ALTOS CUSTOS DE IMPORTAÇÃO ESTIMULAM DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIAS NACIONAIS PARA O SETOR DE PETRÓLEO E GÁS
Por Luigi Mazza (luigi@petronoticias.com.br) –
Diante de um mercado em crise, a dificuldade financeira vem marcando o passo de novas mudanças efetivas na indústria brasileira. Ao passo que afeta a viabilidade de muitos projetos, o dólar em patamares elevados também impulsiona hoje a busca por soluções alternativas à importação e vem sendo responsável por um novo estímulo à cadeia tecnológica nacional. O cenário é esse para a Concremat, companhia que tem ampliado projetos em sua divisão de inspeções e agora aposta na fabricação de equipamentos próprios para atuar no setor de óleo e gás. Para otimizar operações e evitar custos de até R$ 500 mil com a aquisição de sistemas fora do país, a empresa desenvolveu a versão nacional de um equipamento para inspeção de tanques de armazenamento, o C-Scan, fabricado com aportes de aproximadamente R$ 60 mil. De acordo com o gerente operacional da Concremat Inspeções e Laboratórios, Fábio Subtil, a tendência é de que os custos caiam ainda mais para o produto, que funciona por meio de ultrassom e vem se mostrando mais competitivo diante dos concorrentes estrangeiros. Além disso, a companhia vem iniciando o desenvolvimento de equipamentos do tipo MFL, projeto que permite a inspeção do fundo de tanques por meio de fluxos magnéticos e que deve ganhar contornos mais concretos ainda este semestre, também com foco na redução de gastos. “Na atual situação, seria praticamente impossível trazer equipamentos de R$ 500 mil de fora do país. Agora, ficou bem mais viável para desenvolver o equipamento internamente.”
Como foi o desenvolvimento do equipamento de inspeção?
O equipamento foi fabricado no Brasil, porque o produto desse tipo não é encontrado para comercialização aqui. Ele só é encontrado fora do país, com poucas empresas, e é muito específico para a inspeção de chapas de tanques de armazenamento de líquidos, principalmente no setor de petróleo. E, além de não existir no Brasil, ele também não conta com manutenção no país, então se acontece algo você precisa recorrer aos técnicos de fora. É muito caro. Baseados nisso, nós tomamos a decisão de desenvolver a tecnologia aqui no Brasil. Demorou um tempo, mas hoje já temos o produto final, e é tão bom quanto os equipamentos de fora.
Qual foi o custo desse projeto?
Sem contar o tempo de desenvolvimento e profissionais envolvidos, o total investido não chegou a R$ 60 mil. Se fôssemos trazer esse equipamento de fora, pagaríamos R$ 500 mil. Mas agora, além de termos aqui, nós mesmos fazemos a manutenção se der problema.
A Concremat desenvolveu apenas a primeira unidade?
Por enquanto, só fizemos uma unidade, e a condição estrutural é boa para ir para campo. Há várias adaptações a serem feitas, e agora vamos partir para a segunda unidade. Desta vez, o custo deve ficar abaixo do valor da primeira.
Como isso deve se converter em economia para as empresas?
O equipamento é usado para determinados serviços, então depende da dificuldade e de onde é feito o projeto. A diária hoje dos sistemas importados está em torno de R$ 3 mil a R$ 4 mil, então o nosso equipamento se paga em um mês de uso.
A empresa pretende comercializar o C-Scan?
Não vamos comercializar o produto. Vamos utilizá-lo apenas para a prestação de nossos serviços. O nosso plano é fazer entre três e quatro unidades, mas, conforme a demanda, podemos fazer quantos forem necessários.
Há alguma nova tecnologia sendo desenvolvida pela Concremat?
Nós estamos na iminência de começar a desenvolver um novo tipo de equipamento. Ele será do tipo MFL, voltado para a inspeção de fundo de tanque, também no setor de óleo e gás. Temos a perspectiva de começar a avançar nesse processo ainda este semestre, mas ainda estamos na fase de estudo da tecnologia.
O modelo é semelhante ao do C-Scan?
O C-Scan foi desenvolvido com tecnologia de ultrassom, mas esse segundo é por magnetismo. O custo do equipamento é semelhante.
Como avalia o papel da tecnologia nacional em meio à atual crise da indústria?
Não sei dizer como isso está sendo tratado por outras empresas, mas, no nosso ponto de vista, essa crise veio a calhar com o desenvolvimento. Na atual situação, seria praticamente impossível trazer equipamentos de R$ 500 mil de fora do país. Agora, ficou bem mais viável para desenvolver o equipamento internamente.
Acha que isso se estende a outras áreas?
Sim, a ideia também é essa para outras tecnologias. Houve certo receio acerca de se conseguiríamos desenvolver o primeiro produto, mas quando ele foi colocado para operar e viu-se que estava tudo certo, acreditou-se mais nesse potencial para o desenvolvimento interno de outros produtos. Nós vencemos a barreira inicial da desconfiança.
A empresa vem desenvolvendo tecnologias em outras áreas?
Nós temos outros desenvolvimentos, não na área de hardware, mas de software. É um produto interno, que gerencia vários relatórios e estatísticas com inspeção de integridade para os clientes. São serviços que nós oferecemos para o mercado de petróleo, e com esse sistema nós damos informações aos clientes pela internet. Eles podem consultar qualquer tipo de relatório, desde que o equipamento seja deles.
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