EPE RELACIONA FUTURO DA ENERGIA NUCLEAR ÀS DESCOBERTAS DE GÁS NO PAÍS | Petronotícias




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EPE RELACIONA FUTURO DA ENERGIA NUCLEAR ÀS DESCOBERTAS DE GÁS NO PAÍS

Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) – 

A energia térmica no Brasil tem ganhado um papel de maior relevância nos últimos meses, quando a entrada em operação de usinas a gás, carvão e óleo diesel ocorreu em grande escala para garantir o suprimento energético do país. As renováveis vêm crescendo a passos largos, a eólica já figura como fonte competitiva no cenário nacional e a solar começa a surgir nos leilões, mas a segurança energética é um assunto que preocupa a muitos, em função do caráter sazonal das renováveis. Neste quadro, entidades e empresas como Eletronuclear, Abdan e FGV vêm defendendo a importância de novos projetos de geração nuclear para o Brasil, já que o país detém uma das maiores reservas de urânio do mundo, tem o domínio da tecnologia e não é passível de desastres naturais de grandes proporções, como furacões e terremotos. Outro ponto que vem sendo tema de debates, ainda em discussão no Ministério de Minas e Energia, é o interesse do setor privado em investir em usinas nucleares no Brasil, apontado pelas empresas como uma forma de aliviar o governo em relação aos grandes custos de novas unidades termonucleares. O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, ferrenho defensor das eólicas, reconhece que o país não tem condição de depender apenas das fontes renováveis, mas diz que a nuclear não é prioridade. Com quatro novas usinas do tipo previstas no plano de 2030, ele já não acredita que todas devam ser incluídas na matriz dentro do prazo previsto. Para Tolmasquim, o crescimento da fonte nuclear na matriz nacional dependerá do volume de descobertas de gás no Brasil: “se tiver gás barato, nuclear deverá ter um ritmo menor. Se não tivermos, o ritmo deverá ser maior”.

As energias renováveis têm sido vistas como grandes novidades, mas elas são sazonais. Como compor a matriz incentivando as renováveis, sem perder a garantia de segurança energética do país?

A solar e a eólica têm papel na matriz, principalmente a eólica hoje, mas elas não vão garantir o suprimento de energia elétrica do Brasil. Elas são complementares. Não devemos criar ilusões de que podemos funcionar apenas com fontes variáveis. Não tem essa condição. É claro que no Brasil elas podem ter uma participação até maior, porque temos hidrelétricas com grandes reservatórios e há uma complementariedade entre elas e as eólicas, já que em épocas com hidrologia ruim há mais ventos, mas não poderemos ter apenas fontes variáveis. A gente precisa também de térmicas. Inclusive por isso temos três produtos no leilão A-3: hídrica; térmica; e eólica/solar, justamente para permitir que tenhamos uma contratação mínima de térmica.

Acha importante a volta dos grandes reservatórios?

Eles são importantes para o setor, porque são os estoques das hidrelétricas. Mas há outras questões. Primeiro a topologia, por exemplo. A Amazônia é uma região muito plana então é difícil fazer reservatórios muito grandes, tanto pelo custo financeiro, quanto pelo social e ambiental. Acho mais realista a gente lutar para que pelo menos as hidrelétricas sem grandes reservatórios possam ser feitas mais rapidamente, porque hoje até elas têm muitas restrições.

Existe alguma conversa da EPE com o governo nesse sentido, tentando facilitar as usinas?

Sempre estamos tentando junto ao governo. Nesse momento estamos tentando viabilizar São Manoel. Estamos fazendo as audiências lá. Mas são processos demorados e geralmente conflituosos, então há um desgaste. O ideal seria, já que não estamos podendo fazer reservatórios, acelerar o processo de liberação das usinas sem eles.

Você falou sobre a necessidade das térmicas. Existe a possibilidade de novas usinas nucleares entrarem no plano?

Existe a possibilidade. A gente previu quatro nucleares no plano de 2030. Hoje estamos construindo Angra 3, com previsão de entrar em operação em 2018. Agora, quanto à construção das quatro plantas até 2030, acho que o tempo está ficando apertado. Normalmente, entre a decisão de construir e a construção de fato levam-se 10 anos, então…

O que falta para haver essa decisão?

Desde a questão de Fukushima, as nucleares ficaram meio em standby [em espera]. Reduziu-se o ritmo dos estudos. Está em standby, esperando um pouco, mas a porta não está fechada para a tecnologia. Eu acho inclusive que não deve ser fechada a porta para nenhuma tecnologia. Afinal, o Brasil tem a sexta reserva de urânio do mundo, tem o domínio do enriquecimento, então eu acho que seria uma perda para o país abrir mão desse conhecimento. Mas no momento ela não é urgente. É interessante do ponto de vista de manter a tecnologia, mas não tem urgência.

Vocês têm colocado isso em pauta nas conversas com o governo?

Não. Isso não tem sido discutido. Não está na prioridade do momento. 

A Eletronuclear tem falado sobre novas usinas frequentemente, e seus executivos dizem que Fukushima teria afetado a opinião pública, mas em termos técnicos seria um caso muito distante da realidade brasileira…

Sem dúvida é muito diferente. Nuclear não está descartado, mas não é prioridade. Está num ritmo diferente de outras fontes, mas não quer dizer que não vai ser feito. Não sei se as quatro serão feitas, mas alguma coisa deve ser feita.

Recentemente a FGV fez um estudo sobre isso, traçando três cenários até 2040, levando em conta crescimentos econômicos variáveis, e estimou a necessidade de oito usinas nucleares no quadro de menor crescimento e mais de 20 unidades no cenário de maior expansão. Vocês já têm alguma estimativa de quantas devem entrar no plano de 2050?

A gente ainda não chegou lá, mas vamos discutir isso. A grande variável que vai definir o ritmo de nuclear será o gás. Se vamos descobrir gás onshore e o preço do gás do pré-sal. Se tiver gás barato, nuclear deverá ter um ritmo menor. Se não tivermos, o ritmo deverá ser maior, porque a outra opção seria carvão, que tem uma série de limitações.

A volta do carvão foi inclusive motivo de críticas. Houve os que defendiam o carvão e os que questionaram a ausência nuclear, que seria mais limpa…

Ele voltou justamente pela falta de gás competitivo. Mas a nuclear tem outro tempo de desenvolvimento. A usina a carvão se faz em cinco anos, enquanto a nuclear leva 10 anos. Por enquanto não se está discutindo muito a construção de novas nucleares, pelo menos em âmbito governamental.

O plano de 2050 tem previsão de lançamento?

Deve ser final do ano que vem. Estamos fechando os cenários econômicos, os estudos de demanda, para depois entrar na parte das ofertas. Ainda está muito na fase inicial para adiantar alguma coisa.

VEJA AQUI A PRIMEIRA PARTE DA ENTREVISTA

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