ESPECIALISTA CONTRATADO POR ÍNDIOS DE MICHIGAN DIZ QUE HAVERIA RISCO DE EXPLOSÃO EM TÚNEL DO OLEODUTO LINHA 5, MAS ENBRIDGE CONTESTA
Como se diz no Brasil, a “chapa esquentou” em Michigan depois do depoimento de Richard Kuprewicz, um especialista em petróleo e gás contratado pela comunidade indígena de Bay Mills. Ele alertou ao governo do Estado e aos reguladores de serviços públicos de Michigan, chamando a atenção para a construção de um túnel para o oleoduto da Linha 5. Ele diz que não seria um substituto à prova de falhas para a seção subaquática da linha, porque poderia haver possíveis acidentes que causariam uma explosão subterrânea catastrófica. Mas a Enbridge, que está propondo a construção de um túnel para que o oleoduto cruze o lago, nem mesmo quer considerar essa possibilidade para tomar sua decisão.
Há muitos senões nessas afirmações do especialista. Pode ser que seja especialista em óleo e gás, mas não é de construção de túnel e muito menos em tubulações, que obedecem a regras internacionais específicas e bem claras. Dependendo da forma como a tubulação é soldada e lançada, não há qualquer perigo. No Brasil há bons exemplos disso construídos pela brasileira Liderroll. Uma no Gasduc III, no Rio, e outra no Gastau, em São Paulo, onde há três linhas de dutos de diferentes tamanhos dentro do mesmo túnel, lançados em épocas diferentes. Se houver inspeções e manutenções necessárias e periódicas, não há risco.
Em função destas garantias, a empresa canadense quer que muito do depoimento do chamado especialista seja retirado dos autos na revisão do caso de autorização de túneis do estado perante a Comissão de Serviço Público de Michigan. Um juiz de direito administrativo decidirá na próxima semana. A Enbridge argumentou que o depoimento do especialista em petróleo e gás em nome da comunidade indígena de Bay Mills não deveria ser considerado por causa de um tecnicismo legal – que ninguém sugeriu a explosão de um túnel antes, então não pode ser considerado um depoimento de refutação.
A empresa também se opôs às declarações oficiais de uma série de outras pessoas, incluindo especialistas que testemunharam em nome de governos tribais e grupos ambientais sem fins lucrativos que se opunham à proposta do túnel e ao uso contínuo do gasoduto existente. Um advogado da tribo de Bay Mills baseado em Chicago disse que o depoimento do especialista tem, na verdade, a intenção de refutar o depoimento anterior de funcionários do MPSC que afirmam que o túnel proposto é uma solução basicamente infalível para o risco de derramamento de óleo dos oleodutos duais que correm atualmente através das terras baixas dos Grandes Lagos no Estreito de Mackinac.
O advogado Christopher Clark, que representa a ONG Earthjustice, que trabalha para o BONO em nome de comunidades indígenas, disse: “Vimos o que estava sendo apresentado no caso a respeito de como o túnel estava sendo caracterizado. Especificamente o oleoduto que atravessa o túnel. Há um tema repetido por testemunhas de que o túnel iria eliminar um risco de derramamento ou evento catastrófico no Estreito. Esse argumento simplesmente não é 100% verdadeiro”.
Contratado pela Tribo, Richard Kuprewicz (foto à direita), é um investigador particular de acidentes em oleodutos e acreditado como especialista do setor. Ele confirmou em seu depoimento que haveria um risco perigoso com o plano do túnel, mesmo que por apenas uma pequena chance, embora não tenha apresentado nenhuma evidência: “Do ponto de vista da engenharia, há um potencial para uma liberação do túnel no Estreito por meio de uma explosão catastrófica. Embora o risco de liberação dessa maneira possa ser considerado baixo, não é desprezível e, na minha opinião, não deve ser minimizado dessa forma pela equipe (MPSC). ” Kuprewicz é engenheiro químico e presidente da Accufacts Inc. de Redmond, Washington. Ele disse que o envio de gases perigosos e voláteis e petróleo bruto através de um oleoduto fechado em um túnel de fato aumenta o risco de explosão; o equipamento elétrico dentro do túnel pode inflamar vapores de hidrocarbonetos presos na infraestrutura construída através do leito rochoso sob as águas dos Grandes Lagos, explicou ele.
A Enbridge entrou com um processo junto ao MPSC para rejeitar o testemunho do líder tribal sobre se o caso incluía uma consulta tribal adequada, bem como a importância da conexão única que os indígenas têm com o meio ambiente no Estreito de Mackinac. Segundo o advogado da ONG, “Há um significado cultural, histórico, espiritual e econômico particular desta área para as tribos. E ficamos desapontados que Enbridge está tentando silenciar aquela voz. Mas estamos determinados a não permitir que isso aconteça.”
O porta-voz da Enbridge, Ryan Duffy (foto à esquerda), disse que os funcionários da MPSC “expressaram forte apoio” ao projeto do túnel em andamento, que atende a uma necessidade pública, é do interesse público e é a melhor opção: “Com base no projeto e nos planos de construção da Enbridge, a equipe do MPSC descobriu que não há preocupações com a segurança do segmento de reposição do duto a ser localizado dentro do túnel.” Ele disse que alternativas ao uso da Linha 5 para movimentar produtos petroquímicos emitiria mais gases de efeito estufa do que usar o gasoduto, que também é mais seguro e eficiente: “Colocar um oleoduto em um novo túnel dos Grandes Lagos fornecerá camadas extras de segurança e proteção ambiental e tornará o que atualmente é um oleoduto ainda mais seguro, enquanto cria empregos em Michigan e garante a energia necessária para os consumidores em Michigan e na região”.
Para lembrar, no ano passado, a empresa solicitou a aprovação do estado para construir um túnel esperado de US$ 500 milhões e um trecho de gasoduto para substituir a parte que corre entre as penínsulas Superior e Inferior no leito do Lago Michigan, imediatamente a oeste da Ponte Mackinac. A Secretaria estadual de Meio Ambiente, Grandes Lagos e Energia já emitiu licenças para o projeto em janeiro de 2021, enquanto a revisão do MPSC permanece pendente. O Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos também continua sua análise da proposta, que, segundo autoridades, incluirá uma extensa avaliação ambiental que levará em consideração o papel esperado da proposta na aceleração da mudança climática.
Enquanto os líderes tribais, políticos e defensores do meio ambiente pressionam pelo fechamento da seção subaquática da Linha 5, a Enbridge argumenta que o oleoduto continua a ser operado com segurança. A rota da Linha 5 fornece um atalho pelos Estados Unidos para os petroquímicos canadenses entre os campos de petróleo de Alberta e as refinarias em Sarnia, Ontário.
A governadora de Michigan, Gretchen Whitmer, em novembro de 2020, revogou a servidão de terras baixas de longo prazo para o oleoduto e ordenou seu fechamento. A âncora de um navio atingiu o oleoduto subaquático em abril de 2018 e danificou a infraestrutura, mas a região escapou de um grande derramamento de óleo no incidente. Um barco fretado pela Enbridge bateu na ponte Mackinac em novembro do ano passado, ao retornar funcionários ao continente depois de um dia trabalhando em um sistema de monitoramento de câmera de alta tecnologia na Ilha de Santa Helena.
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