CRISE ECONÔMICA NA ARGENTINA IMPEDE O PAÍS DE EXPLORAR A MAIOR USINA DE GÁS DE XISTO, NO SUL DA PATAGÔNIA

A Argentina, que possui uma das maiores jazidas de hidrocarbonetos não convencionais do mundo, foi forçada a importar gás por 6,6 bilhões de dólares até agora este ano. A principal razão desse paradoxo, que agravou a instabilidade da economia do país sul-americano, é a falta de infraestrutura de transporte. O presidente Alberto Fernández assinou os atrasados contratos para a construção, por mais de dois bilhões de dólares a serem financiados pelo Estado, de um moderno gasoduto destinado a preencher esse vazio. O objetivo é levar grande parte do gás natural produzido em Vaca Muerta para a capital, Buenos Aires, que abriga quase um terço dos 47 milhões de habitantes deste país do Cone Sul.

É uma formação geológica com abundância de gás de xisto e petróleo, localizada na região sul da Patagônia, a mais de 1.000 quilômetros de Buenos Aires. O nome Vaca Muerta esteve na boca dos recentes presidentes argentinos como símbolo do futuro melhor que espera um país cuja economia sofre de uma crônica falta de divisas e uma moeda local enfraquecida, resultando em uma taxa de pobreza de cerca de 40 % da população. Vaca Muerta tem reservas de 308 trilhões de pés cúbicos de gás e 16,2 bilhões de barris de petróleo, segundo dados da EIA, confirmados pela estatal argentina YPF.

Para Salvador Gil (foto à direita), diretor do programa de Engenharia de Energia da pública Universidade Nacional de San Martin,  “Com Vaca Muerta, a Argentina tem potencial não só para alcançar a autossuficiência energética, mas também para exportar. Estamos perdendo uma grande oportunidade.” Gil disse ainda que a Argentina pode desempenhar um papel importante, dada a crise de aumento dos preços da energia impulsionada pela guerra na Ucrânia, que ameaça se prolongar. Mas, para isso, precisa resolver não apenas seus problemas de transporte, mas também os desequilíbrios da economia, que há anos impedem a entrada de grandes investimentos no país: “Hoje, o que o mundo precisa é de segurança energética e a Argentina tem gás, que foi identificado como o principal combustível necessário para o período de transição para energias limpas, no contexto da luta contra as mudanças climáticas”.