PP ENGENHARIA DEFENDE PARTICIPAÇÃO PRIVADA NA CONSTRUÇÃO DE NOVAS USINAS NUCLEARES

Por Bruno Viggiano (bruno@petronoticias.com.br) – 

Francisco ChagasA declaração do ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, no final de maio, de que a usina Angra 3 deve ser a última nuclear a ser construída no modelo de obra pública foi apenas mais um passo em um caminho que vem sendo trilhado há algum tempo. A iniciativa privada quer participar das próximas obras e o governo federal tem outras prioridades orçamentárias. A questão passa, no entanto, por mudanças na Constituição Federal. Atualmente, atividades nucleares são exclusivamente estatais de acordo com o texto de 1988. O diretor da área de Energia e Novos Negócios da PP Engenharia, Francisco Chagas, defende que a PEC a favor da participação privada no setor nuclear seja votada para dar um novo ânimo ao segmento, fazendo uma ressalva de que algumas áreas, como exploração de minas e enriquecimento de urânio, deveriam permanecer nas mãos do Estado. No entanto, em relação à construção de novas usinas nucleares, o executivo acredita que a participação das empresas privadas seria o melhor caminho, permitindo ao governo concentrar investimentos em áreas carentes já que há investidores interessados em direcionar recursos para esses projetos. Chagas destaca a ampliação das matrizes solar, eólica e de biomassa, mas reitera que somente a nuclear tem potencial para substituir a geração hidrelétrica. O executivo é um dos destaques do VI Seminário Internacional de Energia Nuclear, que começa nesta quarta-feira (17), no Rio de Janeiro, e reunirá os principais representantes da indústria durante esta semana.

Como seria o modelo ideal para adequar participação estatal e privada nas novas usinas nucleares?

A participação mais efetiva da iniciativa privada no cenário nuclear nacional é algo que venho defendendo há anos, mas para que isso ocorra é preciso que as empresas assumam uma postura mais arrojada, se mostrando dispostas a entrar neste campo. É preciso que a iniciativa privada se livre da dependência que há hoje em dia em relação às estatais. Em todas as áreas nucleares temos o setor privado atuante, mas elas sempre estão amarradas ao governo. Atualmente, as atividades nucleares são exclusivamente do governo, no entanto, um país carente como o nosso deveria investir mais em atividades sociais diretas e deixar esse tipo de investimento tão alto para as empresas interessadas.

Como vê a PEC defendida pela Abdan para a inclusão da participação privada nos projetos nucleares?

Ela pode ser uma boa opção, mas alguns setores da área nuclear devem continuar na mão do governo. A exploração de minas e o enriquecimento de combustível são exemplos de atividades que têm que permanecer estatais. A proposta de PEC tem que garantir que setores estratégicos se mantenham estatais, mas outros setores não precisam ser, como a engenharia, por exemplo. A construção de novas plantas pode ficar a cargo da iniciativa privada sem nenhum tipo de perda ou risco para o país.

Há hoje no Brasil uma cadeia de fornecedores sólida para a construção de novas usinas?

Nós contamos hoje em dia com uma empresa de fabricação de equipamentos pesados, a Nuclep, que produz alguns materiais voltados para o setor nuclear. Para uma cadeia de fornecedores forte é preciso que sejam construídas novas usinas. Somente com a demanda por produtos e equipamentos se desenvolverá a cadeia de fornecedores.

Investir em energia nuclear é a melhor opção para o Brasil?

Hoje nós podemos ver que nosso país está carente de energia. Nossa principal fonte energética são as hidrelétricas, mas a construção de usinas seguindo o modelo de alguns anos atrás não pode mais ser feita, devido às legislações ambientais e outras questões regulatórias. A expansão das usinas solares, eólicas e de biomassa é excelente, mas essas fontes não sustentam um sistema integrado como o brasileiro. A nuclear pode sim ocupar esse papel, mas para isso é preciso superar todo o preconceito que foi criado em torno dela. As pessoas hoje em dia temem a energia nuclear por puro desconhecimento. A população desconhece o funcionamento de uma usina, o descarte de combustível, os critérios de segurança e etc.

Quantas novas usinas nucleares a PP Engenharia considera ideal para o Brasil até 2030?

O Brasil tem tido um desemprenho muito fraco na construção de usinas nucleares. Entre Angra 1 e Angra 2, nós tivemos um espaço de 16 anos, e entre Angra 2 e Angra 3, já se passam 14 anos. Esse intervalo é muito ruim para o desenvolvimento de tecnologia ligada ao setor, encarecendo todos os projetos. Nós avaliamos que se três usinas do porte de Angra 1 entrarem em operação até 2030, o Brasil ficará em uma situação mais confortável.

Que projetos a PP Engenharia desenvolve no setor nuclear?

A PP Engenharia é especializada na operação e manutenção de termelétricas, mas esse tipo de atividade dentro de uma usina nuclear é igual. As estações de trabalho são as mesmas, portanto, nós estamos ingressando nesse setor. Na obra de Angra 3 nós atuamos em parceria com a Engevix desenvolvendo um projeto na área de ventilação da usina.

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