SISTEMA DESENVOLVIDO PELA COPPE/UFRJ PARA DETECTAR MANCHAS DE ÓLEO SERÁ TESTADO NO MAR EM DEZEMBRO
Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) completará 100 anos em setembro. Nessa longa história, são muitos os legados deixados pelas pesquisas conduzidas pela instituição centenária. Recentemente, a Coppe/UFRJ anunciou um deles – o desenvolvimento de um sistema capaz de identificar vazamento de óleo nos oceanos, combinando uma embarcação autônoma (ASV) e um drone. A tecnologia, batizada de Ariel, foi contratada pela Repsol Sinopec Brasil, com recursos da cláusula de Pesquisa e Desenvolvimento da Agência Nacional de Petróleo (ANP), e está sendo concebida em parceria com as empresas TideWise e Farol. Para conhecer mais sobre a novidade e os próximos passos, convidamos o pesquisador Alessandro Jacoud, que coordena o projeto pelo lado da Coppe/UFRJ. Na entrevista, ele cita uma das vantagens do sistema, que é a maior precisão na hora de identificar manchas de óleo, eliminando falsos positivos. Além disso, Jacoud revela quais serão as próximas etapas, como um teste em mar, previsto até dezembro.
Gostaria de começar a entrevista pedindo ao senhor que nos contasse como surgiu a ideia de desenvolver este projeto.
O projeto Ariel é desenvolvido em parceria com a Repsol e mais duas empresas parceiras – TideWise (formada por ex-alunos da Coppe) e Farol. Em outro projeto anterior, também com a Repsol, desenvolvemos um mecanismo de estabilização de câmera térmica usada para visualização do mar e detecção de manchas de óleo. O objetivo era detectar rapidamente o óleo e acionar as equipes de emergência que controlam e removem a mancha.
Nesse projeto anterior, a tecnologia ficava fixa na embarcação, como um barco ou um FPSO. A ideia era desenvolver uma plataforma que estabilizasse a câmera, de forma que ele ficasse parada, mesmo com o balanço característico das embarcações. Então, a Coppe fez um mecanismo que compensa o movimento da embarcação para estabilizar a câmera.
Depois, percebemos que seria mais interessante dispor de uma embarcação autônoma para carregar esse dispositivo enquanto navega pelo mar. Decidimos então usar dois robôs: um aéreo (drone) e um barco autônomo. O barco autônomo navega pelo mar e o drone levanta voo sozinho e faz uma varredura usando sua câmera térmica. Quando detecta alguma mancha, o drone retorna ao barco que, por sua vez, vai até o local indicado pelo drone e confirma a presença da mancha com seus sensores.
Qual o tipo de tecnologia é usada atualmente pela indústria para este tipo de atividade?
O que existe hoje é o uso de satélites para detectar as manchas de óleo. A questão é que a frequência da varredura feita por satélite é menor. Além do mais, o objetivo do satélite é outro – isto é, obter imagens mais amplas.
Para o futuro, queremos fazer uma extensão desse nosso projeto, unindo as duas tecnologias – os sensores do satélite e os sensores do barco autônomo e do drone. Assim, conseguiríamos prever o deslocamento da mancha e obter outras informações. Esse futuro projeto envolve outro grupo de trabalho da Coppe/UFRJ.
Quais as vantagens do Ariel em comparação com as tecnologias existentes usadas para esta aplicação?
Uma das vantagens é que conseguimos detectar uma mancha de óleo em determinada região relativamente grande de forma mais rápida. Primeiro, porque o barco autônomo vasculha a região e, enquanto isso, o drone levanta voo e consegue mapear a área muito mais amplamente.
Quando o drone detecta uma suspeita de mancha e o barco autônomo se desloca e confirma presencialmente a existência de óleo no mar, isso elimina falsos positivos. Dessa forma, evita-se deslocar equipes de contenção de óleo e emergência de maneira desnecessária.
Quais foram os resultados do primeiro teste do sistema de controle de pouso do drone feito dentro da área da Coppe/UFRJ?
A tarefa principal da Coppe é fazer o voo autônomo do drone. Ou seja, fazer com que ele faça o voo controlado, capture as imagens e pouse na embarcação. Estamos agora focados no teste do pouso. Fizemos diversas trajetórias e o drone fez seu pouso corretamente. Esses testes estão sendo feitos com sucesso e seguimos evoluindo no controlador.
Também fizemos outro teste. Colocamos uma piscina do lado de fora de nossos laboratórios e despejamos óleo na água. Depois, coletamos as imagens usando o drone para avaliar como fica a detecção. Conseguimos alguns resultados, onde foi possível identificar o óleo. Enquanto isso, a TideWise está trabalhando na eletrônica referente ao barco autônomo.
E quando devem acontecer os testes da tecnologia no mar?
Estamos prevendo fazer os testes no mar entre o final de novembro e início de dezembro.
Feitos todos os testes, qual será o próximo passo?
Este é um projeto de pesquisa financiado pela ANP e contratado pela Repsol, que envolve a Coppe/UFRJ, a TideWise e a Farol. Até dezembro, quando o período do projeto chegará ao fim, a meta é gerar um protótipo bem funcional, capaz de fazer uma ronda, o pouso automático, processamento das informações térmicas geradas pelo drone e verificação sobre a existência ou não de óleo no mar.
Os próximos passos seriam deixar o protótipo mais robusto, a depender do que será exigido da tecnologia em termos de operação. É o que acontece com todos os projetos de pesquisa que geram protótipos. O futuro, no longo prazo, tem a ver com aquilo que mencionei sobre a junção de sensores remotos dos satélites com os nossos sensores locais (os do barco autônomo e os da câmera térmica do drone).
Por fim, eu gostaria também de citar os integrantes do Laboratório de Controle e Automação, Engenharia de Aplicação e Desenvolvimento (LEAD/Coppe), que participam do projeto. São eles: Alessandro Jacoud Peixoto, Isabela Oliveira, Ricardo Halfeld, Ricardo Ouvinã, Lucas Vargas, Wenderson Serrantola, Levi Resende, Samuel Simplicio, Matheus Marinatto e Marcel Mendes. E também mencionar outros quatro nomes de integrantes que também tiveram participação, mas que não estão mais no LEAD/Coppe: Alex Neves, João Monteiro, Ignácio Azambuja e Jéssica Liporace.
Importante ainda citar o responsável pelo projeto na Repsol Sinopec Brasil, Marcelo Andreotti; o diretor da TideWise, Rafael Coelho; e o diretor da Farol, Vinícius Vieira.
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