ESTUDO DA FAPESP DEFENDE POLÍTICAS GLOBAIS PARA BIOENERGIA

bioenergiaCientistas brasileiros ligados aos programas FAPESP de Pesquisa em Bionergia (BIOEN), de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG) e de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Restauração e Uso Sustentável da Biodiversidade (BIOTA) divulgaram um relatório que defende o uso da bioenergia para aumentar a segurança energética, mitigar os impactos das mudanças climáticas globais e compensar problemas ambientais associados ao desmatamento florestal. Segundo o documento, é necessário, para isso, implementar políticas públicas que contemplem toda a cadeia de produção de energias renováveis.

Segundo Glaucia Mendes Souza, professora do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) e membro da coordenação do programa BIOEN, a síntese do relatório é resultado de discussões realizadas no fim de 2013, na sede da Unesco, em Paris, por 50 especialistas na área de bioenergia, de 13 países, durante uma oficina de planejamento do processo de avaliação rápida em bioenergia e sustentabilidade. “As conclusões das discussões desses especialistas sobre temas como segurança energética, alimentar, ambiental e climática, além de desenvolvimento sustentável e inovação servirão de base para o relatório final, que terá 21 capítulos, 700 páginas e será disponibilizado gratuitamente no formato de e-book”, acrescentou.

Uma das principais conclusões é que com a diminuição das reservas de petróleo, o aumento dos preços dos combustíveis fósseis e a necessidade urgente de reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE), a bioenergia desponta como alternativa para aumentar a segurança energética no futuro e poderá se tornar uma das maiores fontes da matriz energética de muitos países nas próximas décadas. Para atingir esse objetivo, os autores da avaliação recomendam aumentar a compreensão sobre os impactos de políticas, regulamentações e sistemas de certificação para a definição de métodos de governança que garantam a sustentabilidade e a igualdade na distribuição dos benefícios trazidos pela bioenergia, além de uma cuidadosa análise do investimento financeiro necessário para a implementação de sistemas de produção de energia renovável.

Segundo os pesquisadores, a produção de bioenergia no mundo ainda é muito local. Hoje, alguns dos exemplos são o etanol de cana-de-açúcar no Brasil e na Tailândia, a bioeletricidade nas Ilhas Maurício e também no Brasil, o biogás nos Estados Unidos, na Alemanha e no Reino Unido e o biodiesel de pinhão-manso no Malauí e em Moçambique, na África. A perspectiva, contudo, é que a bioenergia se torne um negócio global nas próximas décadas. “Há a possibilidade de os países produtores se tornarem exportadores de energia renovável e de a bionergia mudar a geopolítica mundial, da mesma maneira como o petróleo criou uma divisão entre os países que têm ou precisam comprar esse recurso energético”, disse Souza.

Outra vantagem apresentada pela bioenergia destacada no relatório é sua contribuição para a redução das emissões de gases de efeito estufa, como dióxido de carbono. Atualmente, cerca de 87% da energia consumida no mundo é proveniente de combustíveis fósseis, como a gasolina. Embora a Agência Internacional de Energia (AIE) preveja que essa participação cairá para 75%, o consumo total de combustíveis fósseis continuará a aumentar, acrescentando mais 6 gigatoneladas desses gases na atmosfera até 2035. Estudos citados no relatório indicaram que, quando o etanol é usado para substituir os combustíveis fósseis no transporte, o biocombustível pode contribuir para uma redução de algo entre 80% e 100% das emissões líquidas de GEE. O aumento da produção de bioenergia deve ser acompanhado, contudo, de estudos e análises de todas as implicações associadas e dos impactos ambientais para não causar o efeito contrário ao que se deseja, ressalvam os pesquisadores.

“Existem políticas públicas locais e globais que impactam no financiamento, no mercado e na exportação e importação de biocombustíveis e que competem com uma indústria muito barata, que é a do petróleo. É preciso que a cadeia de produção de bioenergia conte com subsídios e o apoio de políticas públicas para conseguir aumentar a escala de produção e torná-la mais competitiva. Estamos observando que não existe uma única solução adequada para todos os países ou regiões do mundo. Os casos de produção de bioenergia que avaliamos mostram que, apesar de algumas semelhanças, há diferenças de impactos ambientais, sociais e econômicos de diferentes biocombustíveis, determinadas por condições locais”, avaliou Souza.

O relatório foi redigido em colaboração com especialistas de 24 países, sob a égide do Comitê Científico para Problemas do Ambiente (Scope), órgão intergovernamental parceiro da Unesco. A síntese do documento, denominado Processo Rápido de Avaliação sobre biocombustíveis e sustentabilidade, foi apresentada no dia 20 de outubro na abertura do 2nd Brazilian BioEnergy Science and Technology Conference (BBEST), que será encerrado na sexta-feira (24), em Campos do Jordão (SP). O documento final será divulgado nos dias 14 e 15 de abril de 2015, durante um seminário na FAPESP, que incluirá também o lançamento de um resumo para guiar políticas públicas.

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