INVESTIGAÇÃO SOBRE CORRUPÇÃO PODE OBRIGAR PETROBRÁS A TIRAR TECHINT-TENARIS DO CADASTRO
O fantasma da Lava Jato e um cadáver insepulto voltam para assustar um dos maiores grupos econômicos que atuam no país, especialmente no setor de óleo e gás: Techint-Tenaris. Alvos da Justiça italiana, os irmãos Gianfelice e Paolo Rocca, além de Roberto Bonatti, sócios da San Faustin, holding do grupo Techint, estão sendo processados pelo Tribunal Penal de Milão por corrupção internacional ligada à Petrobrás. A Holding da companhia tem a sua sede em Luxemburgo, mas as audiências na justiça serão realizadas na Itália. A primeira delas será no dia 14 de maio. Os procuradores Donata Costa, que liderou o cerco ao ex-primeiro Ministro Silvio Berluscone, Fabio de Pasquale e Isidoro Palma, dizem ter provas consistentes que o então Diretor de Engenharia e Serviços, Renato Duque, ter recebido propina para beneficiar a Confab em troca de 20 contratos que, somados, chegam a mais de R$ 6,5 bilhões, numa operação que foi bem elaborada para não deixar rastros. Os contratos eram em nome da Confab, empresa controlada pela San Faustin, através da Tenaris, empresa que pertence ao Grupo Techint. Mais detalhes sobre estes casos serão conhecidos a partir das audiências que serão realizadas em Milão. Na Itália, o escândalo está meio abafado devido as sete mortes pelo Coronavírus, ao isolamento de onze cidades e a um certo pânico da população pelo medo da expansão da epidemia no norte do país.
Mas aqui no Brasil, as repercussões podem ser terríveis para o grupo econômico Ítalo-Argentino. Desde o aparecimento do caso, acendeu uma luz amarela, quase laranja, na Diretoria de Compliance da Petrobrás. E poderá se tornar vermelha, se as ações a serem tomadas pela empresa seguir o mesmo rigor que está defendendo desde a entrada da nova direção da companhia. E se isso se confirmar, tanto a Techint quanto a Tenaris ficarão fora dos negócios da Petrobrás, tendo que cumprir uma quarentena obrigatória até que tudo seja solucionado. Caso contrário, a política de austeridade da estatal brasileira ficará sem respeito e desacreditada. O caso já era conhecido, tendo sido tema de investigação na fase 67 da Operação Lava Jato, onde a empresa era acusada de pagar mais de R$ 14 milhões para poder fornecer tubos para obras da Petrobrás. Mas, mesmo conhecido, ele ganha uma nova dimensão com o envolvimento de novos fatos e atores internacionais na cena, o que exige mais apurações e um acompanhamento do caso com a justiça italiana. Dependendo da extensão das denúncias, a extensão da punição contra as empresas pode ser ainda maior. Elas podem ficar de fora, por exemplo, de todos os negócios públicos no Brasil.
O Ministério Público da Itália afirma que a Confab foi favorecida porque o ex- diretor Renato Duque (foto à esquerda), preso em Curitiba, negociou diretamente com a empresa sem abrir possibilidade para concorrentes com a realização licitações públicas. Aliás, essa confissão faz parte da delação de Duque. A novidade mesmo seriam os tentáculos italianos que ficaram expostos em um momento que a Techint e a Tenaris imaginavam que o caso teria passado e sido esquecido. Duque recebia 0,5% do valor dos contratos firmados e, segundo os procuradores italianos, teria recebido o equivalente em reais a mais de R$ 2,1 milhões.
A trama internacional descoberta é tão delicada e bem engendrada que os procuradores italianos pediram e tiveram a participação e o apoio da justiça de seis países diferentes: Brasil, Argentina, Estados Unidos, Suíça, Panamá e Luxemburgo. Através de uma investigação minuciosa, seguiram o dinheiro para pegar a propina. O dinheiro eram de contas gerenciadas pela San Faustin, em Lugano, na Suíça, fronteira nordeste da Itália. Os procuradores italianos também descobriram os envolvimentos do argentino Hector Alberto Zabaleta (foto no alto à direita), ex-diretor da Techint, e o brasileiro Benjamin Sodré Neto, representante da Confab.
Para lembrar, a Techint é um grupo Ítalo-argentino, possui diversas empresas, entre elas a Tenaris fabricante de tubos e um grupo de engenharia de alta performance para construções para indústria do petróleo, gás e energia. Seu faturamento anual passa de 90 bilhões de Euros, tem cerca de 7o mil funcionários e empresas espalhadas pelo mundo. O grupo foi envolvido a partir de uma denúncia de João Antônio Bernardi Filho (foto à direita). Bernardi revelou que Renato Duque havia pedido ajuda para lavar dinheiro proveniente de corrupção e confirmou a ele que a propina vinha da Confab, filial brasileira da Techint.
O Petronotícias solicitou um posicionamento da Petrobrás que ficou nos enviar até o final da noite desta quarta-feira (26), mas até agora ainda não recebemos. A Tenaris enviou um posicionamento, que reproduzimos na íntegra:
“ Com relação à investigação das autoridades italianas:
Ao saber dessas investigações, a Tenaris conduziu uma investigação interna e não encontrou evidências de irregularidades. O Comitê de Auditoria do Conselho de Administração da empresa, posteriormente, contratou um escritório de advocacia externo para conduzir sua própria investigação.
A Tenaris tomou conhecimento ainda que uma comissão interna de investigação da Petrobrás revisou determinados contratos com a Confab e concluiu que não havia encontrado evidências de que a Petrobrás havia beneficiado a Confab.
As firmas jurídicas externas contratadas pela Tenaris analisaram o processo de investigação da promotoria italiana, que envolve três membros do Conselho de Administração da companhia, e informaram ao Conselho que o processo não apresentava evidências do envolvimento de nenhuma destas três pessoas na suposta irregularidade. Não obstante, o juiz italiano responsável pela investigação decidiu levar o caso a julgamento. Contudo, não forneceu nenhuma evidência ou argumento adicional aos fornecidos pelos promotores italianos.
A companhia segue revisando o tema, respondendo às solicitações e cooperando com as autoridades.”
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