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INDÚSTRIA NAVAL REAVALIA SITUAÇÃO PARA AVANÇAR COM POLÍTICA DE CONTEÚDO LOCAL

Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) – 

Julio Bueno, secretário de desenvolvimento do Rio, e Sergio Machado, presidente da Transpetro.

A indústria naval brasileira está reavaliando seu avanço para planejar os próximos passos. A maior preocupação no momento é manter a política de conteúdo local e os agentes do setor estão buscando maneiras de aumentar os índices de produtividade e de competitividade no Brasil para que não haja retrocessos. Essa foi a linha central do que discutiram os executivos convidados para a abertura da Marintec South America / Navalshore, nesta terça-feira (12). Os discursos, alguns mais inflamados, outros menos, convergiram em relação à necessidade de melhorar estes pontos em relação às produções dos estaleiros nacionais.

O presidente da Transpetro, Sergio Machado, falou abertamente sobre a situação e classificou a melhora na gestão dos projetos como o principal desafio no momento.

“Eu sou contra reduzir o conteúdo local. Temos que ver onde estão as causas do problema e combater essa causa. No passado, quando deu carrapato no boi, ao invés de matar o carrapato, matamos o boi. Isso não vai voltar a acontecer”, afirmou.

O secretário de desenvolvimento do Rio, Julio Bueno, também presente, foi outro que defendeu a rediscussão do futuro do conteúdo local no país, com foco no aumento da competitividade, e ressaltou a importância de dar condições à Petrobrás para que ela mantenha a política sem se sacrificar demais.

“Estou aqui defendendo o reajuste do preço de combustíveis” – disse, pouco antes de explicar a visão sobre o futuro do setor – “o que estou propondo é que a gente precisa rediscutir essa questão (do conteúdo local), em profundidade, levando em conta o investimento que a gente tem, a necessidade de usar o poder de compra do nosso agente dominante (Petrobrás) para alavancar a indústria brasileira, sem deixar que o agente dominante vá à falência”.

Para Sergio Machado, o país precisa atingir uma meta de 50% de produtividade nos estaleiros, o que poderia deixar o país competitivo em relação a países como Japão e Coreia.

“Não podemos ficar em 10%, 15%. Para que a indústria seja sustentável é fundamental que ela seja competitiva. A discussão agora é a gestão. Quem melhora a produtividade não é chão de fábrica, é a gestão”, disse.

Machado acredita que os gargalos podem ser superados, já que o país tem uma grande demanda para o setor e também tem capital disponível para financiar os projetos, a partir de fontes como Caixa, BNDES e Fundo da Marinha Mercante. Ele lembrou ainda que atualmente a indústria naval brasileira tem 400 contratos e emprega 82 mil pessoas.

Antonio Müller, presidente da Abemi.

Antonio Müller, presidente da Abemi.

O presidente da Abemi, Antonio Müller, não fez discurso no evento, mas também fez ponderações importantes sobre a reavaliação da política. Para ele, o mais importante é manter um conteúdo local estratégico:

“É um conteúdo local com muita tecnologia, que dê sustentabilidade ao segmento inclusive para exportar. Precisamos sair do conteúdo local como commodity. Por exemplo, só a matéria-prima de uma válvula de aço-carbono no Brasil já é mais cara que uma válvula dessa importada. Então acho que o conteúdo local é importante, mas eu focaria no estratégico. Para isso, uma coisa muito importante é que o Brasil tivesse condição de fazer engenharia básica. É nela que você define os equipamentos a serem usados e as características, normas e requisitos deles. Tendo a engenharia básica no país, você sem dúvida aumenta o conteúdo local”, afirmou.

Outros membros da indústria brasileira também participaram do evento, como o presidente da Firjan, Eduardo Vieira; o superintendente da Caixa, Antônio Gil Silveira; o superintendente da área de insumos básicos do BNDES, Rodrigo Barcellos; o presidente da Abenav, Augusto Mendonça; o presidente do Sinaval, Ariovaldo Rocha, entre outros. No discurso de todos, o foco era o mesmo: a necessidade de conseguir levar a indústria naval brasileira a conquistar a competitividade internacional para que ela se estabeleça de vez.

A discussão surge depois de informações que vêm circulando no segmento de petróleo sobre a contratação de unidades no exterior. A Petrobrás chegou a criar uma tabela própria de índices de conteúdo local para o FPSO a ser usado nos campos de Tartaruga Verde e Mestiça, com percentuais mais baixos do que os previstos em contrato com a ANP, como revelou o Petronotícias em abril deste ano.

A ANP tem se posicionado firmemente em relação à possibilidade de descumprimento dos índices obrigatórios de conteúdo local e tanto sua diretora-geral, Magda Chambriard, quanto o seu coordenador de conteúdo local, Marco Túlio Rodrigues, disseram em entrevistas ao Petronotícias que a agência vai fiscalizar com rigor os projetos e que as multas serão altas caso sejam constatados problemas.

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