PESQUISA REVELA AVANÇOS PARA MULHERES NO MERCADO DE TRABALHO OFFSHORE, MAS APONTA TAMBÉM PARA DESIGUALDADES
A palavra da moda nos últimos tempos no setor de óleo e gás é composta por apenas três letras: ESG. A sigla em inglês faz referência aos pilares de meio ambiente, social e governança e ganha cada vez mais força no meio corporativo da indústria de petróleo. O conceito de ESG prega, entre outras coisas, a igualdade de gênero, com uma distribuição equânime de cargos para mulheres em setores onde a presença masculina ainda é dominante. No ambiente de exploração e produção offshore, por exemplo, já há avanços nesse sentido, mas o caminho para a igualdade ainda é longo e exigirá novos esforços das empresas. Para entender melhor esse cenário, a Ocyan encomendou uma pesquisa ao Instituto Ipsos, visando traçar um panorama das percepções das mulheres que trabalham embarcadas no setor de petróleo. Ao todo, o estudo ouviu 60 trabalhadoras do segmento, que fizeram críticas sobre falta de oportunidades, machismo e a forma de abordagem de alguns homens nas sondas (que, em certos casos, chega ao assédio). Diante dos números revelados no estudo, a Ocyan irá liderar o lançamento de uma campanha especial, visando aperfeiçoar as condições de trabalho das mulheres no segmento offshore.
A distância da família, por conta dos longos dias embarcadas, foi uma das principais dificuldades apresentadas pelas mulheres (40%). Como se sabe, a rotina prevê, na maioria dos casos, embarque por 14 dias e folga nos outros 14. Contudo, as diferentes situações desagradáveis que estão relacionadas ao dia a dia profissional formam o grosso das reclamações: o tratamento diferenciado por serem mulheres é apontado por 38% das entrevistadas e 25% delas consideram o ambiente profissional preconceituoso. Quando se trata de situações desagradáveis, 27% das profissionais ouvidas disseram ter percebido um tratamento diferenciado por conta de seu gênero, como não delegação de atividades pesadas por considerá-las incapazes de realizar a tarefa. Uma parcela de 23% disse que já escutou comentários abusivos ou machistas a bordo.
A discussão sobre a necessidade da melhoria das relações de trabalho e aumento da participação feminina foi uma das principais mensagens captadas durante a pesquisa. Parte das entrevistadas, inclusive, já pensou em trocar de profissão – 48% afirmam que a desigualdade de oportunidades entre homens e mulheres foi o principal motivo para isso. Para 69% delas, homens têm mais chances de alcançar os cargos de lideranças no setor. Cerca de metade das mulheres (48%) afirmaram ser frequentes as situações em que homens duvidam da capacidade feminina em lidar com equipamentos pesados. Quase 40% disseram ser frequente ou muito frequente situações de contestação de decisões provenientes de mulheres.
Ao mesmo tempo, as mulheres ouvidas também revelaram pontos positivos da profissão. Apesar dos destaques negativos, a pesquisa também constatou que as trabalhadoras embarcadas avaliam que a situação tem melhorado. Para 83% das entrevistadas, há avanço no debate e na equidade nos últimos anos. A ação mais percebida por 72% das entrevistadas foi o aumento da contratação de mulheres.
“O número ainda é tímido porque, para 75% das mulheres, a falta de oportunidades direcionadas é o principal motivo para o baixo número de mulheres no mercado offshore. Em segundo lugar, destaca-se a percepção de baixo interesse das próprias mulheres devido ao distanciamento familiar“, avaliou o vice-presidente de Pessoas e Gestão da Ocyan, Nir Lander. “Mas já há avanços nesse aspecto, inclusive na nossa empresa, onde já temos líderes mulheres: uma gerente-geral de plataforma e uma comandante. Estamos investindo na atração por meio de parcerias estratégicas para capacitar mulheres e absorvê-las cada vez mais”, completou.
O levantamento indicou que a família é solidária na escolha profissional para 85% das entrevistadas. Contudo, aproximadamente 1/3 das profissionais não contam com uma rede de apoio para cuidar da casa enquanto estão embarcadas. Já 45% das mulheres ouvidas já pensaram em buscar uma outra carreira diante do desafio de conciliar as obrigações domiciliares com a profissão.
A pesquisa será a base para o lançamento de uma campanha chamada “O mar também é delas“. Entre as medidas está a criação de uma plataforma digital para consolidar informações e experiências que possam inspirar ações que levem a mudanças no setor, além de um marketplace de oportunidade de trabalho no setor, cujas posições são para todos, inclusive para as mulheres.
“A Ocyan iniciou conversas com as associações e empresas de toda a cadeia do setor offshore e naval no país para compartilhar os resultados da pesquisa e buscar parceiros para a campanha ‘O Mar também é Delas’. Acreditamos que apenas uma mobilização do setor como um todo vai conseguir aperfeiçoar as condições de trabalho das mulheres offshore. Internamente, a Ocyan vai, nos próximos dias, apresentar a pesquisa para os líderes das sondas que fazem a contratação de mão de obra para ser mais uma ferramenta de sensibilização e a mudança começar desde já”, explicou Lander ao Petronotícias. “Diante dos resultados, temos que agir. As mulheres precisam sentir que estamos criando um ambiente mais confortável e estabelecendo políticas que fomentem a participação feminina, inclusive em cargos de liderança”, finalizou.
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