mercado em dúvida nos últimos dias, quando não garantiu a participação de termelétricas no leilão. O Vice-Presidente da Global, Jésus Ferreira, conversou com o repórter Daniel Fraiha e contou que a empresa já estuda investir em outros países, principalmente na África e na América Latina, para se desvencilhar da questão do gás no Brasil.

Quando a Petrobrás decidiu não fornecer gás para novas termelétricas?

Ela decidiu isso agora, para o leilão da Aneel A-5, do dia 20 de dezembro, em função de algumas regras estabelecidas pelo ministério. Ela diz que não tem gás suficiente para fornecer para essas térmicas. Tem para as distribuidoras estaduais, para as térmicas já com contrato e para o uso próprio interno, mas não tem disponibilidade agora para ampliar esse fornecimento.

Mas e as outras operadoras que produzem gás, não podem fornecer ao mercado de geração de energia?

As operadoras das bacias do litoral brasileiro, principalmente da bacia de Campos, vendem sua produção de gás para a Petrobrás, porque só ela tem a condição de transportar esse gás para o litoral e disponibilizá-lo pelo país. A distribuição de gás é concedida pelo estado e a Petrobras é sócia da maior parte destas empresas. É mais fácil e mais barato vender a produção de gás para a Petrobrás do que construir uma estrutura de distribuição.

Quais são os maiores consumidores de gás no país hoje?

A indústria somada à cogeração, o setor automotivo, residencial mais comercial e em seguida a geração elétrica.

Quais as conseqüências que o Brasil deve enfrentar no futuro com a falta de gás para termelétricas?

O sistema elétrico brasileiro tem 85% de sua formação baseado em hidrelétricas. Estas instalações eram concebidas com a formação de lagos, onde se reservam energia em forma de água, mas as novas não têm reservatório, porque com a legislação atual do Ibama, o lago permitido é mínimo. As turbinas agora funcionam direto com o fluxo de água do rio, o que é chamado de usinas a fio d’água. Então na época de vazante, que tiver pouca água, a capacidade de geração será limitada. Belo Monte, por exemplo, tem capacidade de 11.330 MW, e a média de produção estimada é de 4 mil MW. O que quer dizer que na vazante vai gerar menos de mil MW, cerca de 10% da capacidade. Nesse momento em que as hidrelétricas estiverem gerando pouca energia, será preciso um complemento, e a termelétrica é uma energia firme, que não depende da chuva, do vento ou do sol. Então, quando a Petrobrás diz que não tem gás, acende uma luz amarela de como vamos firmar a energia para essas usinas a fio d’água. Podemos ter que gerar energia com óleo. Atualmente as térmicas (nuclear, biomassa, gás e o que é queimado) representam quase 15% da nossa matriz. A eólica representa hoje 0,8%, quase 1%, mas ela é sazonal, depende do vento, então não é o que chamamos de energia firme.

Tem havido aumento da procura pelo mercado livre de energia elétrica? Por quê?

Perto de 30% da energia elétrica comercializada no Brasil hoje é negociada pelo mercado livre. Tem aumentado porque é uma forma de acesso a uma energia mais barata e mais flexível do ponto de vista da sazonalização ao longo do ano. A outra forma de contrato seria no mercado cativo.

Como então funciona o mercado cativo e onde entra a energia eólica nesta equação?

Nos leilões promovidos pela Aneel, as empresas distribuidoras, que têm clientes cativos, compram energia para suprir suas demandas futuras. São as distribuidoras de energia estaduais. Neste mesmo leilão, quem vende energia são os empreendedores, que produzem por meio de termelétricas, hidrelétricas, fazendas eólicas e etc.  O preço da eólica tem caído nos leilões, mas isso se deu por uma questão conjuntural, porque, em primeiro lugar, o dólar estava barato, e em segundo, a Europa e os EUA estavam em crise e reduziram a compra de aerogeradores. Como os fabricantes não tinham clientes, vieram vender aqui. Então é um preço conjuntural. No leilão A-5 não terá gás, apesar de terem 34 projetos de termelétrica, e existem problemas com as licenças ambientais das hidrelétricas. Então vai ser um leilão de vento.

E biomassa?

Biomassa é pouca, e também é sazonal. Tem-se certo controle sobre esta fonte de energia, mas depende da colheita. Não tem quantidade e robustez suficiente para fazer frente à necessidade do país. A única fonte de energia com robustez suficiente é a térmica a gás.

Qual seria a saída se não tem gás e não tem robustez nas outras?

Seria a EPE e o ministério promoverem um leilão separado para termicas a gás, mas com oferta deste energético pela Petrobrás. Existe uma equação que é o custo-beneficio, e o preço hoje de energia elétrica que está nos leilões não é atrativo para a indústria do gás. Então eu não sei até que ponto essa equação hoje está válida. Será que se estivesse no preço normal de mercado, não teria gás? O preço normal seria de 130 a 140 reais o megawatt-hora, e hoje está a 100 reais, então há um descompasso ai. Talvez com o gás ao preço de mercado pudesse haver um estímulo para que a Petrobrás acelerasse a produção de mais fontes. Outra opção é a energia a óleo, que é a mais poluente, mas talvez seja a saída para o Brasil. Imagine que o pré-sal não tenha gás e cause uma frustração. O óleo seria a saída.

A Global está com algum projeto de termelétrica a gás inscrito no próximo leilão da Aneel? Qual?

Estamos com um projeto de termelétrica. Temos hoje 534 MW funcionando em termelétricas. E para esse leilão temos 860 MW de oferta, mas não temos gás. Atualmente temos cinco termelétricas, duas na Bahia, duas no Rio Grande do Norte e uma na Amazônia. Também temos duas pequenas hidrelétricas, em Tocantins. Mas a nossa proposta para esse leilão é de um empreendimento de um bilhão de dólares em investimentos. Seriam duas na Bahia, uma com capacidade de 530 MW e outra de 330 MW.

Quais os projetos atuais da empresa que estão em andamento?

Com a questão do gás no Brasil, estamos começando a ver oportunidades fora do país.  Na América Latina e na África. Países como Peru, Panamá, Costa Rica e Angola. Temos que ser seletivos na escolha destes mercados porque trabalhamos com negócios para 20, 30 anos, com grandes quantidades de recursos envolvidos, de modo que somente vamos a países onde existam condições jurídicas seguras para nosso negócio.

Como foi o início da Global?

A Global como empresa de energia existe desde 2000. Antes era uma empresa de serviços de engenharia com atuação forte nos mercados de energia elétrica, mineração e óleo e gás. Em 2000, entramos na área como investidores de energia.  A parte de engenharia teve seu início na Bahia, mas a de energia teve início no Rio Grande do Norte. Em 2006 entramos no primeiro leilão, em que oferecemos 117 MW, e em 2007 entramos no segundo, quando oferecemos 300 MW. A primeira entrega de termelétrica foi em 2009 e a última em 2010. Os fornecimentos anteriores foram fechados em chamadas públicas, antes dos leilões, que começaram em 2005.

Tem projetos para energias renováveis, além de hidrelétricas?

Temos um projeto de energia solar, mas ainda são projetos incipientes para venda, sem viabilidade de comercialização, mas estamos trabalhando e estudando essa área.

Quais são as energias mais baratas? E por quê?

A energia mais barata ainda é a hidráulica. No último leilão foi a eólica, pelas circunstâncias de crise vividas pela Europa e Estados Unidos, mas a hidráulica é a mais barata e mais abundante no Brasil. Por conta da escala que, com a quantidade maior de fornecimento contratado, dilui mais o investimento.

Tem algum projeto de eólica?

Não, porque quando começou o desenvolvimento da eólica, estivemos mais envolvidos com a térmica, que é o nosso DNA. O problema de competir com a eólica é que existe um incentivo do governo hoje que desequilibra a concorrência com outras fontes. Por isso defendemos que sejam feitos leilões com fontes separadas. Um leilão só de eólica, outro só de térmica. Porque são produtos diferentes. Eólica é uma energia complementar, não é firme.

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