ATRASO NA RETOMADA DE ANGRA 3 PREJUDICA GERAÇÃO DE EMPREGOS E IMPOSTOS NO RIO DE JANEIRO
Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –
O Rio de Janeiro vive uma crise econômica gravíssima, que ultrapassa a questão meramente contábil. Os cofres vazios do governo também estão impactando diretamente na vida da população, refém da violência e de serviços públicos de péssima qualidade. Diante de um cenário de calamidade, os caminhos para a retomada econômica fluminense precisam ser discutidos. O estado hoje possui as únicas duas usinas nucleares em atividade do País e também o terceiro empreendimento do tipo – Angra 3, ainda em construção. E é justamente a retomada de Angra 3 que pode gerar novas oportunidades de emprego e arrecadação para o Rio. O tema, inclusive, será debatido pela Assembleia Legislativa do estado (Alerj) no próximo dia 29, às 9h30. Na visão do presidente da Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan), Celso Cunha, os principais impactos diretos, com a retomada de Angra 3, seriam a arrecadação de, pelo menos, R$ 4 bilhões em impostos, além de R$ 54 mil empregos. “O investimento no setor trará impactos econômicos e sociais para o estado. Mas para isso, precisamos que o governo aporte recursos, libere a participação privada nos projetos e acelere as contratações“, afirmou.
De que forma a indústria nuclear pode contribuir para a recuperação do Rio de Janeiro?
Eu acho que primeiro fator fundamental para isso é a conclusão de Angra 3. O reinício das obras dará partida de imediato a todo o processo. A construção da usina, segundo estimativas apresentadas pela Eletronuclear, vai gerar R$ 4 bilhões em impostos ao longo dos anos. Além disso, a obra vai também proporcionar 54 mil empregos diretos e indiretos. Esses são os números que comprovam que, de imediato, o reinício das obras de Angra 3 não vai gerar só os impostos, como também empregos na região de Angra dos Reis e arredores.
Qual outro impacto seria gerado com o crescimento da energia nuclear?
Outro impacto positivo está ligado à INB (Indústrias Nucleares do Brasil), já que a liberação de recursos para eles também vai trazer impostos e empregos para o estado. E se nós agregarmos tudo isso com o fato de que a maioria das empresas do setor nuclear estão no Rio, chegamos a conclusão de que o investimento no setor trará impactos econômico e social para o estado. Mas para isso, precisamos que o governo aporte recursos, libere a participação privada nos projetos e acelere as contratações.
Como o senhor avalia a decisão de retomar Angra 3 apenas em 2019?
Eu acho que existe uma questão que vem antes desse tema de 2019. O plano decenal de energia apresentado pelo governo aponta a inauguração da usina de Angra 3 para 2026. Sendo que a obra está prevista para acabar em 2024. Então, precisa de ter um alinhamento nessas datas, e isso inclusive já foi discutido até pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética) para que o início da operação seja antecipado para 2024. Com esse alinhamento, a retomada pode até começar em 2018, mas depende também das negociações com a iniciativa privada. O presidente da Eletronuclear e da Eletrobrás já declararam que a conclusão de Angra 3 é uma prioridade. O Ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, em reunião com a Abdan, também reassumiu o compromisso de terminar a usina. A Eletronuclear precisa acelerar a retomada das obras. A empresa está negociando a entrada da iniciativa privada na conclusão. E o setor precisa que essa retomada aconteça em 2018.
O Rio teria espaços para abrigar novas usinas nucleares?
No passado, se falou muito em Angra 4. Mas não sei se existem planos na Eletronuclear para isso. Aliás, também não posso afirmar que a construção de uma próxima usina seria no Rio de Janeiro.
Quais serão os próximos passos da Abdan para fomentar o setor nuclear?
Além deste evento no dia 29 de agosto, na Alerj, a Abdan participará no dia 4 de setembro de outro evento que será promovido pela Marinha e a Câmara Federal de Deputados, na Escola Superior de Guerra. Neste encontro, vamos discutir o setor como um todo, dando um foco muito grande à questão dos reatores modulares. Isto pode ser uma maneira de incentivar à construção de usinas nucleares no Brasil, em conjunto com a energia solar e eólica – que não são energias de base. O Brasil tem a dificuldade de construir novas hidrelétricas, o que nos leva a investir na energia térmica. Como se sabe, existem várias modalidades de energia térmica e uma delas é a nuclear, que é uma fonte que ajuda a manter a matriz energética limpa.
O senhor mencionou os reatores modulares. O Brasil tem capacidade tecnológica para produzir esses equipamentos?
Nós temos capacidade de desenvolver esse tipo de tecnologia e ela tem algumas vantagens. A questão é discutir o quanto mais caro vai custar um reator deste tipo. Eles têm um custo adicional, a não ser que sejam fabricados em larga escala. Ainda não se sabe o custo adicional desses reatores. Uma das vantagens deles é que a área de interferência cai para 2 km. Isso é um grande ganho, mas precisamos rever o marco regulatório para o uso desse tipo de tecnologia.
Como a Abdan tem participado das discussões sobre o marco regulatório do setor elétrico?
A ABDAN participa das discussões sobre o marco regulatório pautando a necessidade da classificação clara da nuclear como energia limpa, para que isso apareça na legislação do marco regulatório. Temos feito sugestões ao Ministério de Minas e Energia e EPE no sentido de priorizar isso. As empresas privadas estão dispostas e querem discutir isso com o governo.
Não acho que gerar impostos é um argumento muito ético e nem moral. Gerar empregos, contratos, uma ‘movimentação’ no mercado é muito mais positivo.