SINDICATOS PRESSIONAM GOVERNO POR MUDANÇAS NA GESTÃO DE PAGAMENTOS DA PETROBRÁS

Manoel Vaz, presidente do Sinticom.Os sindicatos que representam os trabalhadores terceirizados em obras da Petrobrás iniciaram, nesta semana, um movimento para pressionar o governo a realizar mudanças na relação da estatal com as empreiteiras contratadas. Os líderes sindicais, que estiveram em Brasília na quarta-feira (4) para entregar uma carta ao ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, reclamam da forma como a petroleira tem tratado as negociações com as prestadoras de serviço.

As reclamações surgiram após seguidos problemas enfrentados por trabalhadores que foram demitidos de obras ainda em andamento, sem que tivessem suas rescisões pagas pelas contratantes terceirizadas pela Petrobrás.

A situação é fruto do novo método de reconhecimento do pagamento dos pleitos apresentados pelas empreiteiras à Petrobrás. De um lado, as empresas reclamam de excesso de rigidez da estatal, enquanto de outro a petroleira atribui as dificuldades das companhias à má gestão. Enquanto os dois lados se desentendem, os sindicatos afirmam que o problema acabou sobrando para os operários.

“A Petrobrás não pode continuar contratando empresas no formato que está fazendo. Tem muita gente quebrando com esse arrocho e quem está ficando com o pepino são os trabalhadores. Estamos que nem marisco, entre o rochedo e a maré”, afirmou o presidente do Sindicato da Construção Pesada e Montagem Industrial de São Gonçalo, Itaboraí e Região (Sinticom), Manoel Vaz (foto).

As reclamações giram em torno das demissões em massa que ocorreram em alguns empreendimentos, sem que os funcionários dispensados recebessem suas rescisões e seus direitos trabalhistas. Agora, os sindicatos de mais de oito estados recorrem ao Planalto para que mudanças sejam feitas.

HISTÓRICO 

O caso mais recente de problema enfrentado pela Petrobrás em relação a isso foi a greve realizada nas obras da P-58, no Polo Naval de Rio Grande (RS), quando o diretor Figueiredo teve que abortar seu dia de descanso em pleno feriado de 20 de novembro para lidar com a situação urgente. Poucos dias antes uma cerimônia oficial havia sido realizada no local das obras com a presença da presidente da República, Dilma Rousseff.

Os líderes sindicais se dizem cansados de resolver problemas de demissões no meio das obras e pedem uma mudança na gestão da Petrobrás, com o intuito de flexibilizar a relação com as empreiteiras e fortalecer a segurança para os trabalhadores.

Alguns casos marcantes envolveram empresas que atuam há décadas no setor de óleo e gás brasileiro e acabaram se vendo em posições complicadas. Uma das primeiras a reclamar da postura da Petrobrás nas negociações foi a Tenace, da Bahia, que pediu a falência em novembro de 2012 e recebeu a aprovação da justiça em outubro deste ano. Na época a empresa alegou que o projeto original de um contrato com a estatal precisou ser modificado em função de condições adversas encontradas no local da obra, realizada no Rio Grande do Norte, mas não obteve a aprovação da Petrobrás para os aditivos referentes aos custos extras que tiveram no empreendimento. A empresa empregava 3 mil funcionários.

Em janeiro deste ano foi a vez do aperto da GDK, que pediu recuperação judicial por dificuldades financeiras, sendo que boa parte de seus contratos eram relativos à Petrobrás. Em fevereiro, a Conduto também passava por um momento de aperto, quando sua dívida com credores chegou a cerca de R$ 80,6 milhões, fruto principalmente de problemas em uma obra na Refinaria Abreu e Lima (Rnest).

Em agosto, o caso da Multitek despertou de vez o sinal vermelho no mercado, quando a empresa anunciou a demissão de 1.700 empregados, reclamando de um débito da Petrobrás de R$ 245 milhões. Além do problema trabalhista, a questão gera atrasos, já que a empresa, que atuava no setor há 28 anos, paralisou as 13 obras em que estava trabalhando para a estatal.

Pouco depois, a Produman, que realizava serviços de manutenção na Refinaria de Duque de Caxias (Reduc), também deu um passo atrás, demitindo cerca de 1.500 pessoas sem o devido pagamento das rescisões. Outras empresas, como Jaraguá, Egesa, Sertenco e Lomater também passaram por complicações similares, mas o problema não parece ter sido muito bem avaliado internamente na Petrobrás, enquanto a defasagem do preço dos combustíveis em relação ao exterior tem dominado o papel central das preocupações no alto escalão da empresa.

A presidente da petroleira, Graça Foster, sempre que questionada, afirma que pleitos não significam compromissos, mas negociações. No final de setembro, ela reconheceu em entrevista coletiva que haviam sido realizadas algumas mudanças na forma de avaliação dos pleitos, mas não quis revelar o volume de recursos em discussão.

A briga, que antes estava apenas no âmbito das empresas, agora já envolve também as lideranças sindicais e os trabalhadores de companhias terceirizadas, alinhados em alguns pontos para encarar a Petrobrás.

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