SEM NOVAS LICITAÇÕES, MERCADO ONSHORE VIVE EXPECTATIVA POR NOVAS OPORTUNIDADES

A indústria do petróleo onshore no Brasil nunca será como dos países árabes, porém vem sofrendo bastante nos últimos anos, especialmente com a falta de rodadas de licitações para novos campos. Com produção muito pequena, se comparada à produção offshore, os campos terrestres são os mesmos, e, consequentemente, se aproximam cada vez mais da queda de produção e da ameaça da depletação. Para saber mais sobre o mercado de petróleo onshore no Brasil, o repórter André Dutra conversou com o diretor da ETX Drilling, Marcos Lopes.

Qual é a situação do mercado de petróleo e gás onshore no Brasil hoje?

Hoje nós sabemos de todas as possibilidades do mercado, conseguimos prever com bastante exatidão o futuro próximo dele. Infelizmente isto se deve à falta de licitações para novas áreas de prospecção. A maior novidade da indústria foi o início de produção nos campos da Bacia do São Francisco, que apesar de ter começado a produzir há pouco tempo, já haviam sido licitados há cerca de cinco anos.

Há quanto tempo não há licitações para campos terrestres?

Muito tempo. Há cerca de cinco anos que estamos sem nenhuma licitação. A última foi a da Bacia do São Francisco, e o setor está muito necessitado de novas áreas para prospecção. Chegamos a um ponto hoje em que é possível calcular, com certa precisão, quanto tempo as reservas terrestres poderão durar no atual ritmo de produção.

Como esta falta de licitações já afetou o mercado?

Tivemos algumas baixas, já que não havia muita perspectiva de novas licitações. A principal que eu posso citar foi a saída da Saipem do Brasil. Uma das maiores empresas de extração de petróleo e gás onshore do mundo simplesmente pegou seus equipamentos e foi embora do Brasil. Isto tudo porque é um mercado que, hoje, não tem perspectivas de futuro além da Bacia do São Francisco, que também já foi toda mapeada, e também não possui novas áreas para serem descobertas, uma vez que este levantamento já foi feito.

Você acha que uma nova rodada de licitações resolveria a estagnação do setor?

Ajudaria com certeza, mas eu acredito que para resolver de forma mais contundente o problema que o mercado de petróleo e gás onshore vive hoje no Brasil, é necessária uma mudança nos modelos que regem a exploração do petróleo sobre as áreas produtoras do combustível. Hoje em dia qualquer tipo de exploração de petróleo no Brasil é tratado da mesma maneira, seja ele terrestre, de águas rasas, profundas ou do pré-sal. Estes quatro, para mim, são bastante diferentes entre si, e deveria haver legislações específicas para cada um deles.

E como se encontra a ETX no setor?

Nós fornecemos sondas de exploração e de workover, que é um tipo de manutenção necessária após s queda de produção de um poço. Nosso principal cliente, sem surpresa alguma, é a Petrobrás. Das 22 sondas que temos afretadas hoje, 21 são para a Petrobrás, isto porque no Grupo UBX, do qual somos parte, temos uma empresa exploradora de petróleo onshore, a Cisco. Mas a presença da empresa no mercado só depende mesmo dos contratos. Eu não teria problema algum, se surgissem novas oportunidades, de aumentar meu portfólio para 220 sondas.

Existem problemas relacionados a mão de obra na exploração onshore?

Esta é uma questão interessante. Nós não sofremos com a ausência de profissionais tanto quanto o setor offshore, e na verdade ainda existe alguma produção no setor graças à política da Petrobrás de não abandonar nenhuma produção. Só para você ter uma ideia, existem poços dela que produzem dois, quatro, oito barris por dia. Nesses poços estão geólogos, engenheiros e outros profissionais tão demandados no setor offshore. Aí entra aquela questão de se eles seriam melhor aproveitados em outros poços, se a produção onshore deve ser abandonada. Quanto à ETX, o que falta é estimulo, por meio de contratos, para treinar funcionários, que pela falta de perspectiva atual do mercado podem muito bem ser atraídos pelas oportunidades do offshore, o que faz com que todo nosso treinamento tenha sido em vão.

Qual o potencial do petróleo onshore no Brasil?

Não somos nenhum país do Oriente Médio, que tem volumes imensos em campos terrestres, mas posso dizer com segurança que até hoje não exploramos nem 10% da nossa capacidade de produção em campos terrestres. Este percentual tem todo o potencial para aumentar, já que existe interesse das empresas da área neste setor. Porém faltam contratos. Isto por causa de uma inatividade do governo em termos de licitação e estabelecimento de um modelo de exploração diferenciado. Mesmo sabendo que nunca chegaremos perto do nível de produção do offshore e do pré-sal, ainda é um campo que pode ser bem mais explorado no Brasil.

Quais as vantagens da exploração de petróleo onshore?

A principal vantagem é o custo de produção do barril, que no offshore é de cerca de US$ 60, enquanto em campos terrestres este valor chega no máximo a US$ 15. No mais, a tecnologia utilizada é praticamente a mesma, exceto que no offshore você tem o limite de espaço imposto pela plataforma e também a questão da segurança, que tem que ser muito mais rígida do que em terra.

Você acredita que o governo deva tomar alguma atitude a respeito de novas licitações?

Se estamos aqui é porque temos esperança. Eu acredito que devemos ter alguma coisa em breve, senão a Petrobrás, com uma assinatura, iria transformar a indústria de exploração onshore em algo irrelevante no Brasil. Há conversas de que haverá uma nova licitação para áreas de prospecção em terra para maio de 2013, mas por enquanto não há nada concreto, não foi lançado edital e nem publicado em Diário Oficial.

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