TECNOLOGIA MADURA E AUTOFINANCIAMENTO SÃO TRUNFOS DE ESTATAL CHINESA NA DISPUTA POR PROJETOS NUCLEARES NO BRASIL
Por Bruno Viggiano (bruno@petronoticias.com.br) –
A corrida pela venda de tecnologia nuclear para o Brasil já começou. Desde abril, quando o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, anunciou a construção de quatro novas usinas nucleares até 2030 e outras oito unidades até 2050, o país vem recebendo uma série de representantes da indústria nuclear mundial para seminários e palestras. O objetivo desses representantes é expor sua tecnologia própria para os tomadores de decisão brasileiros. O tempo é curto para que a tecnologia a ser usada seja escolhida, já que o processo de instalação de uma usina nuclear é longo e todos querem esses empreendimentos de pé o quanto antes. Na última semana foi a vez da CNNC, estatal nuclear chinesa responsável pela implantação de novas usinas, realizar um evento para membros da Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan), Indústrias Nucleares do Brasil (INB), Nuclebrás Equipamentos Pesados (Nuclep), Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben) e Eletronuclear. O porta-voz da empresa foi o vice-presidente Ding Jiang, que aproveitou a ocasião para dar um panorama sobre a atividade nuclear na China, desde investimentos na educação para formar novos quadros até a participação, futura e atual, de reatores nucleares na matriz energética nacional. Segundo o executivo, a tecnologia exposta durante o seminário não representa uma revolução na indústria nuclear, mas é uma evolução do que está sendo praticado em todo o mundo, com a garantia de instalação por parte de uma empresa com expertise comprovada no segmento.
Quando a China passou a utilizar de energia nuclear?
Pequim foi a primeira cidade a receber um reator nuclear, ainda na década de 1970, mas era um protótipo, que nem chegou a entrar em operação comercial e tinha capacidade de apenas 300 MW. Somente em 1991 a China ligou seu primeiro reator nuclear para operação comercial. O equipamento tem tecnologia francesa e capacidade de 900 MW.
Além de tecnologia nuclear francesa, quais outras estão presentes na China?
Muito por conta das relações políticas que a China manteve por anos com a Rússia, essa tecnologia está presente na nossa matriz nuclear, mas também temos exemplos em diferentes níveis e localidades de tecnologia canadense, norte americana e francesa, além da nossa própria tecnologia.
Quantas usinas nucleares a China tem operando atualmente?
Ao todo, são 27 reatores espalhados pelo país e outros 24 em instalação. Todos voltados para operação comercial. Ainda temos outros reatores nucleares operando, mas voltados para outros fins, como estudos.
O que o senhor acha do planejamento brasileiro para 15 usinas operando em 2050?
O Brasil tem um potencial hidrológico muito grande e vem explorando isso, com mais de 60% da geração elétrica a partir dessa força. Acredito que, se a energia é estável e a preço acessível, é interessante para o país que mantenha essa força. Entretanto, com as novas leis de proteção ambiental, novas possibilidades devem ser procuradas e a energia nuclear é uma boa alternativa.
Qual a participação nuclear na matriz energética chinesa?
Hoje a geração nuclear é responsável por 2,4% de toda a geração energética da China. Nós estamos trabalhando para aumentar esse número e nossa expectativa é que em 2020 nós dobremos essa participação. Um planejamento mais longo, mas ainda assim possível, prevê uma participação de até 10% em 2050. Esse aumento na participação nuclear visa descarbonizar nossa geração elétrica, colaborando para que o país alcance metas estipuladas para a redução na poluição.
Como é a aceitação pública na China da energia nuclear?
A aceitação pública é diferente da vista em outras partes do mundo, por conta do sistema político nacional. Por muitos anos, o governo central tinha uma força maior que hoje, então, as decisões não eram contestadas, também por conta da população em geral não saber sobre geração nuclear. Hoje, há um trabalho de conscientização, que abre espaços para conhecimento sobre o assunto, mostrando como a tecnologia é segura. Portanto, de modo geral, apenas uma pequena parcela da população chinesa tem algo contra a energia nuclear.
A China investe na formação de novos quadros para a indústria nuclear?
Na China, há uma boa quantidade de universidades que oferecem graduações em torno do setor nuclear. Em várias áreas, desde física nuclear até o lado medicinal do uso de radioisótopos, passando pela questão energética também.
Que tipo de financiamento está sendo oferecido para o Brasil comprar tecnologia nuclear chinesa?
O financiamento oferecido para o Brasil comprar reatores nucleares chineses está alinhado a políticas do governo chinês. Essas políticas apoiam empresas chinesas a se tornarem globais. Para isso, exportar tecnologia e equipamentos é uma prioridade. Os bancos estatais seguem as diretrizes traçadas pelo governo, investindo e financiando a exportação chinesa, com boas condições de financiamento e taxas relativamente baixas.
Qual a vantagem tecnológica oferecida pela China?
Podemos dizer que a tecnologia oferecida não é revolucionária no setor de geração nuclear, no entanto, é uma evolução dentro da tecnologia já existente. Nós da CNNC temos, comprovadamente, grande expertise na fabricação de equipamentos e instalação de plantas nucleares, e estamos oferecendo uma tecnologia madura, com a possibilidade de autofinanciamento.
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