POLÍTICA DE CONTEÚDO LOCAL ALTERA MODO DE PARTICIPAÇÃO DE EMPRESAS FRANCESAS NO MERCADO DE PETRÓLEO BRASILEIRO

Por Bruno Viggiano (bruno@petronoticias.com.br) – 

Arthur OrlandoAs empresas francesas de petróleo e gás têm participação destacada no mercado brasileiro. Exemplos não faltam, como Total, Technip, Schlumberger e Vallourec, citando apenas algumas das maiores. Entretanto, muitas empresas francesas de pequeno e médio porte também miram o mercado nacional. Para ajudá-las nesse processo, existe a Ubifrance, agência francesa que cuida da internacionalização das companhias francesas no mundo. O assessor comercial de energia e meio ambiente da Ubifrance, Arthur Orlando, destacou que 80% das empresas francesas do setor industrial ligadas à agência, maior polo da agência, que inclui transporte e infraestrutura, são pertencentes à cadeia de petróleo e gás. Grandes empresas também buscam a agência para entrar no mercado brasileiro, como foi o caso da Actemium, pertencente ao grupo Vinci, comparável à Odebrecht. Segundo Arthur, a política de conteúdo local mudou a dinâmica de atuação das empresas francesas no Brasil, fazendo com que parcerias sejam criadas, quando a empresa não considera mais interessante a vinda por total para o país, sendo que a busca de bons parceiros locais para as companhias francesas também é um dos focos da Ubifrance.

Quais são as principais empresas francesas de óleo e gás que estão entrando no Brasil? Em quais projetos elas estão envolvidas?

A Absorger e a Actemium merecem ser destacadas. A Actemium faz parte do grupo Vinci, que poderia ser visto como uma Odebrecht francesa, pela importância do grupo. Aqui no Brasil, a empresa começou como Cegelec e agora foi rebatizada para Actemium. O projeto mais importante desenvolvido pela empresa no Brasil foi a parte de iluminação do novo Maracanã, com tecnologia que reduz o consumo elétrico e gera um ganho bastante significativo para o consórcio administrador. A empresa tem escritórios no Rio de Janeiro e em São Paulo, não ficando restrita exclusivamente ao mercado de óleo e gás, mas também trabalhando com infraestrutura. Isso é muito importante, porque as empresas de engenharia no Brasil têm sofrido com a falta de projetos, então a Actemium vem entrando forte em vários segmentos. Na área de energia, não só de petróleo, mas também as renováveis, ela está envolvida em alguns projetos. 

Ela tem algum foco específico em óleo e gás?

Ficando mais restrito a participação da empresa no mercado de óleo e gás, ela tem uma atuação tanto em upstream, quanto em downstream e midstream, porque a Actemium pode instalar tecnologia em barcos, plataformas, refinarias, assim como nas próprias sedes das empresas. 

Quantas empresas francesas estão atuando no mercado de óleo e gás brasileiro hoje?

Algumas centenas de empresas. Até o ano de 2012, a França estava entre os cinco maiores investidores no Brasil, de acordo com dados da Firjan. Na Rio Oil & Gas 2014, por exemplo, nós tivemos 37 empresas no Pavilhão Francês e mais de 15 em outros pavilhões. 

Como se dá a colaboração do Consulado com as empresas que pretendem entrar no Brasil?

A Ubifrance é uma agência francesa que cuida da internacionalização das empresas francesas no mundo. Nós contamos com cerca de 70 escritórios ao redor do planeta, em todos os continentes. Nós estamos ligados ao Ministério de Negócios Estrangeiros e à Embaixada da França aqui no Brasil. Nós realizamos workshops, encontros individuais, organizamos pavilhões franceses em feiras, entre outras ações. 

Qual a representação do setor de óleo e gás no total dos negócios das empresas francesas no Brasil?

Na Ubifrance, nós temos 80% das nossas empresas do setor industrial ligadas ao mercado de petróleo e gás. É um número realmente muito grande, passando setores que a França é internacionalmente reconhecida, como as áreas de luxo, agronegócios e transporte. 

Alguma empresa francesa está desenvolvendo algum produto exclusivamente para o mercado brasileiro?

Algumas adaptações são feitas para o mercado brasileiro, mas as tecnologias com que as empresas trabalham é de ponta e são utilizadas no mundo inteiro. Sobretudo de empresas que estão na área de processos, plantas de processos. Em relação ao pré-sal, existe uma dinâmica de produtos e serviços muito particular, então já começaram  a ser desenvolvidas tecnologias específicas para isso, contra a acidez, corrosão etc. Temos, por exemplo, a Neopolia, que é um cluster reunindo aproximadamente 80 empresas francesas, para as áreas de materiais, compostos, para dar uma oferta global para o mercado brasileiro para aquilo que o ele demanda. Essa empresa busca vir ao Brasil em parceria com grupos grandes como Technip, Schlumberger e Valourrec. 

A política de conteúdo local mudou o modo de atuação das empresas francesas no Brasil?

Sim. Com a política de conteúdo local, as empresas perceberam que é necessário ter um parceiro local ou se instalar no Brasil. A Ubifrance acompanha, normalmente, pequenas e médias empresas, que não têm capacidade de se instalar no país, então nós ajudamos na procura de bons parceiros. Mundialmente, encontrar bons parceiros é difícil, mas no Brasil mais ainda, porque a maioria das empresas não fala outros idiomas, são empresas pouco internacionalizadas, então não têm um conhecimento de gestão de contratos internacionais. A Ubifrance entra nesse momento também, ajudando ambos os lados, em parceria com a Firjan, a Fiesp, a Findes, enfim, as federações estaduais. Os franceses têm um grande desejo de parcerias no Brasil, até para, se for o caso, estabelecer transferência de tecnologia. É necessário que o mercado local possa responder, se preparando para gerir projetos internacionalmente, abrir suas tecnologias quando necessário e compartilhar informações de ambos os lados.

Você poderia dar um exemplo de uma dessas parcerias?

É o caso da Prooceano, que tem foco no trabalho realizado no fundo do mar e hoje faz parte do CLS, um grupo que faz na França toda a imagem e monitoramento via satélite. Foram unidas as competências espacial com marítima para poder estabelecer uma joint venture, voltada ao atendimento das demandas de estudos de viabilidade, licenciamento ambiental e impacto de correntes marítimas aqui no Brasil. Outro exemplo é a Altus Logística, joint venture do grupo ILS Cargo com o Crystal Group, cuidando de toda parte de logística no Brasil e na França.

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