CENTRAL NUCLEAR NO NORDESTE TRARÁ BENEFÍCIOS SOCIAIS E ECONÔMICOS PARA A REGIÃO, AFIRMA ESPECIALISTA
Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –
O governo animou o mercado com o anúncio feito recentemente sobre os estudos de um potencial sítio que poderia abrigar uma nova central nuclear no Brasil. Trata-se de uma área no município de Itacuruba (PE), com possibilidade de receber até seis plantas. O conselheiro técnico da Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan), Carlos Mariz, foi um dos profissionais que trabalharam na avaliação da região, quando ainda era assistente da presidência da Eletronuclear. Ele destaca os aspectos positivos do sítio para receber uma nova central nuclear e também ressalta os benefícios socioeconômicos que este projeto poderia trazer para a região Nordeste. “Uma usina dessa vai demandar uma infraestrutura e muitos trabalhadores em torno da obra”, afirmou. Mariz será um dos palestrantes do “Fórum Internacional de Renováveis versus Nuclear”, organizado pela World Wind Energy Association, no dia 4 de julho, em Recife. No evento, ele falará sobre a proposta de levar a fonte nuclear para o Nordeste. “Esse projeto é um passo grande para desenvolver a região. Eu costumo dizer que Itacubura poderia ser a Suape do Sertão. Porque seria criado um polo em torno da usina, com indústrias e construções”, afirmou.
Gostaria que falasse um pouco sobre o tema da energia nuclear no Nordeste que irá abordar durante a palestra em Recife.
É importante caracterizar o papel da energia nuclear no mundo hoje, mostrando como a fonte está ao redor do planeta. Mas antes de falar especificamente sobre nuclear, preciso falar sobre a questão do sistema elétrico. O que fica sempre muito claro é que desenvolvimento econômico e geração de empregos estão associados a uma energia abundante, barata e confiável. Um país que tem essas três condições, tem a base para ter um desenvolvimento sustentável. É o que acontece na China hoje, por exemplo. Ela tem o maior programa nuclear do planeta, disparado. São 45 usinas em operação e outras 13 em construção. E ainda planeja fazer mais 170. O Brasil precisa aprender isso, dentro de suas características, para fazer algo parecido.
No Nordeste, temos um sistema baseado basicamente em hidrelétricas, eólicas, termelétricas e está sendo iniciando também um grande programa solar. Acontece que cada usina tem a sua característica. Por exemplo, eólica e solar são fontes intermitentes. E quanto maior um programa de fonte eólica na região, mais problemas de intermitência teremos, com quedas abruptas. Enquanto isso, o Rio São Francisco está cada vez mais restrito no que diz respeito a sua utilização para geração de energia elétrica.
O governo sinalizou que existe um estudo feito sobre um novo possível sítio no Nordeste. Poderia comentar sobre isso?
Eu fui coordenador regional da Eletronuclear no Nordeste. O Plano Nacional de Energia 2030 sinalizava 4 usinas nucleares no Brasil. Destas, duas eram no Nordeste e as outras no Sudeste. Por conta disso, foi criado aqui um escritório regional para fazer toda a parte de relação institucional e de troca de ideias. Os estudos de locação de sítio começaram no Nordeste, no final de 2009. Nós contratamos na época a Coppe/UFRJ, que trouxe uma metodologia de seleção de sítios baseada na EPRI (Electric Power Research Institute). São vários fatores necessários para se localizar um sítio, como disponibilidade de água, certa distância da população, estabilidade tectônica… enfim, todo um conglomerado de restrições.
E aqui na região Nordeste, fizemos uma pré-seleção de regiões às margens do Rio São Francisco, na Bahia, Alagoas, Sergipe e em Pernambuco. Até então, o trabalho foi todo feito sem visitas em campo. Depois, avançamos no passo seguinte que foi fazer as visitas em campo.
Aqui em Pernambuco, detectamos um lugar muito interessante, que é Itacuruba. Achamos o sítio muito bom, mas precisávamos de avaliação de outros especialistas. Trouxemos um dos maiores especialistas do mundo em escolha de sítios nucleares, que é o engenheiro Paul Rizzo. Estivemos na usina hidrelétrica de Paulo Afonso IV. Foi bem interessante porque o Paul Rizzo pôde observar a qualidade da rocha no local e fez a hipótese de que seria mesma encontrada em Itacubura. Com isso, ele reforçou a expectativa em relação ao sítio, porque o terreno oferecia uma boa base. Não é ideal escolher um terreno arenoso.
Que outros fatores contribuíram para a escolha desse sítio?
Havia uma restrição para que se escolhesse um sítio que comportasse seis usinas. Isso porque é um trabalho grande escolher um sítio para abrigar uma usina nuclear. Por isso, tem que existir a possibilidade de expandir a central, para que quando outras unidades forem construídas, não seja necessário escolher outro sítio.
Além disso, naquele local existe linha de transmissão passando perto, estradas, cidades com boa infraestrutura por perto, água, fundação… isso tudo é importante.
Quais serão os benefícios para o Nordeste caso esse projeto saia do papel?
Serão vários. O primeiro é de natureza energética. Quando existir uma central nuclear, a região passará a ter uma energia de base, que garantirá segurança energética. O Nordeste precisa de uma componente boa de base, dada a grande flutuação que tem ocorrido em virtude da geração de energias renováveis. O segundo benefício é do ponto de vista socioeconômico. Uma usina dessa vai demandar uma infraestrutura e muitos trabalhadores em torno da obra. Aquela região é relativamente carente. E sabemos que quando entramos com obras de usinas nucleares, há um benefício na estrutura do entorno, como estradas, hospitais, escolas, etc. Isso dará um grande impulso em toda a circunvizinhança.
Indo mais adiante, você terá toda a infraestrutura científica e de monitoramento ambiental que precisa ser montada no local. São equipes que sempre estarão monitorando o ar, a terra, a fauna, a flora, a água, etc. Isso dará um aumento de qualidade, no que diz respeito as informações sobre o ambiente.
Que outras vantagens o Nordeste passará a ter a partir do projeto?
Vou fazer um paralelo com a Coreia do Sul. Eles começaram a montar usinas nucleares na mesma época em que o Brasil começou a construir Angra 1. Sendo que eles continuaram construindo e fizeram 25 usinas. Nós ficamos com o nosso pequeno programa nuclear. A Coreia não apenas montou usinas, mas conseguir desenvolver áreas tecnológicas, como mecânica, eletrônica e química. Eles souberam absorver essa alta tecnologia que vem do fato de você construir e operar uma usina nuclear.
Esse projeto é um passo grande para desenvolver a região. Eu costumo dizer que Itacubura poderia ser a Suape do Sertão. Porque seria criado um polo em torno da usina, com indústrias e construções. É um projeto indutor de desenvolvimento, produzindo energia elétrica de qualidade para a região Nordeste e para o país.
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