NOVA DIRETORIA DA AMAZUL BUSCA DIVERSIFICAÇÃO DE ATUAÇÃO E NEGOCIA PARTICIPAÇÃO EM ANGRA 3
Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –
A nova diretoria que recentemente tomou posse na Amazul já tem planos bem definidos para a companhia, que incluem a sua independência financeira, a diversificação de atuação e, claro, o fechamento de novos negócios. O Petronotícias publica nesta terça-feira (13) a primeira parte da entrevista com o diretor-presidente da Amazul, Antônio Carlos Soares Guerreiro, que revelou quais serão as prioridades de sua gestão. “A empresa já observou que estamos restritos à área nuclear e, de certa forma, a sistemas e ao desenvolvimento de sistemas submarinos. Sentimos a necessidade de abrir o leque e diversificar, principalmente em função das capacidades que nós temos”, afirmou. “Hoje, já estamos prospectando novas áreas para participarmos do desenvolvimento de tecnologia em outros setores”, complementou. Mesmo diversificando, a Amazul mantém os pés bem fincados na área nuclear. Recentemente, a empresa fechou um acordo para participar da extensão da vida útil de Angra 1 e agora está negociando sua presença nas obras de Angra 3, quando estas forem retomadas. Guerreiro detalha ainda como estão as conversas em relação a projetos das Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e o andamento do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB). Amanhã (14), na segunda parte da entrevista, traremos as novidades acerca do submarino nuclear, da gestão de conhecimento do corpo técnico da companhia e de um projeto de um coração artificial em parceria com o Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia.
Quais são as prioridades da sua gestão?
A maior prioridade de todas para nós é reforçar o compromisso que temos com três grandes programas: o Programa Nuclear da Marinha, o PROSUB [Programa de Desenvolvimento de Submarinos] e o PNB [Programa Nuclear Brasileiro]. Esses são os três programas que estão no objeto social da empresa e continuamos com total prioridade para eles. Mas agora, temos coisas novas e que subiram de importância, em termos de prioridade da empresa.
A primeira delas é um aspecto que observei logo que cheguei à Amazul – que é de suma importância em termos de desenvolvimento de tecnologia para o país. Apesar de ser uma empresa estratégica, com corpo técnico muito bem qualificado em uma área muito sensível, nem sempre conseguimos passar para a sociedade a importância da Amazul. Então, uma das prioridades hoje é mudarmos as formas que apresentamos a comunicação da empresa. Estamos reformulando isso, de forma que priorize nessa comunicação a sociedade como um todo e a importância do papel da Amazul para a sociedade brasileira.
Outro aspecto importante que estamos priorizando é que a empresa já observou que está restrita à área nuclear e, de certa forma, a sistemas e ao desenvolvimento de sistemas submarinos. Sentimos a necessidade de abrir o leque e diversificar, principalmente em função das capacidades que nós temos. Hoje, já estamos prospectando novas áreas para participarmos do desenvolvimento de tecnologia em outros setores, que não sejam exclusivamente sistemas de submarinos e a área nuclear.
Há mais um aspecto que eu diria que é uma prioridade. Ele se refere a um movimento para permitir que a empresa busque uma autonomia orçamentária. Hoje, a Amazul é dependente do Tesouro. Quem paga os salários da empresa é o Tesouro Nacional e quem cuida de prover o custeio da empresa é a Marinha do Brasil. Ou seja, conta de luz, o pagamento de limpeza, serviços de segurança, etc. Isso é o custeio que a Marinha paga.
E como pretendem alcançar essa autonomia?
Para buscar essa autonomia orçamentária, o primeiro passo seria conseguir estruturar negócios que permitam à empresa, no curto prazo, desonerar a Marinha desse custeio. E, no passo muito mais largo, a longo prazo, gerar um volume de negócios que permitirá no futuro que a Amazul possa aspirar a ser independente do Tesouro.
Em quais novos negócios a Amazul pretende entrar?
Temos novos negócios dentro da área do PNB. Nós assinamos um convênio com a Eletronuclear e vamos participar da extensão da vida útil de Angra 1. Estamos também tratando já com a Eletronuclear da participação da Amazul na conclusão das obras de Angra 3.
Além disso, estamos negociando com a INB a nossa participação no projeto da Unidade Comercial de Enriquecimento de Urânio, que é uma expansão da área de produção de combustível nuclear. A Amazul poderá participar do projeto das instalações que irão receber as futuras cascatas de centrífugas.
Também estamos negociando com a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) o projeto do Repositório Nacional de Resíduos de Minérios de Baixa Intensidade. Na área nuclear, nós temos ainda um convênio com o IPEN [Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares] para o desenvolvimento de pessoal que cuida da parte de logística e controle de qualidade da produção de radiofármacos. Ou seja, dentro da área nuclear já estamos diversificando nossa atuação.
Mas além disso, pela característica do nosso corpo técnico, nós podemos iniciar novos projetos em diversas áreas de pesquisa onde o Brasil tem necessidade de se desenvolver. Estamos levantando em quais novas áreas podemos atuar.
Como será a atuação da Amazul no projeto de extensão de Angra 1?
A usina de Angra 1 começou a sua operação em 1982 e, efetivamente, começou a gerar energia no sistema elétrico nacional em 85. A unidade vai completar 35 anos de operação. Para poder estender a vida útil por mais 20 anos, uma das tarefas que conseguimos visualizar é a atualização dos sistemas, em função das normas internacionais para operação de usinas nucleares. Esse é o primeiro trabalho. Vamos verificar a adequação das instalações e as normas internacionais para operação de usina nuclear. Além disso, serão estudados todos os sistemas e as suas documentações para verificar se esses sistemas podem ser prolongados ou não. Ou seja, estudar a aceitabilidade de permanecer ou não com certos equipamentos e sistemas em operação. Isso tudo será analisado. Em alguns casos, podemos recomendar que um ou outro equipamento seja substituído. Em linhas gerais, é esse o trabalho que nós vamos realizar.
E em Angra 3? Quais são as perspectivas de atuação?
Em Angra 3, é um pouco diferente. Como se trata de uma retomada de construção, vamos trabalhar na revisão dos documentos que já foram produzidos. Também vamos produzir muitos documentos de engenharia e de projeto de engenharia para a conclusão da obra, além de acompanhar a instalação dos sistemas que integrarão a usina. Em linhas gerais, é isso. Estamos em adiantada negociação com a Eletronuclear e acreditamos que também vamos participar desse projeto.
Poderia nos atualizar também sobre o andamento do projeto do RMB?
O RMB é um projeto em parceria com a CNEN. Já desenvolvemos, há algum tempo, o projeto básico e estamos no momento desenvolver o projeto detalhado. Estamos bem nesse projeto, com previsão de conclusão do projeto [detalhado] para o próximo ano. A nossa previsão é que sejam gerados cerca de 7.500 documentos para finalizar essa fase de projeto. A previsão de início da parte de execução e construção é para o final do ano que vem ou início de 2021. Mas tem algo que nos preocupa – o fato do projeto ainda não ter a garantia dos recursos para o início da execução.
O RMB está orçado em torno de 500 milhões de dólares e ainda não temos a garantia desse total sinalizado nos ministérios que irão participar do programa. Entenda-se aí o próprio Ministério de Ciência Tecnologia e Inovação, que é o dono do projeto; o Ministério da Saúde; e o Ministério de Minas e Energia. O Ministério da Defesa já participou com um valor bastante alto, com a cessão de 1,2 milhão de metros quadrados de área para o sítio do RMB. A outra parte foi desapropriada pelo Governo do Estado de São Paulo.
Já foi iniciado, em Aramar (SP), o enriquecimento do hexafluoreto para produção de combustível do RMB. Outro importante parceiro do RMB será o Ministério da Agricultura, na medida em que se verifique a vantajosidade de incrementarmos, por exemplo, a exportação de alimentos através da radiação destes.
O senhor enxerga a médio ou longo prazo a garantia desses recursos?
Sim, acredito piamente que sim. O Ministério da Saúde já sinalizou com parte desses recursos. Existe o interesse de participação do Ministério de Minas e Energia, que também já sinalizou com uma parte de recursos. Mas ainda não temos esses cerca de 500 milhões de dólares integralizados. Precisamos fechar isso para darmos o pontapé inicial. Esse pontapé inicial, por sua vez, caberá à CNEN. Eu acredito também que a coordenação da fase de execução do projeto fique à cargo da Amazul.
Queria retomar também a questão dos projetos relacionados à INB. Quais são os empreendimentos em negociação?
Na Usina Comercial de Enriquecimento de Urânio, estamos negociando o desenvolvimento do projeto das instalações que irão receber as próximas cascatas. Hoje, a INB tem capacidade de produzir parte do combustível nuclear da usina de Angra 1. Quando todas as cascatas estiverem instaladas e produzindo, a INB terá capacidade de produzir combustível para as três usinas nucleares (Angra 1, Angra 2 e Angra 3). A nossa participação, no momento, é no projeto das instalações que receberão essas cascatas.
Serão negociados, futuramente, outros contratos com a participação do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo para a produção de novas ultracentrífugas para a montagem dessas cascatas.
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