OS NOVOS REATORES MODULARES PODERÃO AUMENTAR A GERAÇÃO DE ENERGIA NUCLEAR NO PAÍS NOS PRÓXIMOS ANOS
O Projeto Perspectivas 2023 desta segunda-feira (9) traz uma participação muito especial do Professor Nivalde de Castro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), um professor conhecedor do nosso Programa Nuclear brasileiro, membro e coordenador do GESEL, o Grupo de Estudos do Setor Elétrico. A experiência que adquiriu através de todos esses anos faz dele mais do que um professor, mais uma referência internacional para o setor. Nesta entrevista, ele fala sore a realidade do programa nuclear do país, das oportunidades, das nossas potencialidades e também do uso da nova tecnologia do reatores modulares do futuro e o que poderá acontecer nos próximos anos. Vamos, então, saber o que o Professor Nivalde pensa sobre as atividades de geração nuclear no país:
– Como o senhor está vendo o momento nuclear no Brasil ?
– Estou vendo de forma positiva, na medida em que nos últimos anos houve um esforço grande no sentido de qualificar a política nuclear brasileira como uma política de Estado. Isso é muito importante, já que este é um setor de capital intensivo, com pouco prazo de maturação e algumas mudanças expressivas em curso.
Algumas dessas medidas incluem a tentativa formal e legal da flexibilização do monopólio para exploração de minérios; os registros dos estudos no PDE 2050 e do PDE 2030 em relação à construção de usinas nucleares; a retomada de Angra 3; e o rearranjo institucional da Eletronuclear, agora dentro de uma empresa pública. Então, isso é um cenário positivo e avaliamos que o novo governo, que pelo seu histórico de planejamento, política energética e de política pública, lá no começo do século XXI, indica a consolidação dessa base do setor nuclear.
– E sobre a construção de Angra 3 ?
– A retomada das obras de Angra 3 reafirma esse compromisso de manter e acelerar o desenvolvimento da energia nuclear brasileira, contribuindo assim para a reconstrução da cadeia produtiva nuclear. Isso é muito importante para um país em desenvolvimento e nesse cenário de transição energética, no qual a energia nuclear volta ao cenário do planejamento. Em suma, eu acho que é muito importante esse movimento de recomeçar Angra 3, como parte da retomada da energia nuclear no Brasil
– Como o senhor está vendo o avanço dos SMRs e as perspectivas já para 2023?
– Em primeiro lugar, essa tecnologia é disruptiva e ainda está sem uma rota tecnológica definida. Este é um ponto importante. Segundo, acho que essa tecnologia veio para ficar porque apresenta inúmeras vantagens em relação às grandes usinas. A primeira grande vantagem é o comprometimento de capital. Depois, surge a questão da segurança. Sempre há um medo ao construir uma grande usina nuclear, agora mais ainda com estas questões da Ucrânia. No entanto, com o pequeno reator, a instalação é muito mais fácil e não precisa de tanta água. Isso abre uma possibilidade muito grande para desenvolver uma cadeia produtiva, como se fosse uma linha de montagem.
Portanto, será uma grande vantagem notadamente para o Brasil – que já tem uma cadeia produtiva, tem uma reserva de urânio, sabe enriquecer urânio, e que tem uma demanda de crescimento muito grande. Os pequenos reatores poderiam servir bastante para reduzir os investimentos em linhas de transmissão e suportar melhor a questão da intermitência das usinas eólicas e solar. Eu acho que essa tecnologia vem para ficar, embora esteja ainda subordinada ao monopólio de Estado. Acho mais fácil encontrarmos mecanismos legais para atrair investidores para dar flexibilidade e atrair investidores.
Nós vemos esses pequenos reatores como uma grande possibilidade de desenvolvimento. O Brasil precisa preparar-se previamente, estabelecendo marcos regulatórios, porque a rota tecnológica ainda não está definida.
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