CELSO CUNHA ASSUME COMO VICE-PRESIDENTE DO FÓRUM DAS ASSOCIAÇÕES DO SETOR ELÉTRICO PARA FRISAR O PAPEL DA NUCLEAR

Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –

celsoA fonte nuclear tem recebido mais holofotes nos últimos meses, especialmente após a decisão de alguns países de acelerarem a construção de novos reatores. No Brasil, o Plano Decenal de Energia 2031 confirmou a indicação da construção de uma nova usina de 1 GW no Sudeste na próxima década. Como a fonte tende a ganhar mais importância no país ao longo dos anos vindouros, as principais instâncias de debates do setor elétrico também estão olhando com mais atenção para essa forma de geração. Esse movimento foi concretizado recentemente no Fórum das Associações do Setor Elétrico (FASE), grupo que é formado por 27 entidades da indústria de energia do Brasil. O novo vice-presidente da instituição é Celso Cunha, presidente da Associação Brasileira para Desenvolvimentos das Atividades Nucleares (ABDAN). Em entrevista ao Petronotícias, ele explica que seu papel no FASE será frisar a importância que a geração nuclear terá no setor elétrico brasileiro daqui em diante. “As metas climáticas e ambientais com as quais o Brasil se comprometeu são impossíveis de serem cumpridas se a energia nuclear não participar mais da nossa matriz”, opinou. “A nossa ideia é debater todas essas questões com as demais associações e ressaltar o papel que a energia nuclear pode jogar”, concluiu o executivo. Cunha também comentou sobre outros temas relevantes que devem ser tratados no fórum ao longo do ano, como os reservatórios das hidrelétricas e a revisão de subsídios a determinadas fontes.

Como é o funcionamento do fórum?

angraO FASE é formado por um grupo de 27 associações, todas atuantes no setor elétrico. O presidente do fórum é o Mário Menel, presidente da Associação Brasileira de Investidores em Autoprodução de Energia (ABIAPE). É um grupo formado por nomes extremamente importantes. São pessoas com muita influência no setor de energia do país. O FASE discute todas as questões do setor elétrico brasileiro, desde os problemas de reservatórios, volume de água, propostas de estratégias ao governo, estratégias para o planejamento energético, discussões sobre a participação de  cada fonte na matriz energética, problemas de obras que estão paradas por questão de licenciamento, entre outros pontos. 

Os membros do FASE se reúnem uma vez por mês e o fórum conta com vários comitês. Esses comitês, como um todo, fazem uma série de trabalhos junto ao legislativo, discutindo legislações e fazendo proposições. Para nós, será um prazer poder contribuir com o presidente Menel, que é uma pessoa extremamente reconhecida pelo setor de energia.

Agora que o senhor foi escolhido como um dos vice-presidentes do fórum, como será sua contribuição para o FASE?

O primeiro passo será ajudar o fórum a entender mais essa fonte nuclear, destacando as vantagens, eventuais desvantagens e as novas tecnologias – como os pequenos reatores modulares. São tecnologias e temas extremamente importantes. A nossa ideia é debater todas essas questões com as demais associações e ressaltar o papel que a energia nuclear pode jogar. Isso levando em conta esse momento de pós-COP26. As metas climáticas e ambientais com as quais o Brasil se comprometeu são impossíveis de serem cumpridas se a energia nuclear não participar mais da nossa matriz. 

Tendo em vista a situação atual do setor elétrico, quais devem ser as principais pautas discutidas no fórum neste ano?

angra 2Algumas das pautas importantíssimas serão a questão da tarifa, impostos e subsídios a fontes específicas. Precisamos discutir tudo isso. Além disso, o gás natural está impactando profundamente o preço da energia e vai continuar impactando por muitos anos. Precisamos reverter o impacto do gás na matriz energética brasileira, pois isso está puxando os preços da tarifa para cima.

Outro ponto de interesse, claro, é a recuperação dos reservatórios das nossas hidrelétricas. O Brasil dispõe da maior bateria do mundo – os reservatórios de água. Porém, é preciso reabastecer essas baterias e recompor esses reservatórios. Para isso, precisamos de uma política que vá ao encontro dessa diretriz. Acho que essas são questões extremamente importantes e eu estarei ali apoiando o presidente Menel e demais membros do fórum durante o debate desses tópicos.

Outras associações do setor elétrico também têm levantado a bandeira de que chegou a hora de rever isenções fiscais concedidas a algumas fontes. Qual sua visão sobre isso?

Eu acho que as subvenções já cumpriram seu papel, que era apoiar a entrada de determinadas fontes no Brasil. Agora, já não há mais necessidade disso. Na realidade, o que nós precisamos hoje são de fábricas para produzir equipamentos e reduzir a importação de componentes. É algo similar ao que acontece com o gás natural. Uma parcela de 80% do nosso gás é importado, mesmo que o Brasil possua reservas monstruosas desse energético.

Então, não adianta avançar com uma política de consumo de gás natural com essa dependência de importações. Porque até o Brasil extrair esse gás dos nossos poços, ter dutos e a estrutura necessária para trazer esse insumo para o país, serão necessários muitos investimentos e tempo. Então, não adianta avançar com volume de gás a ser utilizado pela matriz. Acho que o Brasil deveria rever isso. 

E qual o caminho para reverter esse quadro?

hidrelétricaTudo é a longo prazo. Não existe nada a curto prazo. A decisão de reduzir as importações de gás não é da noite para o dia. Você não pode parar com o processo do gás sem antes levar adiante um processo de substituição. Esse processo de substituição, por sua vez, deve ser pautado no investimento em hidrelétricas e na fonte nuclear, porque são fontes de base. Não podemos comparar as fontes intermitentes com as fontes de base. Se o gás está tão caro assim, o caminho é investir mais em hidrelétricas e nuclear.

Se o país decidir construir novas nucleares – principalmente na região Sudeste, onde estão o centro de carga e boa parte dos reservatórios – isso ajudaria muito, pois reduz o volume de transmissão de energia de uma região para outra. Tudo isso é uma discussão entre muitos atores. Isso não é a opinião de um só ator. Por isso, o FASE será um local ideal para esse debate entre todos os setores da indústria de energia elétrica do Brasil.

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