MONTAGEM ELETROMECÂNICA DE ANGRA 3 SERÁ LICITADA EM MAIO

Por Paulo Hora (paulo.hora@petronoticias.com.br) – 

Depois de longos capítulos para levar adiante a construção de Angra 3, o edital de licitação da montagem eletromecânica da usina, que envolve R$ 1,930 bilhão, deve sair em maio. A informação foi dada pelo assessor da Presidência da Eletronuclear, Leonam dos Santos Guimarães (foto), em palestra durante o IV Seminário Internacional de Energia Nuclear, no Rio de Janeiro. Ele ressaltou ainda que a usina pode ter seu cronograma alterado novamente, mas não quis fazer previsões.

Serão dois pacotes de montagem na licitação, sendo um nuclear, estimado em R$ 850 milhões, e outro não nuclear, orçado em R$ 1,08 bilhão. Após a desqualificação técnica de outros concorrentes, sobraram apenas dois consórcios para disputar os dois pacotes. São eles Angra 3, formado por Techint, Queiroz Galvão e EBE, e UNA 3, formado por Camargo Correa, Andrade Gutierrez, Odebrecht e UTC.

Além de falar de Angra 3, o executivo da Eletronuclear fez um balanço profundo sobre a situação da energia nuclear no Brasil e no mundo, durante a palestra “Programa Nuclear Brasileiro”, em que apresentou dados atuais e projeções futuras sobre a produção de energia nuclear no país.

Antes do início da apresentação, Leonam esclareceu que não existe um documento oficial chamado “programa nuclear brasileiro”, apenas planos de médio prazo constantemente revisados. Segundo o representante da Eletronuclear, o Plano Decenal de Expansão (2021) restringe o aumento da oferta de energia nuclear à Angra III, mas estão sendo realizados estudos para a escolha de novos sítios nas regiões Sudeste, Centro-Oeste, Sul e Nordeste para a instalação de novas centrais, cujo prazo de conclusão é de dez anos após a escolha do lugar. “À medida que avança a tecnologia, fica a expectativa de redução desses prazos”, completou.

O palestrante também comentou sobre o Plano Nacional de Energia (2030), que projeta um crescimento limitado do potencial hidrelétrico brasileiro. “A partir do meio da década de 2020 o crescimento já fica menor. Depois, só piora”. Segundo Leonam, 90% da atual possibilidade de expansão da oferta hídrica está na Amazônia, onde há restrições quanto ao uso do solo, à distância dos mercados consumidores, à topografia, aos conflitos de uso da terra e à elevada relação máxima e mínima da energia natural afluente, que é a razão entre as energias máxima e mínima produzidas, causando um problema de regulação.

Devido a essas restrições à energia hidrelétrica, Leonam ressalta a crescente contribuição da energia térmica no Brasil. “É uma tendência irreversível, pois a capacidade de geração hídrica cresce mais que a de armazenamento dos reservatórios”. Segundo o convidado, caso as usinas Angra I e Angra II não estivessem em operação, seria preciso usar energia fóssil para atender às futuras necessidades de crescimento, o que daria um custo adicional de R$ 2,5 bilhões, além da emissão de mais 80 milhões de toneladas de gás carbônico, considerando os resultados entre os anos de 2002 e 2010. “Se a geração da energia nuclear brasileira fosse substituída por outras térmicas, o custo seria três vezes maior”, destacou.

Leonam também enfatizou o desempenho do Brasil na produção de energia nuclear. De acordo com o palestrante, no que diz respeito ao fator de disponibilidade, que é a produção efetiva de uma usina em relação a sua capacidade máxima de geração durante um determinado período de tempo, o país registrou, no ano de 2011, o segundo maior índice, atrás apenas da Eslovênia. “Foi um desempenho muito acima da média, não é mais algo marginal, de menor porte. Ainda não temos o resultado de 2012 em relação a isso, mas sabemos que produzimos 16 TWh de energia nuclear, um recorde. Para ter uma base de comparação, a usina de Itaipu teve uma produção anual máxima de 94 TWh”, completou.

Ao comentar o cenário mundial, Leonam admitiu que, devido ao acidente de Fukushima, houve, em alguns países, um atraso no desenvolvimento e no planejamento dos programas nucleares, mas que isso se restringiu a poucas nações, como Bélgica e Suíça, que não abandonaram completamente seus programas, e França e Alemanha, que já planejavam a diminuição de suas atividades do setor nuclear. “A posição do Japão também é ainda bastante incerta, mas é um equívoco dizer que todo mundo está abandonando. São 68 usinas nucleares em construção no mundo, sendo 29 só na China”. O palestrante também destacou que, após o acidente, as usinas do tipo BWR (boiling water reactor – que utilizam água fervente) perderam espaço para as PWR (pressurized water reactor – que utilizam água pressurizada), que representarão 54 das 68 novas usinas.

Quanto às conseqüências da tragédia para o Brasil, Leonam disse que, por mais trágicas que elas tenham sido, há a possibilidade de aprendizado. “Uma série de ações estão sendo discutidas para incluir essa lição nas usinas atuais e nas novas, especialmente no aperfeiçoamento de diversos aspectos relacionados ao projeto e à operação”, explicou.

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Maria Antonia

A questão da atuação atual e planejamentos futuros do Brasil quanto à energia nuclear não tem sido muito difundida à população.
Parabéns pela iniciativa!