GOVERNO REPETE DISCURSO DE OITO PETROLEIRAS, MAS IGNORA 200 MIL EMPRESAS E MILHÕES DE TRABALHADORES

Fernando Coelho Filho“Primeiro a gente decide, depois faz a reunião”. A frase de Magalhães Pinto casa muito bem com a realidade brasileira e o rumo que está tomando a política de conteúdo local, quebrada ao meio pelos poucos ministérios que assinaram embaixo dos pedidos de apenas oito petroleiras – sete delas estrangeiras. No discurso do Ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho (foto), em vídeo divulgado pelo Palácio do Planalto, ele tenta convencer seus espectadores de que essa é a decisão esperada pelos empresários e pelo povo, afirmando que vai gerar renda, empregos e investimentos no País. Ou o ministro é inocente ou não está preocupado se o que diz tem fundamentos reais, já que a indústria brasileira se reuniu em peso – vide o Movimento Produz Brasil – para criticar a decisão do governo e cobrar mais espaço para as empresas e os trabalhadores nacionais.

Para um leigo, pode parecer que o fato de os leilões ficarem mais atrativos, pura e simplesmente, vai gerar mais recursos para o País, já que realmente as petroleiras vão ter um interesse maior em pagar mais pelos blocos. No entanto, quem conhece esse segmento sabe que os únicos resultados positivos serão bônus maiores para os cofres do Tesouro, enquanto praticamente todos os investimentos que seriam direcionados para engenharia, obras e compras de equipamentos no Brasil vão ser enviados para outros países, atrasando ainda mais o desenvolvimento nacional, que já conta com mais de 12,3 milhões de desempregados.

Basta olhar quem está defendendo o quê e tirar suas próprias conclusões sobre para que lado pendem os interesses nacionais.

Em um canto do ringue, em defesa de um conteúdo local, estão: Associação Brasileira de Consultoras de Engenharia (ABCE), Associação Brasileira de Engenharia Industrial (ABEMI), Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Associação Brasileira da Indústria de Tubos e Acessórios de Metal (ABITAM), Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ), Instituto Aço Brasil, Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (FIERGS), Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC), Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo (Findes), Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN) e Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), que integram o Movimento Produz Brasil, com apoio ainda das seguintes instituições: Associação dos Funcionários do BNDES (AFBNDES), Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos (CNTM), Clube de Engenharia, Força Sindical, Federação Única dos Petroleiros (FUP) e Sindicato dos Petroleiros (SINDIPETRO). Juntas, todas essas entidades representam cerca de 200 mil empresas instaladas no Brasil e milhões de trabalhadores.

Do outro lado, estão: Shell (anglo-holandesa), Total (francesa), Statoil (norueguesa), CNOOC (chinesa), CNPC (chinesa), Repsol (espanhola), Galp (portuguesa) e Petrobrás.

A Petrobrás é a única brasileira da lista e que muito provavelmente não participará dos próximos leilões, por conta do processo de redução do endividamento que tem norteado as ações da empresa. Além disso, sob o comando de Pedro Parente, tem imperado o “ranço ideológico”, que prefere mandar todas as obras para fora à respeitar as leis e a indústria brasileira. Fora a Petrobrás, restam sete petroleiras estrangeiras, que têm todo o direito de atuar no País e são bem vindas para operar aqui, desde que respeitando as leis locais e contribuindo com o Brasil.

É de espantar que o governo queira convencer o público que essas sete estrangeiras têm mais interesse em gerar renda para a nação, ampliando o desenvolvimento industrial brasileiro e o número de empregos em território nacional, do que as outras mais de 200 mil empresas brasileiras e os milhões de empregados reunidos nessas instituições do Movimento Produz Brasil – muitas delas que inclusive apoiam o governo federal.

Como lembrado pela Abimaq, os empresários brasileiros pagam até 43% de impostos para produzirem equipamentos e máquinas aqui. Enquanto isso, as petroleiras contam com regimes tributários especiais – à vista do Repetro estadual e federal – que as isentam da maioria dos impostos. O foco do subsídio era o estímulo aos investimentos no País, mas, com a nova decisão, esses recursos serão enviados para fora.

Como diz o ditado, o governo está se fazendo de avestruz, enfiando a cabeça no buraco e deixando o corpo fora na tentativa de se esconder dos problemas reais. O emaranhado burocrático, tributário e trabalhista que assola as empresas brasileiras é a causa principal da disparidade de preços em relação ao exterior. Tem inclusive o nome já famoso de “Custo Brasil”. O governo sabe disso, mas finge não ver. Ao invés de tratar a doença, prefere matar o paciente.

E o presidente da Petrobrás, Pedro Parente, que frequentemente adota uma postura de ministro de Estado e não de presidente de uma estatal, tem ajudado para aumentar essa confusão no cenário nacional. Alardeia com frequência que o FPSO de Libra custaria 40% mais para ser feito no Brasil, mas nunca abre esses números e sequer consultou os estaleiros nacionais para fazer cotações. Esmera-se em criticar a indústria nacional, como na nota elogiosa à quebra do conteúdo local, em que citou atrasos em 9 plataformas feitas no Brasil, mas não dá o mesmo destaque aos atrasos das obras feitas no exterior, como as 12 sondas importadas que tiveram atraso médio de 2 anos e ficaram 500% acima do orçamento.

Uma das razões por trás dessa falácia é a dificuldade – e a apreensão – de Parente em assumir que a Petrobrás acabou se comprometendo em fazer obras e comprar equipamentos na China nos últimos anos, quando a estatal fechou acordos de financiamento bilionários com o país asiático, e agora precisa cumprir seus contratos.

Só que, enquanto por aqui ela faz exigências infinitas em quesitos de saúde, meio ambiente, segurança e responsabilidade social (QSMSRS), na China o grau de exigência é muito inferior, a se perceber pela diferença enorme no número de fiscais que acompanham as obras.

É um novelo de muitos fios, mas que o governo preferiu, até agora, chutar para o lado em vez de começar a desembaraçá-lo. O problema é que o chute acertou no poste elétrico e ameaça acabar com a luz de milhões de brasileiros. A decisão final precisa ser efetivada pelo Conselho Nacional de Política Energética, então ainda há tempo para consertar essa fiação. Resta saber se os líderes do País vão entender a preocupação nacional ou vão esperar até que dê curto-circuito.

Relembre os contratos da Petrobrás com a China:

PETROBRÁS ACERTA FINANCIAMENTO DE US$ 3,5 BILHÕES COM BANCO CHINÊS

PETROBRÁS DESAFIA CONTEÚDO LOCAL E SE COMPROMETE A COMPRAR EQUIPAMENTOS CHINESES EM ACORDO COM BANCO

PETROBRÁS PASSA POR CIMA DO CONTEÚDO LOCAL E CONTRATA CHINESA PARA SISTEMAS DE ANCORAGEM DO PRÉ-SAL

PETROBRÁS BUSCARÁ NOVOS FINANCIAMENTOS JUNTO AOS CHINESES

PETROBRÁS VOLTA A PRIORIZAR INDÚSTRIA CHINESA E ENVIA CONSTRUÇÃO DE NOVE PLATAFORMAS PARA A ÁSIA

PETROBRÁS ASSINA TERMO DE COMPROMISSO PARA FINANCIAMENTO DE US$ 10 BILHÕES COM BANCO CHINÊS

CHINA VAI EMPRESTAR MAIS US$ 7 BILHÕES PARA A PETROBRÁS

 

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Felisberto
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Felisberto

Tem problema não, o GADO não tá esquentando a cabeça, pode mandar tudo pra fabricar fora que aqui ninguém gosta de trabalhar….agora se baixasse uma lei para acabar com o carnaval, na mesma hora o GADO iria bater muita panela.

alexandre loz.
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alexandre loz.

Nenhuma surpresa.

Paulo Roberto
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Paulo Roberto

Bem vindos ao mundo real. Desde 2014 a Petrobras vem fechando financiamentos com bancos chineses, já que estava praticamente falida, sem o famoso “investment grade”, e portanto sem poder negociar com instituições ocidentais. A empresa foi espoliada pelo governo anterior e por isso está nas mãos dos chineses que, ao contrário do BNDES fez nos últimos anos, pedem contrapartidas e assim a empresa é obrigada a colocar a maior parte de seus pedidos na China. Estamos vivendo as consequências desta herança maldita que ainda deve perdurar por muito tempo.

Luciano Seixas Chagas
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Luciano Seixas Chagas

Não há palavras para entender a atitude do MME e companhias estrangeiras. Volto ao tema de que se nomeia para ministérios importantes herdeiros de capitanias hereditárias políticas, no caso um jovem herdeiro que nada entende de Energia, Minas e muito menos petróleo e vira o czar das Minas e Energia. Repetem o modelo de autoridade dos pais e avós ignorantes e também mandatários, cujas capitanias pouco floresceram sob as suas batutas, exceto pouquíssimos exemplos pra referendar as exceções as regras. Assim o novo herdeiro’quiçá consorte, absolutamente emprenhado pelo ouvido pelo entreguista Pedro Parente, que nada entende de petróleo e da… Read more »

Bitencourt
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Bitencourt

Petrobras não ajuda no preço da gasolina e agora não está gerando empregos, o que essa empresa está fazendo pelo país? Só tem um jeito, privatização já, quero ver onde esses corruptos vão arrumar dinheiro.

Luciano Arêas Carvalho
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Luciano Arêas Carvalho

A Operação Lava Jato tem mostrado como os corruptos conseguem dinheiro através da iniciativa privada. Não sou contra a privatização, mas achar que ela somente irá resolver os problemas de corrupção e o desemprego é muita ingenuidade.

Marco salgado
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Marco salgado

Já quebraram toda a costa marítima brasileira ,saquearam tudo agora vendam este Kako de Petrobras e vamos trabalhar e tem juízes responsáveis por todos estes empregados passando fome!?????????????????????

Daniel Romão
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Daniel Romão

Concordo com o governo. O que a política de conteúdo trouxe? Ela já existia e não funcionou. Não concordo com a reportagem. Precisamos de outras empresas investindo para quebrar o monopólio e disputar em preço.

Luciano Arêas Carvalho
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Luciano Arêas Carvalho

Vc já se informou a respeito da política de conteúdo local aplicada no Brasil e em outros países, Daniel? Por que dá certo na Noruega e não no Brasil, só pra citar um exemplo? Será que se resolve a questão da falta de investimento e empregos somente com a quebra de conteúdo local ou com outras soluções que diminuam a burocracia e pesada carga tributária que minam o empreendedorismo e crie um ambiente de negócios no país? É interessante, mas até hoje não vi nenhum país desenvolvido ou realmente emergente (não incluindo o Brasil no caso) que renuncie ao conteúdo… Read more »