ELETROBRÁS QUER MELHORAR IMAGEM DA ENERGIA NUCLEAR JUNTO AO POVO BRASILEIRO

Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) – 

A Eletrobrás Eletronuclear quer facilitar a comunicação com o público e melhorar a imagem da energia nuclear no Brasil. A empresa já realizou pesquisas para avaliar a aceitação do público em relação à fonte energética, e a indicação foi de aprovação maior por parte das pessoas que vivem perto das usinas, enquanto o índice de aceitação cai à medida que a distância da central nuclear se torna maior. Uma das medidas para lidar com a situação foi a criação do manual “Comunicação com o público em uma emergência nuclear ou radiológica”, lançado pela empresa no final de abril. A Abdan, que congrega as empresas de energia nuclear no Brasil, também está empenhada neste trabalho e está programando um curso específico para jornalistas nos próximos meses, com o intuito de aprimorar as informações sobre energia nuclear levadas ao público. O coordenador de responsabilidade socioambiental e comunicação da Eletronuclear, Paulo Gonçalves, contou que a verba da empresa para este fim é limitada, mas estão empenhados no assunto. Gonçalves destacou que o problema vem de longa data, influenciado pelos acidentes nucleares que já ocorreram no mundo, mas afirma que a transparência é um fator importante para superar este quadro.

Como a Eletronuclear vê a percepção do público hoje no Brasil em relação à energia nuclear?

Hoje temos uma pesquisa que aponta uma grande aceitação principalmente nas áreas do entorno das usinas. Essa aceitação decresce quando se tratam de áreas mais distantes. Porque o mundo toma mais conhecimento da energia nuclear através das grandes catástrofes, então associa normalmente a radioatividade a estes problemas. Já a percepção da população de Angra [onde ficam as usinas nucleares brasileiras] é diferente. Eles convivem ali diariamente, as famílias e as crianças estão ali, então a opinião deles é bem favorável.

Quando houve o acidente de Fukushima, a imagem da energia nuclear sofreu um novo abalo, que deve ter sido sentido por vocês. Como que foi essa reação e qual a estratégia de vocês para superar isso?

A primeira coisa foi o estudo dos problemas que ocorreram em Fukushima. Em todos os sentidos, inclusive de comunicação. Depois, tecnicamente, estudar que tipo de modificação a gente podia fazer na usina em função do acidente de Fukushima. Temos alimentação externa, existe uma linha entre a usina termelétrica de Santa Cruz e a de Angra dos Reis, porque se a gente precisar de energia externa, Santa Cruz entra. E estamos estudando várias outras formas de, a cada usina, interligar os sistemas de cada uma.

Como assim?

Hoje, se uma usina é desligada, ela necessita de energia elétrica para refrigerar a água que está em volta dos elementos combustíveis do reator. Para isso, existem quatro geradores de emergência a diesel em cada usina. Quatro para Angra I e quatro para Angra II. Em Fukushima, os tanques de diesel ficavam acima do nível do solo, então o primeiro problema gerado com o tsunami foi a derrubada dessas torres, o que cortou a alimentação externa de energia para a refrigeração do reator. Aqui no Brasil, todas as torres de diesel são subterrâneas, então não teríamos esse problema. Além disso, interligamos os quatro motores de Angra I a Angra II, e vice-versa, para o caso de algum problema afetar uma delas. E a mesma coisa será feita com Angra III.

E em relação à comunicação?

Vimos também que a evacuação foi toda feita a pé. As estradas estavam danificadas pelo terremoto, que junto com o tsunami foi o problema maior, então as pessoas caminharam cerca de 12 km para evacuar a área. Então hoje passamos a considerar isso. Às vezes estudamos um meio extremamente sofisticado e a solução pode ser muito mais simples. Levar essas informações à população é muito importante.

Você acha que o acidente afetou a visão que o povo brasileiro tem da energia nuclear? Como estão tentando reverter isso?

Abordando direto. Mostrando as diferenças. Nunca fugimos do assunto. Transporte Fukushima para Angra. Ela é cinco ou seis metros acima da usina de Fukushima. Em Angra já temos uma barreira contra o tsunami, de cinco metros, que removeria bastante o impacto no caso de uma tsunami. Além do que, o risco de um desastre natural deste tipo no Brasil é quase nulo. Então esse tipo de abordagem é que temos que explicar ao povo brasileiro.

E como estão levando isso ao povo?

Temos uma verba de comunicação muito pequena. Mas sempre que somos convidados para palestras e seminários informamos isso. Temos também um grande trabalho parlamentar. Fazemos questão que os parlamentares visitem as nossas usinas, que ouçam as nossas palestras, para podermos mostrar as diferenças. É uma coisa muito difícil. Você vê que as pessoas lembram de Fukushima muito mais pelo problema da usina do que pelo tsunami. Sendo que morreram milhares de pessoas em função do terremoto e do tsunami, e na usina morreram três pessoas, nenhuma por causa de acidente nuclear, mas pelo acidente da planta industrial.

Como lidar com isso?

Nosso objetivo é ajudar a aparelhar a defesa civil, para casos de catástrofe. A comunicação tem que se preocupar com tudo que está em volta, é uma mentalidade, uma educação. Tudo está calcado na educação. E, dentro do nosso projeto, temos o projeto educacional. Desde pequenas, as crianças do entorno da Central nuclear já recebem essas informações. 

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Não vejo problemas nas Usinas Nucleares, ambientalmente falando, acredito que uma hidrelétrica como Belo Monte causa uma ferida muito grande ao meio ambiente. Com os novos Reatores os resíduos são muito reduzidos e de fácil armazenagem. A dificuldade maior está no preço de sua construção, não de sua manutenção. O Brasil tem uma politica muito tímida na área Nuclear. Todo equipamento de primeira geração na medicina tem tecnologia nuclear. Alias a tecnologia nuclear está em todos os seguimentos de grande avanço do planeta. Não só sou a favor das Usinas Nucleares, como acredito que deveríamos investir mais e construir umas… Read more »