EM ENTREVISTA EXCLUSIVA, JEAN PAUL PRATES FALA SOBRE OS 70 ANOS DA PETROBRÁS, CONTEÚDO LOCAL E TRANSIÇÃO ENERGÉTICA

Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) – 

jean-paul-pratesHoje, 3 de outubro, dia em que a Petrobrás completa seu aniversário de 70 anos, o Petronotícias abre o noticiário com uma entrevista especial e exclusiva com o presidente da companhia, Jean Paul Prates. No comando da empresa há pouco mais de oito meses, ele tem conduzido uma verdadeira guinada nos rumos da maior e mais importante companhia do país. Historicamente, a Petrobrás sempre carregou em suas mãos a função de indutora do desenvolvimento nacional, contratando e fazendo negócios com a cadeia fornecedora brasileira. “A Petrobrás reconhece a importância de uma política de conteúdo local. Não é uma questão ideológica, parte da lógica empresarial a ideia que qualquer empresa precisa de uma cadeia de suprimentos resiliente”, disse. Prates também falou sobre o papel da petroleira na jornada mundial da descarbonização da economia. “Estamos comprometidos em liderar a transição energética no país, de forma justa, segura e inclusiva, impulsionada por parcerias que estamos construindo com empresas de excelência técnica e pela descarbonização crescente das nossas operações”, afirmou. O entrevistado acrescentou que a Petrobrás deve intensificar sua atuação nas atividades de biorrefino nos próximos anos, ao mesmo tempo em que avança em energia eólica offshore, hidrogênio e captura de carbono. Por fim, Prates comentou ainda sobre novas parcerias, contratação de novos funcionários e defendeu que a Petrobrás deve ser uma companhia integrada. “Para ser uma empresa diversificada e integrada de energia, também precisamos direcionar nossa energia para liderar uma nova jornada: a da transição energética justa. Esse investimento no hoje é o que nos possibilita pensar no amanhã, garantindo a energia que o Brasil precisa”, concluiu.

Presidente, para começar nossa entrevista, gostaria de propor uma reflexão sobre o papel socioeconômico da empresa no Brasil. De fato, os brasileiros poderão esperar que a Petrobrás assumirá novamente o seu papel de indutora do desenvolvimento nacional? Isso implicará em maior contratação da cadeia brasileira de fornecedores?

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A Petrobrás reconhece a importância de uma política de conteúdo local”, afirma Jean Paul Prates

A história da Petrobrás se mistura com a do desenvolvimento da nossa indústria e com a de cada fornecedor. O dia a dia da nossa operação e o desenvolvimento tecnológico são feitos com parcerias estratégicas, de longo prazo e da dedicação do nosso mercado fornecedor. Reconhecer os fornecedores é de suma importância para o engajamento do mercado frente aos desafios crescentes no supply chain. Perseguimos de forma incessante contratações com foco em qualidade por meio de alinhamento de incentivos e estreitamento do relacionamento com nossa base de fornecedores.

A Petrobrás reconhece a importância de uma política de conteúdo local. Não é uma questão ideológica, parte da lógica empresarial a ideia que qualquer empresa precisa de uma cadeia de suprimentos resiliente, com boa qualidade e bons preços, ambos fatores afetados pela logística. Então, é natural e esperado e correto que a gente tenha uma política de conteúdo local, seja para desenvolver temporariamente uma indústria, seja para estabelecer uma proteção para aquelas atividades econômicas que são importantes na geração de emprego e na geração de riqueza para um país. É um bom negócio para o Brasil e para o povo brasileiro, e é um excelente negócio para a Petrobrás.

Sobre financiamento dos fornecedores, a Petrobrás anunciou recentemente a entrada da Caixa Econômica no Progredir, iniciativa da Petrobrás de suporte à cadeia de fornecedores do setor de óleo e gás. A Caixa, que atuava desde abril no programa de forma experimental, espera efetivar, por ano, R$ 1 bilhão em negócios, oferecendo taxas 30% menores. Além disso, o banco se estrutura para ingressar, em 2024, no Mais Valor, outro programa da Petrobrás de fomento à cadeia de fornecedores, com a expectativa de financiar, por ano, até R$ 5 bilhões.

A Petrobrás chega aos 70 anos sendo uma das maiores empresas da indústria offshore mundial. Contudo, a transição energética é uma realidade que se impõe. Em seu primeiro discurso como presidente, o senhor disse que a Petrobrás deve assumir um papel de “impulsionadora da transição energética”. Qual será o caminho que a Petrobrás trilhará para assumir esse papel?

Petrobrás chega aos 70 anos como líder na exploração em águas profundas e ultraprofundas

Petrobrás chega aos 70 anos como líder na exploração e produção  em águas profundas e ultraprofundas, mas de olho em investimentos em renováveis

Estamos comprometidos em liderar a transição energética no país, de forma justa, segura e inclusiva, impulsionada por parcerias que estamos construindo com empresas de excelência técnica e pela descarbonização crescente das nossas operações. Já estamos alcançando resultados concretos, como a neutralização das emissões do escopo 2. Mas esse é apenas o início de uma jornada cheia de desafios, que nos levará cada vez mais longe em prol do país e da sociedade. Não estamos sozinhos nessa, é uma tarefa global.

Os elementos estratégicos do PE 2024-28 que já foram divulgados visam preparar a Petrobrás para um futuro mais sustentável, na busca por uma transição energética justa e segura no país, conciliando o foco atual em óleo e gás com a busca pela diversificação de portfólio em negócios de baixo carbono. Vamos anunciar no final deste ano o PE 2024-2028 com o que acreditamos ser um avanço em direção a novas oportunidades de negócios sustentáveis, a partir das potencialidades do nosso país.

Sobre a descarbonização das nossas atividades atuais, importante lembrar que entre 2015 e 2022, a Petrobrás conseguiu reduzir em 39% suas emissões absolutas operacionais de gases de efeito estufa, com aumento da eficiência em emissões em todos os segmentos onde atua. Esta redução, alinhada com a ambição de zerar emissões absolutas operacionais até 2050, reforça o compromisso da empresa em expandir sua atuação em negócios de baixo carbono.

A intensidade das emissões no segmento de E&P da Petrobrás caiu pela metade entre 2009 e 2022. As emissões absolutas de metano caíram 55% entre 2015 e 2022.

Nos próximos anos a companhia deve intensificar sua atuação nas atividades de biorrefino, com a produção de combustíveis com conteúdo renovável, ao mesmo tempo em que buscará diversificação rentável com novos negócios em energia eólica offshore, hidrogênio e captura de carbono.

Presidente, a mudança de governos na história recente do Brasil acarretou na alteração de pilares estratégicos da Petrobrás. Até 2022, a empresa estava focada apenas em E&P. Hoje, a Petrobras se mostra interessada novamente em ser uma empresa integrada de energia. Ao seu ver, é possível blindar a Petrobrás de possíveis alterações de rumo em virtude de mudanças de governo? Como garantir que a Petrobrás continuará perseguindo o objetivo de ser uma empresa integrada de energia ao longo das próximas décadas?

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Estamos preparando a Petrobrás para o futuro, para ser uma empresa com atuação nacional e diversificada em energia”, afirma o presidente da companhia

Estamos preparando a Petrobrás para o futuro, para ser uma empresa com atuação nacional e diversificada em energia. Vamos fazer isso preservando a rentabilidade e a sustentabilidade financeira, com segurança, respeito ao meio ambiente e atenção total às pessoas. É um compromisso estratégico de empresa e não de governo. Aproveitar os benefícios de uma empresa integrada não é questão ideológica, é apenas a lógica básica de gestão. Para além disso, estamos agora diante de um novo desafio de dimensão global: mobilizar recursos, expertise e capacidade técnica em direção à transição energética – de forma justa, inclusiva, segura e assegurar que a Petrobrás contribua para uma transição energética que não deixe ninguém para trás. A aprovação de projetos seguirá a governança estabelecida na companhia, passando pelos processos de planejamento e aprovação previstos nas sistemáticas aplicáveis, com viabilidade técnica e econômica demonstrada. A decisão da nova administração foi a de resgatar a viabilidade da companhia, com todos seus benefícios associados aos seus acionistas e ao Brasil, por mais tempo. Entendemos que essa visão está intrinsecamente ligada à manutenção da empresa.

A Margem Equatorial é a grande última fronteira de exploração no país. Muito se fala sobre a questão do licenciamento ambiental que é, sem dúvida, um aspecto importantíssimo nesse projeto. Contudo, gostaria de tratar aqui sobre a importância estratégica nacional envolvida na exploração dessa região. Ao seu ver, permitir o estudo do potencial da Margem Equatorial é uma decisão estratégica para a soberania energética do Brasil nas próximas décadas? Por quê?

Petrobrás tem o desafio de explorar nova fronteira exploratória na Margem Equatorial brasileira

Petrobrás tem o desafio de explorar nova fronteira exploratória na Margem Equatorial brasileira

A Petrobrás está preparada para realizar com total responsabilidade atividades na Margem Equatorial, onde pretende empregar todo o seu conhecimento operacional e as tecnologias necessárias para garantir uma operação segura. A companhia vem empenhando todos os esforços na obtenção da licença de perfuração no bloco FZA-M-059, que se refere à verificação de presença de petróleo em alto mar (cerca de 175 km da costa do Amapá), mediante realização de perfuração de um único poço, durante apenas cinco meses. Somente após a perfuração desse poço se confirmará o potencial do ativo, a existência e o perfil de eventual jazida.

Estamos mobilizando todo esse esforço por acreditar ser necessário garantir a reposição de reservas, e por entender que somos capazes de liderar o esforço de descarbonização da produção de petróleo, com benefícios diretos e indiretos para nosso país, nossa economia e parque tecnológico.

Presidente, a Petrobrás vem registrando ao longo dos últimos anos uma redução no seu quadro de funcionários. Essa é uma tendência que deve continuar nos próximos anos? E como vê o futuro da mão de obra da Petrobrás no cenário da transição energética?

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Petrobrás lançará novo concurso público até o final do ano com 458 novas vagas de nível técnico

Acabamos de anunciar a convocação de mais 289 aprovados que estavam no cadastro de reserva do concurso nacional de nível superior lançado pela companhia em 2021. No primeiro trimestre, já havíamos convocado 1540 novos empregados aprovados em processo seletivo. Além disso, anunciamos um novo concurso com 458 vagas de nível técnico, que será aberto até o fim do ano. A Petrobrás tem uma força de trabalho de altíssimo nível e competência. Nosso maior desafio é manter nosso ritmo vitorioso de inovações tecnológicas no setor petrolífero com a mesma empolgação que atraímos novos talentos dispostos a construir conosco a transição energética justa. Nossa força de trabalho está unida e à serviço de nossa missão, de seguir por muitas décadas como uma empresa de energia e de excelência tecnológica.

A Petrobrás já mantém parcerias estratégicas com outras importantes petroleiras internacionais. O mercado pode esperar pelo anúncio de novos acordos do tipo no futuro? Em quais segmentos (refino, renováveis, etc.)?

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Petrobrás assinou recentemente novo acordo com a Vale e mostra apetite para estabelecer novas parcerias 

Parcerias internacionais são um movimento natural da companhia. Em agosto, quatro memorandos de entendimento (MOUs) com a China Energy, SINOPEC, CNOOC e Citic Construction, principais grupos de petróleo e energia da China. Os acordos são direcionados à prospecção de novas oportunidades de negócios conjuntos nos segmentos de exploração e produção, transição energética, refino, petroquímica, energia renovável, hidrogênio, fertilizantes, amônia e captura de carbono. No início de setembro, assinamos um memorando de entendimentos (MOU) com o grupo Mubadala Capital para desenvolver estudos conjuntos sobre futuros negócios no segmento de downstream.

Em geral, enxergamos o setor energético como não apenas protagonista, mas como maior desafiado pela transição energética, sujeito a diversas restrições financeiras e tecnológicas que só serão superadas a tempo de contribuir substancialmente para o combate à emergência global por meio de parcerias. Queremos aprender e também ensinar, colaborando com todas as tecnologias de referência que desenvolvemos no Cenpes e na estrutura de pesquisa associada.

É preciso reforçar que não estamos buscando apenas parceiros internacionais. Assinamos, recentemente, um importante memorando de entendimento com a Vale, que coloca duas grandes empresas brasileiras lado a lado, em busca de oportunidades de negócio conjuntas.

A Petrobrás chega aos seus 70 anos com o lema “O Brasil é a nossa energia”, numa alusão ao profundo relacionamento que a empresa possui com o país. Por isso, como mensagem final, poderia comentar com os nossos leitores o que o Brasil pode esperar da empresa a partir desta data tão importante? O novo plano de negócios, que será anunciado em dezembro, virá para corar esse novo momento?

Edifício-sede da Petrobrás, no Rio de Janeiro

Edifício-sede da Petrobrás, no Rio de Janeiro

Há 70 anos, trilhamos um caminho de liderança e, desde então, somos pioneiros em direcionar a nossa energia para tudo que é importante para o país. Uma energia que está presente em cada canto do Brasil, no dia a dia dos brasileiros. Mas, para ser uma empresa diversificada e integrada de energia, também precisamos direcionar nossa energia para liderar uma nova jornada: a da transição energética justa. Esse investimento no hoje é o que nos possibilita pensar no amanhã, garantindo a energia que o Brasil precisa. Tão importante quanto saber de onde vem, é se preocupar para onde vai a nossa energia, pensando em todos que fazem parte dessa transformação. Convidamos todo mundo a celebrar conosco esse compromisso e essa missão, com empatia e confiança: vamos juntos realizar a transição energética justa.

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Não há o que se falar do JPP. Tudo que ele fala e coloca em prática na Petrobras cumpre ordem do governo.  Exemplo de mal caráter a serviço do governo federal, alinhado aos interesses dos investidores internacionais. Não devemos perder tempo ou ter expectativa de nenhuma ação positiva e concreta vinda desse capacho de Brasília que possa mitigar as penúrias impostas a aposentados e pensionistas  da Petrobras. A Petros continuará como está ou ainda piorar por conta dele e do atual sistema. Não podemos sequer acreditar que irão neutralizar os efeitos danoso da CGPAR 42, por estar alinhada as diretrizes… Read more »

João Batista De Assis pereira
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João Batista De Assis pereira

Que estória é essa de exigir prática de direitos humanos de seus fornecedores na Petrobras, se a maior empresa brasileira pouco importa com os direitos humanos e garantias básicas de sobrevivência de milhares de aposentados e pensionistas da fundação Petros que estão refém da Petrobras e sofrendo por conta da estatal não honrar o pagamento dos bilhões que deve a fundação, obrigando os milhares de velhinhos aposentados e pencionistas a pagarem por essa conta que nao deram causa, no que deveria ser paga a tempos pela Petrobras que comprovadamente contraiu essa bilionária divida e não se dispõe a pagar, obridando… Read more »