EXPLORAÇÃO DO GÁS DE XISTO NO BRASIL: AQUÍFERO GUARANI EM RISCO

Por Ziney Dias Marques / Engenheiro e Mestre em Tecnologia – 

Ziney MarquesNa última semana foi realizada a 12ª rodada, promovida pela Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), que incluiu o primeiro lote para a exploração de gás convencional e não convencional no Brasil (foram habilitadas 21 empresas). O que preocupa é que a sociedade em geral e, principalmente, o cidadão comum não têm o menor conhecimento do que significa a expressão  “exploração não convencional”.

O processo envolve o chamado “fraturamento hidráulico” (fracking) para a produção de gás proveniente do folhelho, a partir da utilização de inúmeros produtos químicos e areia, associados a grandes volumes de água e aplicados com altíssima pressão nas rochas, para produção em grande escala.

Mesmo após a constatação dos danos irreversíveis causados pelo processo, o fraturamento hidráulico continua sendo praticado, ignorando-se os prejuízos e estragos causados à natureza e às pessoas.

No caso do Brasil, foram leiloados 240 blocos, localizados em sete bacias sedimentares nos estados do Amazonas, Acre, Alagoas, Sergipe, Tocantins,  Piauí, Mato Grosso, Goiás, Bahia, Maranhão, São Paulo e Paraná, bem como em áreas indígenas.

Destaque-se que dos 19 blocos localizados no Paraná, 16 foram adquiridos. O detalhe é que no subsolo do Paraná se concentra o maior volume de água potável do Brasil e um dos maiores do mundo: o aquifero Guarani, que poderá ser contaminado.

França, México, Bulgária, África do Sul, Austrália, Reino Unido, Nova Zelândia, EUA, Holanda e outros tantos países já se manifestaram contrariamente ao uso do fracking, seja através de autoridades governamentais ou da sociedade organizada. O desastre é real, documentado e confirmado. Não é uma suposição e agora o Brasil é a bola da vez.

Não se pode acreditar que os técnicos e especialistas da Petrobrás e da ANP aprovem a utilização do fraturamento hidráulico na extração do gás de xisto no Brasil. O aquífero Guarani, assim como outros, está em risco e o desastre será desumano e irreversível. Existem milhares de registros a respeito das consequências da prática do fracking. Não há razão para novos testes no Brasil.

Alguns registros que podemos citar, por exemplo, é a explosão de uma casa em Ohio (EUA), ocorrida em 2007; outros 12 pequenos tremores de terra no mesmo estado americano; dois tremores de terra em Blackpool, na Inglaterra, em 2011; a contaminação do lençol freático no Colorado (EUA), onde em algumas casas a água da torneira pega fogo, por conta da mistura com o gás; a contaminação da água potável por metano, associada à extração do gás de xisto, em locais de Nova York e Pensilvânia;  a morte de espécies aquáticas na região de Acorn Fork, no Kentucky (EUA), por conta do vazamento de fluidos utilizados na exploração; e 109 terremotos registrados na cidade de Youngstown, em Ohio, em um período de apenas 14 meses.

As investigações em tribunais e repartições públicas mostram mais de mil registros de casos de contaminação de água ligadas a gás de xisto nos Estados Unidos. Além disso, as imagens e os depoimentos constantes do documentário “Gasland”, de Josh Fox, lançado em 2010, (no Brasil o título é “Terra do Gás”), disponível na internet, são impressionantes.

A quem interessa a produção do gás do xisto pelo fraturamento hidráulico? O Brasil não precisa disso. Esse processo tem que ser abortado imediatamente.

Os artigos publicados neste espaço são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a visão do Petronotícias.

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Murilo
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Murilo

Camaradas, ou companheiros… acredito que uma boa crítica a qualquer ação técnica deve ser recheada de subsídios técnicos e sua perspectiva estatística frente ao histórico das ações realizadas. Gostaria que o leitor assíduo sobre o tema (gás de xisto no Brasil) observasse o link abaixo, que propõe um contraponto técnico à essas opiniões alarmantes. Se pressupõe que numa guerra de mercado cada player tente assegurar uma possível hegemonia, mas o que é bom para uma política de Estado? http://www.shalegasespana.es/es/index.php/el-experto-opina/dr-juan-llamas-borrajo

Ricardo Maçol
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Ricardo Maçol

Os riscos existem, como em qualquer outra atividade relacionada à exploração de Petróleo. Estão aí os incidente com a BP no Golfo do México,que causou danos inimagináveis ao meio ambiente, bem como da Chevron no Brasil, só para citar os mais recentes. A pergunta que deve ser respondida é se realmente o Brasil precisa disso agora, com tantas reservas de gás e óleo descobertas e ainda não exploradas.

orlando marques filho
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orlando marques filho

sou da seguinte opinião: o brasil não deveria gastar tanto com o petróleo e o gás, que só vae dar retorno muito mais tarde, quando o mundo todo estará tirando a energia do sol, do vento, do mar e do lixo e quem sabe de outras fontes não poluentes com tecnologia tão ou mais avançada que a apregoada pela propaganda da petrobras. parabéns dr. ziney, mas só depois que acontecer um grande desastre com os aquíferos brasileiros é que este governo se ganhar é que vae inventar uma desculpa absurda por ter levantado esta bandeira esfarrapada de que o petróleo… Read more »

Eng. Celio Franco
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Prezado Eng. Ziney Dias Marques, Em primeiro lugar, PARABÉNS pela coragem e pelos FATOS incontestáveis contidos no seu artigo… e é incrível como sempre aparecem os defensores do Apocalipse… quando uma preocupação séria como esta é manifestada na rede… Até parecem que se encontram à espreita em seus buracos negros, regiamente pagos… e saem em defesa do LUCRO fácil a qualquer preço… mesmo que isso signifique se comportar como uma raça de VÍRUS… citados por Mr. Smith a Morpheus no glorioso MATRIX… parece brincadeira se não fosse tão sério… Fiquei muitíssimo nervoso quando soube sobre esse leilão… um absurdo em… Read more »

Murilo
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Murilo

Com o grande desejo de formar opiniões, creio que o sr. deveria trazer dados técnicos que possam embasar a sua opinião. Talvez um bom debate sobre o tema deva ser estimulado. Mesmo não sendo geólogo, uma denuncia honesta requer munição técnica. O aquifero guarani tem 1200m de profundidade máx./o xisto está a 3000m e fracking vertical não passa de 400m? tens outras inf´s? Energia é tema de soberania nacional, o domínio técnico desta operação pode melhorar o custo Brasil. cordial abç…

Rafael
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Rafael

Prezado Ziney, Com todo respeito sugiro que vá mais fundo em suas pesquisas sobre o fracking. Há muitas desconfianças por traz desta técnica por causa contaminações provenientes da falta de expertise e estudo científico em relação ao projeto e execução de fraturamento hidráulico. Certamente que fraturamento hidráulico, como sabes, não é simplesmente injetar produtos químicos, água e pressão no poço para depois “ver” se fraturou a rocha para então iniciar a produção gás. Quem diz isso está sendo tendencioso e a informação é falaciosa. O fraturamento hidráulico é uma técnica que lança mão de ESTUDOS CIENTÍFICOS em todo seu planejamento… Read more »

Ricardo Maçol
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Ricardo Maçol

No meu modo de ver , é exatamente este o maior risco que corremos com o fraturamento no Brasil: o surgimento de empresas de fundo de quintal cujos sócios sejam laranjas de políticos e seus apadrinhados em busca de lucro fácil.