SETOR ELÉTRICO DEFENDE MAIS PLANEJAMENTO E PEDE MUDANÇAS EM LEILÕES
Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) –
O primeiro painel do último dia do Rio Gas & Power Forum, no Rio de Janeiro, foi marcado pela defesa de mudanças na forma como têm sido realizados os leilões de energia elétrica no Brasil, assim como por pedidos de mais atenção com o planejamento da matriz energética nacional, que vem sofrendo pressões de diversos lados da sociedade, com sérios prejuízos para a segurança do abastecimento.
O diretor da Aneel presente no evento, José Jurhosa Júnior, destacou alguns pontos que têm gerado problemas para o setor, como os preços-teto baixos em alguns casos, a falta de integração entre os órgãos licenciadores e o atraso na aprovação de leilões A-5, que acabam ficando para o fim dos anos e reduzem o prazo efetivo de construção dos empreendimentos.
“A Aneel está preocupada com isso, dizendo principalmente que os leilões A-5 têm virado A-4, e nós somos frontalmente contra isso, porque não está dando tempo para os empreendedores cumprirem os prazos, o que gera prejuízo para todos. Para o empreendedor e para a sociedade”, afirmou.
Jurhosa falou ainda sobre a necessidade de haver mais conversa entre os diferentes órgãos envolvidos na liberação e no licenciamento de novas usinas, principalmente em relação às hidrelétricas, para que o processo seja mais ágil e mais produtivo.
“Cada vez mais estão se aproveitando dos empreendimentos elétricos para resolver outras áreas, que não têm necessariamente a ver com a questão ambiental. É preciso que haja mais conversa, com os órgãos e com a sociedade sobre a necessidade da energia. É muito fácil ser ambientalista tendo ar condicionado e cerveja gelada em casa”, disse.
A questão foi abordada após uma colocação feita pelo gerente geral de marketing da Petrobrás, Carlos Arentz Pereira, que defendeu o mesmo ponto, ressaltando a importância dos grandes reservatórios para as hidrelétricas nacionais. Ele citou o caso de Belo Monte, que tem capacidade instalada de 11.233 MW, mas poderia chegar a gerar menos de 2 mil MW em casos de baixa vazão do rio Xingu.
De acordo com Pereira, as hidrelétricas sofrem muita pressão da opinião pública, mas seu impacto efetivo é muito menor do que o do desmatamento, por exemplo. Segundo dados apresentados pelo executivo na palestra, todos os reservatórios de hidrelétricas brasileiras somam uma área inundada de 37 mil km², enquanto apenas na Amazônia o desmatamento devastou uma área total 407 mil km² entre 1987 e 2010.
“Não existe ‘a melhor matriz’. O que existe é a matriz mais balanceada, com o que é disponível e com o que a sociedade está disposta a pagar”, afirmou.
O presidente da Associação Brasileira de Geradoras Termelétricas (Abraget), Xisto Vieira Filho, também criticou a forma como a matriz nacional tem sido planejada, principalmente em relação aos leilões, e defendeu que o governo olhe as fontes de acordo com suas características próprias e fortaleça a matriz com mais energia firme.
“Uma fonte solar ou eólica é ótima, mas não dá confiabilidade. O que dá isso são as hidrelétricas e a geração térmica. Nos leilões, só os preços têm sido levados em conta, mas é necessário separar o custo direto do custo da confiabilidade, fazendo leilões separados por fonte”, afirmou.
O presidente da Abraget lembrou ainda que essa priorização dos preços baixos nos leilões, sem levar em conta a segurança energética, com mais geração firme, leva ao risco de momentos com preços muito altos, como o atual, causados pela crise hídrica.
“Um custo marginal de operação hoje está em cerca de R$ 1.400 o MWh. É necessário reduzir as distâncias das previsões feitas na época dos leilões em relação à operação real. Porque você calcula que vai ter um despacho médio de 40% e, quando chega a hora, está com 100%, como tem ocorrido. Isso gera problemas. É um reserva que joga o tempo todo”, afirmou, referindo-se às características das usinas térmicas, geralmente contratadas como energia de reserva, mas que atualmente vêm operando ininterruptamente na capacidade máxima.
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