USO DE TUBULAÇÕES SEM CERTIFICAÇÃO API PODE POR EM RISCO INVESTIMENTO DE R$ 7 BILHÕES EM NOVA FÁBRICA DA BRACELL | Petronotícias




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USO DE TUBULAÇÕES SEM CERTIFICAÇÃO API PODE POR EM RISCO INVESTIMENTO DE R$ 7 BILHÕES EM NOVA FÁBRICA DA BRACELL

CVPor negligência, má fé, incompetência e até por corrupção, o Brasil já experimentou tragédias que com um breve toque de atenção, competência ou honestidade, poderiam ser evitadas. As recentes tragédias ambientais de Mariana e Brumadinho, em Minas, da Hydro Alunorte, em Barcarena, a 50 quilômetros de Belém, no Pará, e a explosão do Mineroduto Minas-Rio ainda não foram suficientes para as empresas que usam tubulações em sua infraestrutura abrirem os próprios olhos. Nesse momento, a Bracell, que pertence ao Grupo RGE, de Cingapura, está expandindo sua fábrica de celulose solúvel em Lençóis Paulista (SP),  com a engenharia sendo realizada pela Poyry. É um projeto bilionário. O custo desta construção vai girar em torno de R$ 7 bilhões. Mas um projeto como esse não pode banir a segurança em nome de economia a qualquer custo. E é o que parece estar acontecendo nas especificações e compras de tubos. Pelo grau de risco da obra, as normas técnicas exigem que as tubulações usadas sejam com certificação do American Petroleum Institute (API). Esta certificação garante a qualidade da tubulação para aplicações em projetos onde a segurança precisa toda atenção para se evitar acidentes.

ACIDENTE EM MARIANA-MG

ACIDENTE EM MARIANA-MG

Para se obter esta certificação específica, os tubos precisam passar por testes severos antes de serem aprovados, como 100% de teste hidrostático; 100% de Raio X e 100% de ultrassom. Até onde se sabe, a Bracell está comprando e recebendo tubos “conforme as normas API”. Na verdade, um sofisma. “Conforme Normas” não significa a garantia da certificação API.  Claramente os tubos que estão sendo fornecidos não possuem a qualificação API, norma internacional que garante a qualidade do aço e da solda. Pelo andar da carruagem, não precisa ser vidente para saber que no futuro o país poderá viver novos dramas ambientais com consequências imprevisíveis.

Para lembrar, já caminhamos para quatro anos do maior desastre ambiental do Brasil, em Mariana, em Minas Gerais, e quase um ano da repetição da tragédia em Brumadinho, que deixou quase 300 mortos.  Daqui a dois meses, em fevereiro, será o segundo aniversário do caso de contaminação por rejeitos de minério numa obra da gigante norueguesa, Hydro Alunorte, em Barcarena, no Pará, que contaminou o Rio Murucupi com metais pesados como chumbo, arsênio e mercúrio. Os rejeitos ficaram acumulados em grandes bacias de sedimentos. Após dois dias de chuva, na época, que, quando operadas acima da capacidade, transbordam. Após partes de Barcarena ficarem submersas em uma água de cor avermelhada, a mesma da bauxita beneficiada pela Hydro, catorze bairros e mais de 30 mil famílias foram atingidas. Os rios Pará e São Francisco também receberam rejeitos. Parte das medidas de recuperação delegadas à empresa não vem sendo cumpridas até hoje, segundo moradores, que relatam crescimento da ocorrência de doenças de pele, principalmente em crianças, que passaram a apresentar coceira e feridas. O nível de alumínio chegou a 36 vezes acima do normal. A quantidade de chumbo ultrapassou a permitida pela legislação, assim como o cromo, o arsênio e o mercúrio.

ACIDENTE EM BRUMADINHO-MG

ACIDENTE EM BRUMADINHO-MG

Outro caso de possível falsificação que sacudiu o mercado de óleo e gás foi o episódio envolvendo o fornecimento de tubos para uma usina térmica da Petrobrás em Cubatão, em outubro de 2008, sob a responsabilidade do consórcio Skanska-Camargo Corrêa. A descoberta dos tubos falsificados levantou dúvidas sobre a eficiência dos sistemas de fiscalização e controle da Petrobrás naquela época. O tema preocupou os fabricantes e distribuidores de tubos de aço, pois se relaciona diretamente com a segurança operacional de instalações como gasodutos, refinarias e termelétricas. Na época, um gerente comercial da Marubeni-Itochui Steel Brasil, identificou o material falsificado em Jacareí (SP) e comunicou à diretoria da Petrobrás. Outros episódios sobre adulteração de tubos no mercado brasileiro já foram registrados no passado.

O Petronotícias teve o cuidado de procurar a Bracell para saber a opinião da empresa sobre a gravidade desta situação. A Bracell é uma das maiores produtoras mundiais de celulose solúvel e celulose especial no mundo, com duas operações principais no Brasil em Camaçari, na Bahia, e em Lençóis Paulista, em São Paulo. Quando a expansão em São Paulo, conhecida como Projeto Star for concluída em 2021, a Bracell terá capacidade de produção anual de aproximadamente 2 milhões de toneladas de celulose. A resposta que recebemos teve um toque de arrogância quase do tamanho da empresa. Não esclareceu as dúvidas levantadas e ignorou os riscos e os perigos reais do uso de uma tubulação falsa, sem certificação prevista, apesar das repetidas tragédias humanas vividas pelo Brasil nos últimos cinco anos. Na verdade é um atestado da companhia assumindo todos os riscos que possam haver no futuro. Veja a resposta da Bracell:

ACIDENTE EM BARCARENA-PA

ACIDENTE EM BARCARENA-PA

“A Bracell não comenta especificidades dos serviços prestados por fornecedores ou parceiros terceirizados, mas ressalta que viabiliza estas operações por meio de contratos formais. Além disso, a companhia possui mecanismos internos que garantem a qualidade e a segurança de materiais e insumos utilizados nas obras de expansão”.

Diante desse panorama, só resta a fiscalização de todos órgãos de controle brasileiros, desde a Agência Mineradora, até o IBAMA, passando pelo crivo do Ministério Público de São Paulo e por todas as entidades que lutam para que tragédias como a Brumadinho, Mariana e Barcarena não se repita. A omissão deles certamente será cobrada num  possível incidente nas instalações da Bracell provocada pela explosão de uma tubulação sem qualidade.

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