CYCLOBRAS FECHA PARCERIA PARA LEVAR NOVOS RADIOFÁRMACOS PARA O NORDESTE
O Nordeste ganhará um novo impulso no setor de medicina nuclear nos próximos dias. Tudo isso graças a uma parceria firmada recentemente entre as empresas Cyclobras, de Campinas (SP), e Delfin Fármarcos, de Salvador (BA). Com o acerto entre as partes, a Cyclobras assumirá a gestão da planta da Delfin, abastecendo o Nordeste com radiofármacos já conhecidos no mercado, além de ter a meta de levar novas moléculas para uso no combate e rastreamento das patologias de câncer de mama, próstata e da doença de Alzheimer. “Esse é um dos nossos objetivos. A planta de Salvador é altamente sofisticada. O investimento que foi feito pelo Dr. Delfim na questão tecnológica foi incrível”, afirmou o CEO da Cyclobras, Josino Garcia. “Essa consolidação de negócios entre Cyclobras e a Delfim será definitivamente um marco no crescimento da medicina nuclear no Nordeste”, acrescentou. Garcia afirmou ainda que a ideia é começar a produção na planta da Delfin no dia 17 ou 24 deste mês.
No que consiste essa nova parceria com a Delfin Fármacos?
Essa parceria surgiu a partir do problema que tivemos com a questão da malha aérea, logo no início da pandemia. No começo da crise da Covid-19, o número de voos no país caiu de 900 para 70. O Nordeste ficou completamente desabastecido. A planta de Salvador, que se chama Delfin Biofármacos, estava sem atividade fabril. Então, com essa queda da malha aérea, o problema veio à tona. O pouco que a região recebia de São Paulo, do Rio de Janeiro e de Brasília, deixou de receber. Então, diversos agentes do mercado se empenharam para buscar alternativas de voos.
No caso da Cyclobras, fomos felizes porque estamos ao lado da Azul em Campinas. A Azul não operava com transporte de produto radioativo. Mas por uma questão de necessidade de caixa, abriu a possibilidade de fazer transporte de produto radioativo. Então, imediatamente nos consolidamos com a Azul e começamos a abastecer o Nordeste. Vimos que era um bom mercado e que havia uma planta parada, da Delfin, que fazia a mesma coisa que fazemos em Campinas.
Conversamos com o dono da planta, que se chama Dr. Delfin Gonzalez, e fizemos uma proposta comercial de parceria. Nós aportamos o conhecimento técnico e conhecimento de mercado para fechar essa parceria. Essa acordo consiste em uma sociedade que foi feita entre a Cyclobras e a Delfin. Eu assumi a responsabilidade de gestão da planta da Delfin em Salvador.
O Nordeste é uma das regiões do país com número reduzido de serviços e procedimento de medicina nuclear em relação ao Sudeste/Sul. Essa parceria pode ser o primeiro passo para ajudar a mudar esse cenário?
Não tenho a menor dúvida disso. Esse é um dos nossos objetivos. A planta de Salvador é altamente sofisticada. O investimento que foi feito pelo Dr. Delfin na questão tecnológica foi incrível. É uma planta totalmente automatizada. O investimento chega a exceder a necessidade do mercado. Uma planta como essa da Delfin tem capacidade de produzir 150 doses de FDG [radiofármaco]. Hoje, ela está restrita a 60 doses. A planta tem uma capacidade absurda de abraçar o crescimento potencial no Nordeste.
Na Bahia, existem cinco PETs instalados em Salvador. Mas existem outros municípios que são grandes, possuem capacidade de ter um PET, mas ainda não têm. Está tudo concentrado em Salvador. A estrutura da Delfin teria capacidade tranquilamente de abastecer esse crescimento. Essa consolidação de negócios entre Cyclobras e a Delfin será definitivamente um marco no crescimento da medicina nuclear no Nordeste.
A Cyclobras tem um cíclotron perto do aeroporto de Viracopos e está próxima da companhia aérea Azul, que tem uma capilaridade bastante forte no Nordeste. Assim, em uma eventual dificuldade da planta de Salvador, nós podemos abastecer o Nordeste. A parceria é a garantia que o abastecimento será constante e de forma coerente e concisa. E a recíproca é verdadeira também. Em uma situação de eventual dificuldade em São Paulo, a planta da Delfim terá condições de nos suportar.
A entrada em produção dessa planta em Salvador será importante para o crescimento da medicina nuclear no Nordeste?
Essa planta é fundamental. Estive conversando recentemente com a GE, que tem muitas prospecções e negócios em andamento no Nordeste. Contudo, eles param na limitação de que não tem quem os abasteça, apesar do interesse deles em investir na instalação de um PET [equipamento utilizado para produzir imagens médicas de alta precisão].
Uma boa parte do crescimento da medicina nuclear no Nordeste está relacionada à capacidade de alguém produzir o radioisótopo na região. Se você não tem essa produção, você não consegue instalar um serviço de medicina nuclear nos estados nordestinos.
Que tipo de benefícios serão sentidos pelos pacientes do Nordeste a partir dessa parceria?
O maior beneficiado dessa história, com certeza, será o paciente final. Fora essa questão do benefício direto, há ainda o benefício de trazer também outras moléculas que estão chegando ao mercado. Por exemplo, o PSMA Flúor 18 é uma das primeiras moléculas que devem surgir no final de agosto ou em setembro, já indo para o mercado de São Paulo. Estamos dependendo de uma resolução da Anvisa.
Já trabalhamos com essa molécula em projetos de pesquisa clínica com a Unicamp. Já fizemos testes e vimos os resultados efetivos. É incomparável quando comparamos com PSMA via Gálio. O que eu quero dizer é que isso já é uma realidade em São Paulo. Quando isso isso sair em São Paulo, no dia seguinte já estará disponível na Bahia. Esse é o benefício que levaremos para o Nordeste. Essa capacidade de replicar rapidamente as coisas que acontecem em São Paulo no Nordeste é um grande benefício para o paciente.
A ideia é levar também novos radiofármacos para o mercado nordestino?
No final de julho, a Anvisa fez uma apresentação via web para discutir a consulta pública 703. Essa consulta pública foi iniciada neste ano para ouvir o mercado e será em uma RDC [resolução]. A estimativa que eles nos deram é que essa RDC saia até o começo de setembro. Essa resolução traz uma novidade muito importante para todos os laboratórios produtores de radioisótopos: ela cria um conceito de capacidade desses laboratórios, baseada em alguns princípios, dá autonomia para produzir determinados radioisótopos. Dentre eles, os que servem para diagnóstico de câncer de mama, próstata e da doença de Alzheimer, entre outros.
Com essa flexibilização da Anvisa a partir de setembro destes registros, nós poderemos automaticamente comercializar esses produtos em qualquer lugar do país. Isso vai trazer um grande benefício para o Nordeste. Tudo o que eu fizermos no Sudeste, vamos replicar para o Nordeste também. O ganho será imediato.
Quando a produção deve começar no Nordeste?
Nós recebemos na última semana a autorização de funcionamento da CNEN [Comissão Nacional de Energia Nuclear]. O documento tem prazo de dois anos, valendo até 2022. Do ponto de vista da CNEN, estamos tranquilos para poder trabalhar. Estamos fazendo apenas os ajustes finais e trabalhando com duas datas para começar a produção: dia 17 de agosto ou 24 de agosto.
Deixe seu comentário