CRISE IMPACTA INTERESSE INTERNACIONAL PELO BRASIL NA OTC, MAS EMPRESÁRIOS SAEM OTIMISTAS COM PERSPECTIVAS FUTURAS

Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) / Enviado Especial –

Foto Materia encerramento OTCHOUSTON – O Brasil não é mais a bola da vez, definitivamente, no mercado internacional de óleo e gás, com o interesse estrangeiro bastante reduzido em relação ao nosso país, como pôde ser visto pela pouca movimentação no Pavilhão Brasil deste ano. No entanto, o curso das mudanças que vêm ocorrendo em território nacional serviu de contrapeso para a maioria dos empresários brasileiros presentes, que saem de Houston com a expectativa de que o cenário comece a melhorar daqui para frente. Alguns estandes brasileiros conseguiram bastante atenção, mas ainda assim o Pavilhão como um todo ficou de fora do destaque do evento desta vez, como reconheceram os empresários. Ainda assim, a grande maioria se mostrou animada com os próximos meses, alinhados na crença de que o fundo do poço já foi atingido e que agora só há subida pela frente.

É uma esperança similar à imagem que os alguns dos líderes brasileiros tentaram passar em seus discursos ao longo da semana, como no café da manhã realizado pela Bratecc, quando os presidentes da Firjan, do IBP, da Shell e a diretora-geral da ANP traçaram um panorama positivo do mercado nacional, apontando as grandes oportunidades ainda inexploradas no nosso País.

Dentre elas, os campos maduros do pós-sal e do onshore, que devem ser levados ao mercado em breve, a possibilidade de um novo leilão do pré-sal em 2017, desta vez referente a áreas unitizáveis, e as enormes reservas nacionais ainda sem operações, que poderão gerar até US$ 400 bilhões em novos investimentos nas próximas décadas, segundo cálculos do IBP.

Enquanto houve esse esforço institucional para mostrar uma face mais atrativa do Brasil, a Petrobrás esteve quase que completamente ausente do evento, sem praticamente nenhum representante circulando pelo pavilhão brasileiro, com a exceção do presidente da Petrobrás América, Cláudio Nunes, que já fica sediado em Houston. Foi mais um ano sem estande da estatal, como começou a acontecer nas edições mais recentes da feira, e a área que a companhia costumava ocupar no passado foi usada para servir de lounge aos executivos.

Apesar disso, algumas companhias brasileiras se destacaram bastante em função de um planejamento de internacionalização já em andamento, que tem sido uma linha adotada por muitas companhias nacionais e já vem dando frutos a algumas delas, que estabeleceram escritórios na cidade americana e obtiveram seus primeiros contratos recentemente.

A missão da ONIP e do Sebrae também conseguiu um número de empresas (32) maior do que o esperado, apesar de muitas delas terem se decidido em cima da hora, e o trabalho de aproximação delas com grupos de outros países, a partir de um mapeamento prévio junto a consulados e embaixadas, rendeu bons frutos, com uma série de reuniões e de encontros focados em possíveis parcerias.

As petroleiras presentes no Brasil, com a exceção de Petrobrás, Statoil, BP e Chevron, também fizeram apresentações detalhadas sobre seus planos no País, mostrando que todas elas – Shell, QGEP, Barra Energia, Ouro Preto Óleo e Gás, Repsol Sinopec e Total – continuam com grandes planos para suas operações brasileiras, apesar de demandarem mudanças regulatórias no setor nacional. O sinal dado por elas é de que há, sim, grande interesse no mercado do Brasil por parte dos operadores, mas, para que os investimentos sejam potencializados, é preciso de uma resposta do governo para que o mercado se torne mais atrativo e amigável ao capital privado.

A agenda do IBP foi reafirmada algumas vezes, em diferentes painéis, não só pelo presidente Jorge Camargo, com também pelas outras petroleiras, que têm se aproximado mais do instituto na crise e buscam soluções conjuntas para algumas de suas pautas.

A ANP também deixou a mensagem de que está trabalhando bastante para tentar disponibilizar novas áreas e oportunidades para exploração e investimento no Brasil, mas na esteira dessa tentativa de atração precisou mudar de postura, em função do realinhamento do Governo Federal em relação ao conteúdo local, agora flexibilizado. Todos os que defendiam essa flexibilização, com destaque para o IBP, garantem que a indústria local será resguardada neste processo, por meio de iniciativas que sustentem uma maior competitividade, mas os fornecedores de bens e serviços ainda estão muito receosos sobre isso, já que não há clareza até agora sobre quais serão os novos termos da política, modificada por enquanto de forma genérica pela criação do Programa de Estímulo à Competitividade da Cadeia Produtiva, ao Desenvolvimento e ao Aprimoramento de Fornecedores do Setor de Petróleo e Gás Natural (Pedefor).

O saldo da OTC 2016, apesar do pouco movimento na área do Brasil – e na feira como um todo, que contou com apenas 68 mil participantes, sendo que o evento chegou a receber 94 mil pessoas no auge da indústria, há poucos anos -, é bastante positivo para o mercado nacional, e os maiores responsáveis por isso são os empresários brasileiros independentes, que fizeram um grande esforço para marcar presença na feira e agora voltam ao País com uma esperança de que os negócios estão retomando a engrenagem, ainda a passos muito lentos, mas na direção de um novo momento. Eles merecem o crédito e os aplausos por não desistirem deste setor, que nunca viu uma crise tão dura no Brasil, mas que sairá dela fortalecido e com empresas ainda mais maduras.

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