METALÚRGICOS DO RIO GRANDE AINDA VÃO ESPERAR PARA VER A FORÇA DA INDÚSTRIA NAVAL VOLTAR PARA A REGIÃO
O Projeto Perspectivas 2022 abre espaço hoje (24) para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José do Norte, em Rio Grande, no Rio Grande do Sul. Essa era região especialmente promissora para empregos mas, de 2014 para cá, está comendo o pão que o diabo amassou em termos de falta de vagas na indústria naval. Benito Gonçalves acompanhou a fase boa, com milhares de empregos gerados; depois viu o mergulho, com o fim de outros milhares de empregos e, agora, enxerga novas perspectivas. Para ele, a chave está na obrigatoriedade do conteúdo local e nas pesadas multas para quem contrata em outros países. A visão dele é a de um sindicalista atuante. Vamos saber o que ele pensa.
– Como foi o ano de 2021 aí em Rio Grande, com tanta luta por trabalho?
– Infelizmente, nós como sindicato atuante, não temos como ver esses últimos anos com um olhar diferente de uma desconstrução do setor naval brasileiro. De forma voluntária e pessoal, aqui na Região Sul do país, tivemos a criação de mais de 108 mil postos de trabalho no setor diretamente. Isso sem contar com tudo que gira no entorno, com a simples e corajosa decisão de fazer os navios no país. Um Governo que pensou na renda dos trabalhadores, comércio e fornecedores. Este fato se mostrou positivo em um setor que agrega salários bons, condições diferenciadas e capacitação elevada da classe trabalhadora.
Vemos um despreparo ou uma má vontade política muito grave, para não pensar em um projeto de maldade contra quem ousou ver seus filhos engenheiros, técnicos, advogados, com possibilidade de não ter que sair de suas origens, seus habitats, para procurar empregos. Vimos também empresários crescerem, vimos um país sendo respeitado pela sua capacidade de formação de mão de obra capacitada. Vários programas de Governo com Bolsas nesse sentido pelo sistema S, vimos a retirada da multa do conteúdo local, que era de 70%, fato que colocava as empresas e consórcios brasileiros no páreo, pela briga com investidores. Agora, mais uma vez esse desgoverno doido, retira a multa deixando apenas os investidores estrangeiros e seus bilhões de dólares à vontade para vir aqui levar as encomendas sem ter alguém com poder de competitividade.
Também veio a reforma trabalhista, com a justificativa de criar empregos. Mas qual o emprego gerado de fato? Vendedor de balinhas nos sinais? Cuidador de carros nas ruas? Informalidade e criminalidade em alta. Desemprego é o que foi efetivamente criado. Inflação subindo como foguete descontrolado cada dia mais alto, retirada de direitos flexibilização das demissões, fim de políticas públicas e quase o enterro de um setor que alavancava o PIB do Brasil. Um Governo que governa para elites, para bancadas escolhidas, com liberação de emendas parlamentares em troca de voto na Câmara de Deputados, troca de votos para passar as questões importantes somente para o governo. Sem falar nos impostos e no combustível. Voltamos à época dos reis na qual faltava dinheiro e aumentava-se impostos para suprir as necessidades existentes.
– Que tipo de sugestões o sindicato dos metalúrgicos pode fazer para o governo?
– Primeiramente, a nossa opinião é que o governo deve voltar imediatamente com a multa de 70% do conteúdo local. Criar um projeto de incentivo a novos consórcios do ramo petrolífero e metal, além de outros ramos. Uma sugestão é que, ao invés de cobrar mais impostos, o governo crie artifícios legais onde, em parceria, as grandes empresas, sejam mais responsabilizadas com causas sociais, gerando cursos de qualificação, responsabilidades ambientais etc.
Que o governo volte a dialogar com as entidades, de maneira a conhecer diretamente os anseios e necessidades de cada classe. Dessa forma, que possa reunir todos os seus companheiros de governo e rediscutir um projeto social de empregabilidade urgente. Parece que, até o presente momento, o governo ainda não entendeu que o menos favorecido gera bem menos despesas quando está trabalhando, pois compra mais e, assim, gera impostos para seus municípios, fazendo com que diminua a demanda dos Estados e, consequentemente, para o governo federal.
Uma outra forma de diminuir gastos é acabar com as emendas parlamentares, pois todos nós sabemos que essas só servem para os deputados fazerem campanhas antecipadas em suas regiões. Os salários de políticos e suas vantagens bancariam muitos projetos sociais, hoje excluídos ou com pouca verbas.
Sugiro também a criação de grupos de fiscalizações em obras públicas em âmbito federal. Na pandemia, os valores foram elevados em tudo que se dizia respeito ao tema. São fatos que deveriam ser mais fiscalizados. Além disso, o Governo deveria diminuir os cargos de indicações diretas, hoje utilizados também para fins políticos partidários e que, na maioria das vezes, empregam pessoas sem qualquer qualificação para os altos salários recebidos e suas vantagens. São fatos que somados, aumentariam a receita governamental para atender em muito mais às demandas das classes menos favorecidas. Deveria ocorrer também uma facilitação no processo de compra e venda das pequenas empresas, gerando assim mais emprego e mais impostos internos em seus processos com a quantidade de negócios, fortalecendo os municípios.
– E quais são as perspectivas para 2022?
– Em relação a 2022, a nossa perspectiva é de que uma nova eleição mostre o descontentamento da população no descaso de um projeto de governo que não priorizou a mão de obra e a geração de emprego – fato muito importante e a chave da geração de renda interna de um país. Quando a saúde financeira da população está bem, toda a economia também anda bem. Também esperamos que os poderes legislativo, executivo e judiciário mostrem a sua real importância na vida do cidadão, pois este ano que passou passamos apenas nos bastidores assistindo qual ladrão pode ou não pode ser investigado, enquanto a população vai presa por roubar comida. Fato lamentável é viver em um país onde a discussão não é sobre qual crime alguns cometem, mas sim quem pode ou não pagar por eles. Rezamos para que os estaleiros espalhados pelo Brasil possam voltar a trabalhar para a Petrobrás. E assim, a Petrobrás volte a cumprir com seu papel de Estatal Brasileira, gerando empregos para seu povo e não enriquecendo quem já vive de exploração internacional.
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