AGÊNCIA INTERNACIONAL DE ENERGIA VÊ GRANDES OPORTUNIDADES PARA AMÉRICA LATINA COM MINERAIS CRÍTICOS PARA A TRANSIÇÃO ENERGÉTICA
A América Latina é um produtor estabelecido de vários minerais essenciais para tecnologias de energia limpa, e poderia aproveitar seu setor de mineração bem estabelecido para diversificar em novos minerais e ajudar a economia global a evitar as deficiências e gargalos que poderiam ameaçar as transições de energia limpa. A constatação faz parte de uma nova análise publicada nesta semana pela Agência Internacional de Energia (AIE). A entidade avalia que a região já produz grandes quantidades de lítio, necessário para as baterias, e cobre e sustenta a expansão das energias renováveis e das redes elétricas. Mas a América Latina pode se expandir para uma variedade de outros materiais, como elementos de terras raras, necessários para motores de veículos elétricos e turbinas eólicas, e níquel, um componente-chave em baterias. No entanto, para colher esse potencial, as atividades de mineração devem aderir a altos padrões ambientais, sociais e de governança (ESG) e também buscar maneiras de gerar benefícios tangíveis para as comunidades locais. A análise é assinada Oficial do Programa de Transição de Energia Limpa – América Latina da AIE, Alejandra Bernal (foto), pelo consultor sênior do Global Energy Dialogue, Joerg Husar, e o analista de energia Johan Bracht.
A América Latina responde por 40% da produção mundial de cobre, liderada pelo Chile (27%), Peru (10%) e México (3%). A participação da região nas reservas globais é muito semelhante à sua participação na produção, embora o México e a Colômbia tenham um potencial inexplorado. Os produtores existentes podem aumentar a produção rapidamente, mas podem enfrentar desafios de eficiência a longo prazo devido ao declínio da qualidade do minério nos recursos. A participação da região nas despesas globais de exploração de cobre aumentou de 35% para 45% na última década, indicando o potencial para novos aumentos de produção.
A AIE diz que a região fornece 35% do lítio mundial, liderada pelo Chile (26%) e Argentina (6%), segundo e quarto maiores produtores mundiais, respectivamente. A região detém mais da metade das reservas globais de lítio, localizadas principalmente na Argentina (21%) e no Chile (11%). A Bolívia também possui enormes recursos inexplorados de lítio, quase comparáveis ao tamanho das reservas globais de lítio de hoje, embora a falta de infraestrutura os impeça de serem economicamente viáveis. Além disso, o lítio da região – predominantemente carbonato de lítio da salmoura – produz menos emissões do que a mineração da rocha e pode se beneficiar da crescente adoção de baterias de fosfato de ferro e lítio.
“A América Latina poderia, portanto, ter um papel ainda mais importante a desempenhar no atendimento da crescente demanda global por lítio. Os gastos com exploração de lítio na região mais que dobraram na última década, de US$ 44 milhões em 2010 para US$ 91 milhões em 2021, e há espaço para intensificar ainda mais as atividades, visto que a participação da região nos gastos globais com exploração caiu de 52% para 36% no mesmo período”, disse a agência.
Além do cobre e do lítio, a América Latina tem um potencial significativo na produção de grafite, níquel, manganês e elementos de terras raras. O Brasil sozinho detém cerca de um quinto das reservas globais em cada um desses recursos, mas até hoje produz apenas quantidades pequenas a moderadas, entre 0,2% da produção global de elementos de terras raras e 7% de grafite. A América Latina ainda não atraiu investimentos suficientes de acordo com seu potencial, por exemplo, apenas 7% do orçamento global de exploração de níquel e elementos de terras raras é alocado para a região.
Campanhas de exploração futuras se beneficiariam de pesquisas geológicas nacionais atualizadas, já que as informações geológicas atuais nem sempre cobrem minerais críticos relacionados à energia que ganharam mais atenção nos últimos anos. O serviço geológico do Chile, SERNAGEOMIN, fornece dados geológicos detalhados de código aberto com pontos focais específicos regionais e minerais. “O Brasil estabeleceu uma divisão exclusiva de minerais críticos no departamento de geologia (DIPEME). A divisão emitiu regulamentos reduzindo a carga administrativa para projetos estratégicos de mineração, com foco especial em elementos de lítio e terras raras, considerando também grafite, cobre e cobalto”, acrescentou a AIE.
No entanto, avalia a agência, mais informações por si só não serão suficientes para desencadear o investimento necessário para explorar plenamente esses recursos. “Os governos precisam estabelecer estruturas para atrair mais investimentos em atividades de mineração e processamento, estabelecendo regulamentações claras e criando incentivos, ao mesmo tempo em que garantem a conformidade com os padrões ESG”, finalizou.
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