PERSPECTIVAS PARA 2015. COMO SERÃO OS NEGÓCIOS NO PRÓXIMO ANO?
O ano novo está chegando e o humor do mercado não muda. Pelo contrário, está cada vez pior. Com Graça Foster ou não, o certo é que a relação comercial com a Petrobrás será completamente diferente daqui para frente. O que vai imperar é o que o Centro de Excelência em EPC, ainda dirigido por Renata Baruzzi, vem pregando desde a sua criação: as obras precisam ter eficiência e produtividade. Sem isso, o caos que atingiu as construções das grandes refinarias, como a RNEST e o Comperj, se replicará para qualquer outro grande empreendimento, como acaba de acontecer com a UFN 3, que teve o seu contrato suspenso.
Para que isso ocorra, a estatal terá que obrigatoriamente fazer o seu dever de casa para tirar nota 10. E isso começa no projeto básico de qualquer empreendimento, evitando-se os famosos aditivos por mudanças nos projetos. É preciso começar uma obra sabendo-se o que quer, para depois não haver o risco dos aumentos nos preços, represamento de pagamentos e danos para toda cadeia de fornecimento, provocando danos às obras e prejuízos para a própria Petrobrás.
Na sequência do programa de se ouvir o que o mercado quer dizer, revelando as expectativas dos vários setores, levamos duas perguntas básicas:
1 – Como você está vendo as perspectivas para 2015?
2- Qual a sua sugestão para que tenhamos um ano produtivo na economia brasileira?
O Petronotícias voltou a ouvir alguns importantes formadores de opinião, como o empresário Nelson Guitti, sócio e diretor da Mare Investimentos, gestora focada em Private Equity no setor de petróleo e gás, com uma vasta experiência na Petrobrás, onde respondeu por importantes gerências, como a engenharia de gás, engenharia submarina, plataformas offshore, produção de petróleo etc. Veja a opinião dele:
1 – “Será um ano muito difícil para todos. Para o Brasil, será um ano de ajustes fiscais obrigatórios. Para as empresas e pessoas físicas, um ano de juros mais altos e de menos investimentos e consumo. No nosso setor tudo dependerá do nível de investimentos da Petrobrás, o que depende da capacidade de financiamento da petroleira depois da tempestade perfeita que a atinge.”
2 – “Poupança. É o que devem fazer os poderes públicos, as empresas e as pessoas físicas. Tem que ser um ano de ajustes para todos. Se fizermos isso nos dois anos que virão, temos chances de voltar a crescer como precisamos para suportar as necessidades de criação de empregos e de melhoria da qualidade de vida da nossa população.”
Ouvimos também um dos mais importantes jornalistas da mídia especializada, diretor do Grupo Brasil Energia, que edita a revista mais importante do segmento de petróleo&gás e energia. Celso Knoedt conhece a fundo este mercado e tem a seguinte opinião:
1 – “O plano político, com embates previsíveis entre o Legislativo e o Executivo no segundo mandato Dilma, preocupa. E com um governo tão centralista, o plano político dita o ritmo de muitas coisas no país, principalmente das atividades econômicas concedidas. A solução de muitos problemas de hoje necessita de mais autonomia e interesse público do governo e de sua base aliada. Por exemplo, como atender à demanda da indústria de óleo&gás do país além da capacidade financeira e gerencial da Petrobrás? Além disso, ninguém sabe o efeito que a atual operação Lava Jato poderá causar no Legislativo ou entre os ministros recém-nomeados. O Judiciário, por sua vez, também não escapa. Será confrontado pela opinião pública a fazer justiça ou não. Não me recordo de um momento assim na história recente do país, mas, enfim, é um caldeirão de problemas.
2-“No plano macroeconômico, a situação das contas públicas também preocupa. Das reservas de 400 bilhões de dólares, mais de 100 bilhões estão comprometidos com swap cambial e com a escalada do dólar, e tudo indica que essa parcela carimbada das reservas vai aumentar. Se a nova equipe econômica conseguir orientar a presidente a mudar o rumo da gastança e da irresponsabilidade fiscal, a deterioração poderá ser estancada e em algum momento – 2015- 2016? – o país poderá viver um novo círculo virtuoso, com inflação convergindo para níveis aceitáveis e o equilíbrio fiscal voltando a imprimir confiança a consumidores e investidores.
No plano setorial, o grande enigma é o que acontecerá com a Petrobrás no curto e médio prazos. Com o mercado mais esquivo a bancar seu plano de negócios, a estatal precisará ser confiável para não precisar pedir socorro ao Tesouro, mas ousada nos desinvestimentos inevitáveis e ter vontade de fato em compartilhar o mercado com outras petroleiras. No mercado cabe todo mundo, mas a indústria sofre com o monopólio de fato, embora não de direito.
Tudo vai depender da disposição da presidente em mudar a capacidade de convencer sua base aliada nessa direção. Isso inclui os nomes que irá indicar para a recuperação da credibilidade da Petrobrás.”
Em todo este contexto, importante ouvir também um advogado de peso e um dos mais requisitados no setor de óleo&gás por sua competência. José Eduardo Junqueira Ferraz, sócio do escritório Junqueira Ferraz, professor do IBMEC e também da Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro:
1 – “As perspectivas econômicas e de desenvolvimento, infelizmente, não são animadoras. Mas, como o brasileiro, em geral, e o empresariado, em especial, estão sempre lutando em condições adversas e desfavoráveis, espero que consigamos reverter o quadro e fazer deste ambiente de incertezas um manancial de oportunidades e realizações.”
2-“Para 2015 precisaremos de muita responsabilidade. Isso é o que precisamos nesse momento econômico.”
O Petronotícias também ouviu Flávio Guimarães, diretor da Radix, uma empresa de engenharia, com uma importante participação no mercado do Brasil e dos Estados Unidos. Veja a sua opinião:
1 – “Entendo que 2015 será um ano bem desafiador para os grandes segmentos industriais brasileiros e para as empresas de serviços que trabalham com eles. Grande parte de nossos clientes tem seus principais produtos (óleo, gás, produtos petroquímicos, minério e aço) enfrentando uma redução mundial em seus preços de comercialização. Isto leva consequentemente a uma redução de investimentos e custos, mas que pode também se tornar uma oportunidade de projetos de otimização operacional. A busca por projetos de eficiência energética e de produtividade tende a aumentar nestas épocas, abrindo espaço para que melhorias fora do radar no dia a dia da produção surjam e levem os processos produtivos a um outro nível de eficiência.
Nós na Radix já estávamos esperando por anos mais complexos desde 2012 e nos voltamos para a diversificação. Tanto geográfica, atuando em países como os Estados Unidos, quanto nos segmentos, como os de entretenimento, educação, alimentos e bebidas, por exemplo, que mesmo em momentos econômicos mais adversos costumam sofrer um impacto menor que o segmento industrial.”
2-“Nosso grande desafio aqui no Brasil é o da produtividade. Momentos de crise nos obrigam a parar para refletir em como ser mais eficientes, fazendo mais com um menor custo. Esta disciplina que devemos buscar ainda mais fortemente daqui pra frente. Ser mais ágeis, ter menos burocracia e entregar mais. E é algo que passa inexoravelmente pela qualificação e preparo das pessoas e das equipes. E isto não é feito de uma hora para outra. É um investimento que não pode ser deixado de lado, pois é a partir de pessoas e equipes mais capacitadas que as mudanças concretas vão realmente acontecer.”
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