POLO NAVAL DE RIO GRANDE VIVE APREENSÃO COM AS ENCHENTES E PEDE POR OBRAS EM SEUS ESTALEIROS PARA RECONSTRUIR A CIDADE
O Petronotícias inicia o noticiário desta quinta-feira (16) abordando a situação do polo naval na cidade do Rio Grande, que fica no extremo sul da Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul. Ontem (15), a água chegou em partes que antes não havia chegado, no dia em que a enchente atingiu o seu maior nível na cidade. Como se sabe, o município é um importante polo naval do país, abrigando três grandes estaleiros, e há muito tempo sofre com a escassez de novas obras. A cidade já sentia os efeitos econômicos negativos do enfraquecimento do polo naval e agora se depara com os danos causados pelas enchentes. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio Grande e São José do Norte (STIMMMERG), Benito Gonçalves, conta que o estaleiro EBR já paralisou suas atividades por causa das enchentes e narra um pouco do sentimento na região: “Claro que o alagamento aqui não foi na proporção do que aconteceu em Porto Alegre, mas aqui há pessoas que perderam suas coisas e tiveram de sair de casa. Estamos muito nervosos, porque ainda não sabemos a proporção de como isso tudo vai chegar aqui”. O entrevistado também fez críticas ao governo federal, pedindo que o presidente Lula se conscientize da situação crítica do polo naval na região. Além disso, o sindicalista acredita que a reativação dos estaleiros na cidade será fundamental para ajudar na reconstrução de Rio Grande quando as águas baixarem. “Existe o ditado que depois da tempestade, vem a bonança, mas não se aplica nesse caso. Depois da tempestade, sentiremos o impacto de toda essa situação. As pessoas que estão em abrigos voltarão para casa e precisarão de recursos e emprego para reconstruir suas vidas”, declarou.
Como a situação das enchentes está afetando as cidades de Rio Grande e São José do Norte?
Nós estamos muito preocupados. Ainda não sabemos o que pode vir além disso, especialmente nas cidades de Rio Grande e São José do Norte, que são a “ponta do iceberg”. Toda a água das enchentes da região metropolitana no Rio Jacuí e no Guaíba só tem uma saída, que é justamente a cidade de Rio Grande, através dos Molhes da Barra. Essa água chega devagar, um dia um pouco mais, outro dia um pouco menos. Só com esse pouco de água que está vindo, já estamos com quase 2 mil famílias fora de casa. Claro que o alagamento aqui não foi na proporção do que aconteceu em Porto Alegre, mas aqui há pessoas que perderam suas coisas e tiveram de sair de casa. Estamos muito nervosos, porque ainda não sabemos a proporção de como isso tudo vai chegar aqui.
Quais são as suas preocupações em relação ao setor naval na região?
Nós estamos muito chateados. Apoiamos o presidente Lula por ser o mentor do setor naval gaúcho. Só que agora parece que ele se esqueceu da metade Sul do país. Só estamos vendo obras de plataformas da Petrobrás sendo direcionadas para Rio de Janeiro, Pernambuco e outros países. Enquanto isso, não vemos nada vindo para o polo naval de Rio Grande. O estaleiro EBR, em São José do Norte, deve terminar em junho um contrato que envolve 3,5 mil homens. Isso vai zerar o estaleiro.
Enquanto isso, no estaleiro Rio Grande, os trabalhos de descomissionamento da plataforma P-32 estão atrasados porque os tanques da unidade ainda estão com resíduos de petróleo e gás. Estamos muito indignados. Já fizemos movimentações e protestos. A Petrobrás e a Gerdau já enviaram representantes aqui para analisar a situação. A questão é: quem vai retirar esse produto de dentro da plataforma? Há um jogo de empurra entre Petrobrás e Gerdau. Enquanto isso, a metade Sul do país, que conta com três grandes estaleiros, não recebe novos projetos.
Como as enchentes impactaram as operações dos estaleiros?
O único estaleiro que estava funcionando parcialmente aqui no polo naval é o EBR. Mas o nível da água já subiu tanto que o estaleiro teve de suspender as suas atividades. Os trabalhadores atravessam para São José do Norte por meio de uma lancha, mas, tendo em vista que não há segurança para a travessia da lagoa no momento, o EBR já está há cerca de uma semana com suas atividades paralisadas.
Se tivesse a oportunidade de se dirigir ao presidente Lula e à Petrobrás, o que você pediria em relação à situação atual?
Se eu tivesse condições, eu pediria ao presidente Lula e à Petrobrás para olhar o tamanho do rombo que ficará nos cofres públicos. Porque essas famílias desoladas vão ter que reconstruir suas vidas. Toda essa conta vai ficar para o governo. Mas se essas pessoas tivessem pelo menos trabalho, a conta iria diminuir muito. Esses três estaleiros aqui de Rio Grande foram projetados e idealizados por esse governo do PT. Uma só plataforma na cidade de Rio Grande daria emprego para 5 mil homens e mulheres. Essas pessoas não ficariam dependentes de auxílios do governo, eles teriam condições próprias de reconstruir suas vidas. O governo não está sendo inteligente neste momento. A cidade de Rio Grande pode vir a ser uma das mais prejudicadas quando essa água descer pela Lagoa dos Patos, porque estamos falando em receber águas de mais de 12 municípios.
Quais seriam as soluções viáveis para mitigar os impactos das enchentes e do desemprego na região?
Como eu disse anteriormente, o polo naval de Rio Grande possui três estaleiros. Se o governo decidisse mandar [obras de] duas plataformas ou até mesmo obras para construção de módulos, já ficaríamos muito felizes. Se cada um dos três estaleiros fizer um pouco de obras de módulos, já seria possível empregar entre 5 mil e 10 mil pessoas. Isso iria desonerar os cofres públicos, porque hoje as pessoas estão desempregadas e dependentes de auxílios.
Não podemos impedir a força da natureza, só podemos rezar para que o impacto seja o menor possível. Mas podemos oferecer trabalho às pessoas. Existe o ditado que depois da tempestade, vem a bonança, mas não se aplica nesse caso. Depois da tempestade, sentiremos o impacto de toda essa situação. As pessoas que estão em abrigos voltarão para casa e precisarão de recursos e emprego para reconstruir suas vidas.
Deixe seu comentário