GOVERNADORA NÃO CEDE E CONFIRMA FECHAMENTO DE OLEODUTO DE EMPRESA CANADENSE NO LAGO DE MICHIGAN

A governadora de Michigan, Gretchen Whitmer, deu prazo até hoje (12) para a companhia canadense Enbridge fechar sua Linha 5 de oleoduto que cruza o leito do Lago de Michigan, na fronteira dos Estados Unidos e do Canadá. Oficialmente, esta é uma disputa entre um estado dos Estados Unidos e uma empresa privada, mas há claramente um dedo da política que está envolvida. O governo estadual e a Enbridge permanecem em um processo de mediação ordenado pelo tribunal para resolver uma disputa que – julgada pela retórica política acalorada sendo empregada em ambos os lados da fronteira – desafia o compromisso. Whitmer chama a Linha 5, que atravessa o Estreito de Mackinac,  conectando o Lago Michigan e o Lago Huron, uma “bomba-relógio” e uma ameaça “catastrófica” ao ecossistema dos Grandes Lagos.

Determinada a fechar o oleoduto que está operando desde 1950, a  governadora é apoiada por grupos indígenas e ambientalistas que tentam aterrorizar a população local com imagens de uma catástrofe.  O Ministro de Recursos Naturais do Canadá, Seamus O’Regan (foto à direita), disse que a operação contínua da linha é “inegociável”. Ele alertou mais uma vez que encerrá-lo teria “consequências profundas” para as economias e a segurança energética de ambos os países. A Linha 5 transporta 540.000 barris de derivados de petróleo todos os dias. A Enbridge diz que fornece a maior parte do propano usado em Michigan e quase metade do fornecimento de petróleo bruto leve, petróleo bruto sintético leve e líquidos de gás natural para Ontário e Quebec.

Encontrar um terreno comum entre essas posições concorrentes seria um desafio até mesmo para o mediador mais habilidoso. O primeiro-ministro Justin Trudeau (foto à esquerda) diz que deseja uma resolução amigável. O Canadá quer evitar uma repetição da sucata política e diplomática que eclodiu com o presidente Joe Biden, depois que ele bloqueou o oleoduto Keystone XL proposto como um de seus primeiros atos no cargo. “Continuamos a nos envolver de perto na questão da Linha 5. Sabemos que é uma questão de segurança energética para canadenses e americanos”, disse Trudeau.  “É por isso que temos pressionado fortemente para que o processo de mediação entre a Enbridge e o estado de Michigan continue. Continuaremos a pesar por meio de nossa embaixada em Washington e com nossos parceiros porque sabemos que a cooperação e parceria de energia com os EUA é boa para os cidadãos de ambos os lados da fronteira. “

O primeiro-ministro Justin Trudeau falou com os repórteres que a linha oficial é a que a disputa é entre uma empresa canadense e um estado dos Estados Unidos. Mas não há como negar o fato de que a Linha 5 está se transformou em outro desgaste bilateral significativo na relação Canadá-Estados Unidos – com um presidente que deveria ser mais amigável com os interesses canadenses, cuja eleição deveria sinalizar uma relação mais construtiva do que a que o Canadá teve com o ex-presidente Donald Trump.

“Não é fácil”, disse Peter Boehm (foto à direita), um senador canadense e ex-diplomata que passou anos destacado nos Estados Unidos: “A questão é: em que nível você quer que essas discussões ocorram? Por enquanto, os tribunais parecem ser o melhor lugar para encontrar uma solução.” Isso não significa que as negociações não estejam ocorrendo no nível político. Trudeau disse que ele e seus ministros levantam a Linha 5 em todas as oportunidades com autoridades americanas – mesmo com as autoridades canadenses insistindo que essa disputa não definirá a relação Canadá-EUA da mesma forma que Keystone XL fez para a era Stephen Harper-Barack Obama.

Mas as apostas são altas. O governo Trudeau contratou o bem relacionado democrata Gordon Giffin – o embaixador dos EUA em Ottawa durante o segundo mandato de Bill Clinton  para representar os interesses do Canadá no caso. Giffin entrou com uma moção no Tribunal Distrital dos EUA em Michigan. Ele Instou o tribunal a “agir de forma a garantir que a Linha 5 não esteja sujeita a uma paralisação forçada unilateral” e diz que nenhuma paralisação deve ocorrer “antes que os governos dos Estados Unidos e Canadá concluam seus esforços para resolver esta questão, de acordo com ao tratado bilateral, que trata diretamente de oleodutos de trânsito, como a Linha 5.

Essa última parte é o trunfo do Canadá. O tratado do oleoduto de 1977 proíbe qualquer um dos lados de bloquear o embarque de petróleo e gás através de um oleoduto como a Linha 5, que atravessa os Estados Unidos para conectar uma parte do Canadá a outra. Invocar o tratado seria o último recurso – um sinal de que todos os esforços de lobby falharam e que o presidente Biden não deseja intervir. “Os Estados Unidos estão ansiosos para trabalhar com o Canadá e outros parceiros para demonstrar nossa liderança climática coletiva para colocar o mundo em um caminho climático sustentável”, disse um porta-voz do Departamento de Estado americano  em uma declaração à CBC, do Canadá. “Estamos acompanhando de perto o envolvimento entre o estado de Michigan e Enbridge em questões relacionadas à Linha 5 e esperamos que as partes cheguem a uma resolução mutuamente aceitável.”

Para lembrar, há muita expectativa também aqui no Brasil, no Rio de Janeiro, onde fica a sede da Liderroll, empresa que foi escolhida para projetar usar e a sua tecnologia para lançamento de dutos  dentro de túneis. Como existe a forte possibilidade de se construir o túnel abaixo do leito do rio, onde será construído um túnel de 7,1 quilômetros onde a nova linha 5 será instalada. “Esperamos uma solução o quanto antes. Estamos aqui na expectativa.  Não será uma obra simples, mas já mostramos que temos capacidade e gente especialidade para isso,” disse o Presidente da Liderroll, Paulo Fernandes.

Whitmer, um democrata, é uma importante aliada de Biden em um importante estado indecisa. Ela está apresentando sua decisão como um esforço para proteger o meio ambiente e combater as mudanças climáticas – o que torna ainda mais difícil ver o governo Biden intervindo em nome do Canadá. A porta-voz do procurador-geral de Michigan, Dana Nessel, que o estado continua determinado a fazer cumprir a ordem de fechamento: “Precisamos de uma ordem judicial que exija que a Enbridge feche em conformidade com o aviso.”, disse a secretária de imprensa de Nessel.