NUCLEP SE PREPARA PARA ATENDER DEMANDA POR PEQUENOS REATORES NUCLEARES NO BRASIL
Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –
O Plano Nacional de Energia (PNE 2050) enxerga a possibilidade do Brasil expandir sua capacidade de geração nuclear em 10 GW até 2050. Dentro desse contexto, o documento vê a possibilidade do Brasil desenvolver novas usinas usando a tecnologia de pequenos reatores modulares (SMRs) a partir do ano de 2030. De olho nessa janela que pode se abrir logo adiante, a Nuclep – maior caldeiraria do Brasil – não quer perder tempo. A empresa já está se preparando para atender às possíveis novas demandas que poderão surgir no Brasil relacionadas a reatores modulares. Foi o que revelou o presidente da companhia, almirante Carlos Seixas, em entrevista ao Petronotícias. “Eu realmente acho que os SMRs seriam muito importantes para o Brasil. É uma solução bastante inteligente, já que o país possui dimensão continental”, disse. “Eu diria que hoje, no Brasil, a única empresa qualificada para isso é a Nuclep”, completou Seixas. O presidente acredita que a tecnologia poderá ser usada para alimentar tanto os grandes centros urbanos quanto os locais mais isolados do país. Seixas também traz uma atualização sobre o andamento de entrega de equipamentos para a usina de Angra 3 e fala sobre a expectativa de participar da instalação de alguns deles.
A Nuclep já está se preparando para as possíveis demandas no futuro para construção de SMRs no Brasil?
A Nuclep é a única empresa do setor nuclear brasileiro que tem qualificação técnica e disponibilidade para construção de qualquer equipamento para esse segmento. Não existe concorrente no mercado brasileiro que esteja apto e com vontade de construir todos os tipos de equipamentos nucleares.
A empresa está construindo os vasos dos reatores do LABGENE, que será o protótipo em terra do submarino nuclear da Marinha. Ou seja, a própria construção daquele reator, de certa forma, habilita e dá qualificação técnica à Nuclep para construir os SMRs. Sendo assim, temos engenharia, funcionários e equipamentos necessários para construir qualquer small reactor que o Brasil porventura deseje construir.
Ao seu ver, o que falta para o Brasil começar a construir reatores desse tipo?
A questão é que o Brasil precisa decidir a respeito do tema. Eu já participei de vários congressos e evento a respeito e recebi também diversas empresas para fazer parcerias. Nós temos o maior interesse em construir esse tipo de projeto. Mas, como eu disse, dependemos de uma decisão do país. Isso se trata de uma decisão política para que o Brasil adote esse tipo de reator, que poderá atender à demanda de energia que teremos nos próximos anos.
Se o Brasil estivesse crescendo na mesma proporção verificada no início do século 21, estaríamos agora com problemas de energia. A questão toda é que o PIB desceu e o Brasil travou. Então, o aumento da demanda por energia não se efetivou ainda. Mas, se Deus quiser, com o crescimento da economia, essa demanda por energia vai chegar e, nesse contexto, não tenho dúvida que a área nuclear vai crescer.
O Plano Nacional de Energia 2050 prevê que pode ser possível desenvolver projetos nucleares baseados em SMRs a partir de 2030. A Nuclep também enxerga essa possibilidade?
Sem dúvida. Não estamos esperando por 2030, queremos projetos deste tipo até antes dessa data. Mas, volto a dizer, essa é uma decisão de governo. Mas enquanto isso, estamos nos preparando. Buscamos uma parceira que possa elaborar o projeto para que a Nuclep construa esse tipo de empreendimento.
Eu realmente acho que os SMRs seriam muito importantes para o Brasil. É uma solução bastante inteligente, já que o país possui dimensão continental. Estamos buscando parcerias e temos total capacidade técnica para construir esses SMRs. Eu diria que hoje, no Brasil, a única empresa qualificada para isso é a Nuclep.
Qual seria a melhor aplicação para os SMRs no Brasil? Locais isolados ou grandes centros urbanos?
Eu acredito nos dois vieses. A instalação de pequenos reatores resulta em uma menor necessidade de linhas de transmissão. Então, vejo essa tecnologia como uma solução para os dois lados – tanto para lugares distantes quanto para os pontos estratégicos do Brasil. Isso é uma estratégia que está sendo adotada em outros países para atender a demanda por energia. Então, é uma solução bastante inteligente usar o SMR em várias posições estratégicas no país, demandando uma menor quantidade de linhas de transmissão.
Porém, o Brasil tem apostado nos últimos anos na expansão de outras fontes, como as renováveis e até mesmo a termelétrica…
Ninguém aqui quer tirar a importância da energia eólica e da solar. Mas essas são fontes complementares. A geração de energia de base precisa ser nuclear, termelétrica ou hidrelétrica. Mas há alguns poréns. A termelétrica é uma fonte extremamente poluente. O Brasil também já está em esgotamento de seu potencial hidrelétrico. Além disso, é muito complicado construir uma hidrelétrica no Brasil. Então, eu diria que a sinalização é que a energia nuclear é a mais pura e simples de ser construída no país.
O Brasil ainda tem uma baixa utilização de energia nuclear. Somos um país com 210 milhões de habitantes e 8 milhões e 500 mil metros quadrados de área. É necessário aumentar a capacidade nuclear com reatores de grande porte, mas também com os SMRs. Eu torço por isso e nós, da Nuclep, não vamos esperar até 2030. Queremos que isso aconteça o mais rápido possível.
Para fechar nossa conversa, poderia nos atualizar sobre os demais projetos nucleares que estão sendo tocados pela Nuclep?
Em relação aos equipamentos para Angra 3, são ao todo oito acumuladores para a usina. Seis já estão prontos e dois estão em fase de testes. Além disso, dois condensadores já foram entregues. O terceiro deve ter sua construção concluída em 2021 e será entregue até o final do ano.
A Nuclep tem também grande interesse em participar da instalação de alguns equipamentos de Angra 3. Já temos conversas com a Eletronuclear nesse sentido. Como eu falei antes, temos mão de obra qualificada e expertise. Uma parte dos condensadores de Angra 2 foi instalada pela Nuclep. Isso nos habilita a para participar da instalação dos condensadores de Angra 3.
Temos ainda o interesse no Reator Multipropósito Brasileiro (RMB). O projeto básico já foi feito e agora está sendo finalizado o projeto detalhado. De posse do projeto detalhado, a Nuclep teria total capacidade de construi-lo. Existem interesses de outros países em construir o RMB, porque essa é uma área de tecnologia e de geração de emprego. Então, os outros países estão de olho. Mas a Nuclep tem total capacidade técnica para fazer isso. Então, estamos na briga para construir o RMB.
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