ARGÉLIA CORTA O FLUXO DE GÁS PARA O MARROCOS COM CONSEQUÊNCIAS PARA O ABASTECIMENTO DA ESPANHA

A Argélia parou de fornecer gás por meio de um de seus principais gasodutos que atravessa o Marrocos, uma medida que pode ameaçar a Espanha com a redução do fornecimento ou preços mais altos do gás natural, à medida que o inverno se aproxima e os custos de energia aumentam. A paralisação, que começou segunda-feira (1), é o resultado de uma rivalidade territorial de longa data entre o Marrocos e a Argélia. O objetivo é privar o Marrocos de gás natural, que gera cerca de 10% da eletricidade do país, bem como dezenas de milhões de dólares em taxas de trânsito pagas pelos usuários do gasoduto. Mas também pode ter um forte impacto sobre a Espanha, que importa cerca de metade de seu gás da Argélia. Os espanhóis, como toda a Europa, têm enfrentado dificuldades para aumentar as contas de luz devido ao aumento do preço do gás natural. O governo de Madri teve que tomar medidas emergenciais   para amenizar o impacto sobre os consumidores.

O gasoduto, com capacidade de cerca de 13 bilhões de metros cúbicos por ano, não é a única forma de o gás argelino chegar à Espanha. Um duto submarino menor que liga a Argélia ao sul da Espanha pode transportar cerca de oito bilhões de metros cúbicos por ano, e a Sonatrach, a empresa nacional de energia da Argélia, disse recentemente que espera aumentar sua produção para 10,5 bilhões de metros cúbicos até o final de novembro. A Argélia também está propondo compensar o gás perdido pela Espanha fretando navios-tanque para transportar gás natural liquefeito pelo Mediterrâneo, mesmo com o custo dessas remessas tendo aumentado recentemente.

A ação desta semana pelo governo argelino ocorre após o rompimento das relações diplomáticas com o Marrocos em agosto, em parte para protestar contra os esforços do Marrocos para controlar o Saara Ocidental, um território disputado. Desde então, a Argélia também fechou seu espaço aéreo aos aviões marroquinos. A disputa reacendeu-se no ano passado, quando a Frente Polisario, um grupo separatista do Saara Ocidental apoiado pela Argélia, rompeu um cessar-fogo de longa data com o Marrocos.

No domingo, o governo argelino disse que a Sonatrach encerraria suas atividades comerciais com o Marrocos porque as ações “hostis” daquele país ameaçavam “a unidade nacional” da Argélia. O  Marrocos disse que o corte de gás teria um impacto “insignificante” em sua rede elétrica. O gás argelino é usado  para abastecer duas usinas marroquinas de eletricidade que são parcialmente operadas por empresas espanholas. Após uma reunião de emergência em Argel na semana passada, a ministra do Meio Ambiente e Energia da Espanha Teresa Ribera, disse estar confiante de que a Argélia poderia “garantir que tudo funcione  da maneira mais fluida e melhor possível” para manter o fornecimento de gás fluindo para a Espanha. Alguns analistas alertam que será um desafio para a Argélia aumentar a capacidade do gasoduto submarino ou afretar mais navios de gás natural liquefeito, visto que há escassez de embarcações disponíveis.