ATMEA APRESENTA TECNOLOGIA PARA SETOR NUCLEAR BRASILEIRO NA EXPECTATIVA DE SER ESCOLHIDA PARA CONSTRUIR NOVAS USINAS | Petronotícias




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ATMEA APRESENTA TECNOLOGIA PARA SETOR NUCLEAR BRASILEIRO NA EXPECTATIVA DE SER ESCOLHIDA PARA CONSTRUIR NOVAS USINAS

Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) – 

Andreas GoebelCriada em 2007, a Atmea é uma joint venture formada entre as gigantes Areva, da França, e Mitsubishi, do Japão, com o intuito de atender ao mercado de reatores nucleares de médio porte, com capacidade de 1.100 MW. Desde então, a empresa vem buscando contratos em diversas partes no mundo para implementar o projeto desenvolvido em conjunto, com inovações principalmente em termos de segurança. O presidente da Atmea, Andreas Goebel, que esteve no Brasil nos últimos dias, conta que um acordo entre o Japão e a Turquia, assinado em abril, vai resultar na primeira usina em operação da companhia, atualmente em fase de estudos de viabilidade, com previsão de início da construção em 2017. Além disso, a empresa espera ser a escolhida para a instalação de outras duas unidades no Vietnã, onde o governo japonês já se comprometeu a ajudar financeiramente o País neste processo. No Brasil, a Atmea começa a se movimentar mais, com a organização de eventos para demonstração da tecnologia à Eletronuclear e à CNEN, e espera que o histórico da Areva ajude a companhia a ser escolhida para a construção das próximas usinas brasileiras. “Esperamos que o Atmea seja o escolhido, até porque ele é uma evolução da família de Angra II e de Angra III”, diz.

Como a Atmea está se posicionando no segmento nuclear?

A Atmea foi criada com a tecnologia da Areva e da Mitsubishi, e traz um projeto de reator revolucionário, que representa um novo passo na escala tecnológica. Uma das suas maiores inovações é a sua capacidade de resistência a eventos excepcionais. Isso é importante porque a energia nuclear depende muito da aceitação pública, então é fundamental estar sempre buscando o estado da arte tecnológico, reduzindo a probabilidade de acidentes. Isso é feito por meio da criação de redundâncias, com sistemas separados que tenham a mesma função, para o caso de um deles falhar. Com este novo  projeto, estamos demonstrando que toda a radioatividade é mantida dentro do reator. Então na pior das hipóteses, mesmo que tudo dê errado, não será necessária a mobilização das pessoas do entorno da usina para outros lugares. Não ocorreria o que houve em Fukushima, por exemplo.

Mesmo que as fontes de energia sejam cortadas?

Sim, em todos os casos. Não haverá radioatividade do lado de fora. E a proteção a efeitos externos ou fenômenos da natureza é fundamental. Nos focamos muito nisso. Esse reator traz evoluções em termos de segurança e de economia, para operar durante 60 anos.

Algum reator deste tipo está sendo desenvolvido na América Latina?

Ainda não. O Japão assinou um acordo com o governo da Turquia para a construção de quatro Atmea. Foi assinado em abril deste ano. Agora temos um período de 18 meses de estudos de viabilidade, em que faremos a avaliação das localizações. A Turquia é um país com possibilidade de abalos sísmicos, então temos que detalhar as análises para adequar o design da planta. Depois faremos uma proposta e esperamos começar a construção em meados de 2017. Essa será nossa unidade de referência.

E qual o tempo previsto para a construção?

O tempo de construção é estimado entre 48 e 56 meses, mas antes existe um período de dois anos e meio para a especificação dos detalhes do projeto em relação ao local onde será instalado, junto ao trabalho de engenharia e todo o resto. Também há um acordo do Japão com o Vietnã, para a discussão da construção de duas usinas.

Já está definida a escolha?

Foi assinado um acordo em que o Japão ficará responsável por apoiar financeiramente a construção das plantas, mas o Vietnã ainda não se decidiu em relação ao tipo de reator que pretende utilizar. Na Turquia, diferentemente, já está decidido que será o Atmea.

E no Brasil, qual a estratégia?

Esperamos que o Atmea seja o escolhido, até porque ele é uma evolução da família de Angra II e de Angra III. É da geração III+, então traz a tecnologia mais inovadora e segura. Além disso, estamos implantando o sistema digital de instrumentação e controle em Angra 3, o que pode trazer aprendizados para projetos seguintes.

Como é a busca por fornecedores locais?

Há cerca de um mês fizemos um dia do fornecedor no Brasil, com o intuito de buscar empresas locais. Também estamos organizando workshops com a Eletronuclear e com a CNEN para explicar o que fizemos no desenvolvimento do Atmea, mostrar como as garantias de segurança avançaram no projeto, entre outros detalhes técnicos. Então é muito importante ter uma discussão aberta com as equipes, para manter a capacitação técnica da engenharia no setor nuclear brasileiro. É preciso dar uma visão às gerações mais jovens de que a energia nuclear tem um futuro no Brasil.

Como?

O primeiro ponto é que a energia nuclear tenha um papel importante na base de geração do Brasil. O anúncio do ministro Braga no dia 8 de abril [na ocasião o ministro disse que serão construídas 12 usinas nucleares no Brasil até 2050] foi muito importante por isso. Esse foi o primeiro passo. Um passo muito importante. Precisa ficar claro que a nuclear faz parte da energia de base do País. Um segundo ponto é a criação de um plano de negócios para atrair financiamento, principalmente internacional. E em terceiro garantir os níveis mais altos de segurança das plantas.

Qual percentual de conteúdo local os reatores da Atmea poderiam ter caso sejam os escolhidos para o Brasil?

Isso dependeria do número de usinas a serem construídas. No passado, a Nuclep teve uma participação importante, com a montagem de geradores de vapor, e não vejo porque isso não poderia ser feito. Mas o mais importante, claro, é a fase das obras civis, que representa uma grande parte das atividades. Essa é uma etapa inicial, que é atendida localmente. Então já no começo há uma grande parte que é local. Ainda há a expertise de Angra 2 e Angra 3 que tivemos, então podemos reutilizar essa experiência, aproveitando a parceria com empresas que nos ajudaram nesse processo antes. Então acho que cerca de 65% a 70% poderiam ser feitos localmente. E pode crescer em novos projetos, se houver um número maior.

Tem tido contato com o governo brasileiro?

Tive no passado, mas não neste momento. Depois do anúncio do ministro, ainda não. Estamos trabalhando nos modelos de negócios para ter uma visão mais clara do caminho que o Brasil vai seguir. 

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