NORTE DO RIO VIVE RENASCIMENTO DO SETOR SUCROALCOOLEIRO, COM AUMENTO DA COLHEITA E GERAÇÃO DE EMPREGOS
Mesmo em meio aos desafios da economia do país, o município de Campos dos Goytacazes, na região norte do estado do Rio de Janeiro, vê novamente o despertar de um segmento que já lhe trouxe muitas glórias e riquezas no passado: a indústria sucroalcooleira. De símbolo da indústria da cana no século XIX, Campos viu a atividade encolher drasticamente ao longo dos últimos anos, reduzindo o número de 26 usinas para apenas três – com somente duas delas em operação. Mas o momento agora é outro. Um grupo empresarial, liderado pela Agromon, e a Cooperativa Agroindustrial do Estado do Rio de Janeiro (Coagro) somaram forças para reviver o setor sucroalcooleiro na região. A parceria já tem resultados: uma das usinas desse grupo, Sapucaia, terminou a última safra com 900 mil toneladas de cana moídas. O grupo também irá iniciar no ano que vem as atividades de uma outra planta, a Usina Paraíso. “O negócio sucroalcooleiro ressurgiu, graças a esse entendimento empresarial, do qual temos o orgulho de estar participando”, comemorou o presidente da Agromon, Renato Abreu. “Só a usina do nosso grupo, entre funcionários de plantio, indústria, corte e embarque, está empregando mais de 4 mil pessoas”, completou. Em entrevista ao Petronotícias, o empresário revelou que a expectativa para a atual safra é moer 1,2 milhão de tonelada. Ele lembrou também que o grupo empresarial ampliou sua plantação de cana, proporcionando uma receita anual de mais de R$ 1 bilhão para Campos e região.
Para começar nossa entrevista, o senhor poderia relembrar aos nossos leitores como começou esse movimento de reavivamento da indústria sucroalcooleira no Norte Fluminense?
Em 2010, a Usina Sapucaia, no município de Campos dos Goytacazes, entrou em recuperação judicial. Tratava-se da maior usina de açúcar e álcool da região. O parque industrial da usina foi colocado em leilão pela Justiça. Em 2013, um grupo de empresários arrematou o parque industrial da usina Sapucaia. Logo após, o grupo contratou a Coagro para operar essa indústria. A Coagro fez uma grande reforma na empresa e, dois anos depois, na safra de 2015/2016, fez a primeira moagem de cana.
Naquela altura, a região Norte Fluminense tinha apenas outras duas usinas operando. Uma delas era a Usina Paraíso, de açúcar e álcool, que entrou em recuperação judicial em 2017. Dois anos depois, o grupo empresarial também arrendou essa empresa, com o objetivo de ter uma usina do lado esquerdo do Rio Paraíba do Sul e outra do lado direito.
Poderia detalhar agora os primeiros resultados da Usina Sapucaia?
Na primeira safra de Sapucaia, em 2015/2016, nós conseguimos moer 450 mil toneladas de cana. Essa unidade tem capacidade para moer até 2 milhões de toneladas. Ao longo dos anos seguintes houve um aumento de produção até que, no ano passado, chegamos a moer 900 mil toneladas.
Agora gostaria de ouvir também sobre a segunda usina, a de Paraíso. Como estão os trabalhos de reativação dessa planta?
A Usina Paraíso está parada desde 2018. No momento, a Coagro e esse grupo empresarial estão fazendo um trabalho de remodelagem da unidade. Estamos agora finalizando um estudo para preparar essa usina, visando moer cana já no ano que vem. Nossa meta é moer 400 mil toneladas nessa usina. Temos um plano de chegar, ao todo, a 2,2 milhões de toneladas na região e uma meta, nos próximos dois anos, de atingir 3 milhões de toneladas.
Quais foram os investimentos realizados na região visando a ampliação da colheita de cana-de-açúcar?
Nós começamos a plantar cana-de-açúcar em áreas da própria usina Sapucaia. Renovamos os canaviais que estavam abandonados e plantamos 8 mil hectares. Isso animou os outros pequenos produtores da região. Hoje, esse nosso grupo arrendou as terras do grupo Othon. Já estamos chegando a 18 mil hectares de plantação, incluindo os parceiros.
A produção de cana na safra de 2015 terminou com cerca de 1,1 milhão de tonelada para toda a região. Nos dias de hoje esse número dobrou, totalizando 2,2 milhões de toneladas. Isso gera uma receita anual estimada em mais de R$ 1 bilhão para o município e região, levando em conta o corte, o transporte e o embarque de açúcar e álcool. O negócio sucroalcooleiro ressurgiu, graças a esse entendimento empresarial, do qual temos o orgulho de estar participando.
Importante mencionar que todo esse processo é liderado por duas pessoas: Frederico Paes, que é o presidente da Coagro; e Paulo Bastos, que é o diretor financeiro e técnico. Nós estamos revolucionando e revivendo o que já foi o Norte Fluminense na indústria sucroalcooleira. E isso se deve muito a esses dois.
O agronegócio tem um peso decisivo na economia brasileira, especialmente nesse momento atual de pandemia e recessão. Gostaria de ouvir suas considerações sobre a importância desse setor para o país.
O agronegócio sempre foi a locomotiva do Brasil e sempre será. Alguns ainda acham que o agronegócio é uma atividade primária. Já foi, mas não é mais. Hoje, para se ter uma boa produtividade, são necessárias muitas tecnologias. Os equipamentos de plantação e as colheitadeiras, por exemplo, são controladas por satélite. A análise da cana-de-açúcar, da soja e do algodão é feita automaticamente.
O negócio mudou e deixou de ser uma atividade primária. Isso tudo fez com que o Brasil se tornasse o número 1 em alguns setores do agronegócio. Por exemplo: somos os maiores exportadores de soja, carne bovina e carne de frango. Então, o mundo é dependente do Brasil no agronegócio. O nosso país é respeitado como primeiro mundo nesse setor.
Para se ter uma ideia, o saldo da balança comercial do agronegócio brasileiro no mês de março foi de US$ 12 bilhões. O saldo do agronegócio do país tem sido, nos últimos anos, acima de US$ 100 bilhões.
Olhando para o Norte Fluminense, quais são os impactos positivos desse renascimento da indústria sucroalcooleira em termos de geração de empregos?
Só a usina do nosso grupo, entre funcionários de plantio, indústria, corte e embarque, está empregando mais de 4 mil pessoas.
Como está a expectativa para a safra atual?
A safra começou esta semana e vai até o final de outubro, início de novembro. A nossa ideia é moer 1,2 milhão de tonelada de cana-de-açúcar, fazendo 70% de álcool e 30% de açúcar.
De que forma a produção de álcool e açúcar é comercializada?
A Petrobrás, a Raízen e a Ipiranga são os três clientes da nossa produção de álcool. Já o açúcar é vendido na região. Fazemos açúcar cristal e temos uma marca própria, abrangendo os mercados de Minas Gerais, Norte e Noroeste do Rio de Janeiro e Espírito Santo.
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