PETROBRÁS DESAFIA CONTEÚDO LOCAL E SE COMPROMETE A COMPRAR EQUIPAMENTOS CHINESES EM ACORDO COM BANCO

Quando a esmola é demais, o santo desconfia. O ditado se aplica hoje à indústria brasileira diante dos financiamentos obtidos recentemente pela Petrobrás com bancos chineses, em acordos que não foram fechados de graça e deverão agravar ainda mais a situação da cadeia nacional de fornecedores. Com um crédito de US$ 3,5 bilhões garantido em abril do ano passado junto ao China Development Bank (CDB), a estatal se comprometeu a destinar 60% do valor à compra de equipamentos chineses, em contratos que desconsideram as regras de conteúdo local e apontam um cenário de demandas cada vez menores para as empresas brasileiras.

O momento não tem sido fácil para os fornecedores, mas a gestão voltada ao corte de custos de Aldemir Bendine segue dando prioridade à contratação de serviços fora do país, o que agrava cada dia mais a situação do mercado nacional de óleo e gás. Segundo reportagem do Estado de S.Paulo, o mesmo modelo de acordo vem sendo replicado em todos os contratos firmados pela empresa com o banco chinês. O último financiamento foi anunciado no mês passado, em um total de US$ 10 bilhões contraídos.

A Petrobrás não confirma o condicionamento de compra, mas vem sendo cobrada pela falta de transparência nas negociações financeiras. Recentemente, a empresa foi obrigada a prestar esclarecimentos no Senado. Caso seja confirmado, o acordo com o CDB deverá criar novo embate entre a companhia e a Agência Nacional do Petróleo (ANP) devido ao desrespeito ao cumprimento das regras de conteúdo local, que preveem uma contratação mínima de empresas brasileiras para projetos no país. Sob a alegação de que os atuais índices de conteúdo não são factíveis, a estatal busca hoje outras vias para concretizar seus investimentos e em diversos casos já opta por pagar a multa de descumprimento em vez de arcar com os custos de manter o fornecimento local.