WESTINGHOUSE BUSCA PARCEIROS NO BRASIL DE OLHO EM NOVOS PROJETOS NUCLEARES | Petronotícias




faixa - nao remover

WESTINGHOUSE BUSCA PARCEIROS NO BRASIL DE OLHO EM NOVOS PROJETOS NUCLEARES

Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) – 

foto 2A Westinghouse vem se articulando cada vez mais para aumentar sua participação na indústria nuclear brasileira e está atenta às oportunidades que deverão surgir no País nos próximos anos. O vice-presidente global da divisão nuclear da Westinghouse, Graham Cable (à direita), visitou o Brasil nos últimos dias para conhecer melhor o mercado nacional, acompanhado do vice-presidente da empresa na América Latina, o brasileiro Carlos Leipner (à esquerda), que organizou uma série de encontros com membros da indústria brasileira para discutirem oportunidades e futuras parcerias. Atualmente, a Westinghouse está envolvida em um projeto inovador no segmento, tendo desenvolvido em parceria com a INB um novo combustível especial para a Usina de Angra I, com o nome de NGF-16. O novo composto já foi inclusive entregue à Eletronuclear e está armazenado na Central de Angra, onde deve ser utilizado na troca de núcleo do reator entre o fim deste mês e o início de março. Graham contou que as reuniões dessa visita foram mais focadas na indústria, principalmente com a Eletronuclear e com a Abdan, que representa todas as empresas da indústria nuclear no Brasil. Além disso, tiveram encontros com empresas que podem ser parceiras da Westinghouse caso ela venha a ser escolhida para o desenvolvimento das novas usinas brasileiras, quando o governo der seguimento ao programa nuclear nacional. Para tratar desse assunto, inclusive, a Abdan marcou uma nova reunião com seus associados nesta quarta-feira (11), com o intuito de discutir o avanço das propostas e a necessidade que o País tem de tomar essas decisões com urgência.

Pode falar um pouco sobre sua visita ao Brasil?

Graham Cable – Eu estive com uma série de membros da indústria nuclear brasileira, da Eletronuclear, assim como potenciais parceiros para a execução de futuros projetos nucleares, como a CNO (Construtora Norberto Odebrecht) e alguns outros.

Também tivemos reuniões com a Abdan, e o propósito foi entender em que passo está o programa nuclear brasileiro hoje, quais serão os próximos passos e qual o papel que a energia nuclear pode vir a desempenhar no Brasil.

E quais foram suas impressões?

Graham Cable – De que o Brasil está num momento crítico hoje, em que a matriz energética, proeminentemente hidrelétrica, não será suficiente para suprir todas as necessidades no futuro. Então o País tem a oportunidade de tomar algumas decisões sobre seu planejamento e apontar qual será a participação da nuclear, ajudando na geração de base. Hoje a nuclear é uma fonte que não emite gases poluentes, é muito segura e confiável, importante para ser adicionada à base de energia firme.

Quais são as metas da empresa no Brasil para os próximos anos?

Graham Cable – Os objetivos da Westinghouse no Brasil são dois, principalmente. O primeiro é continuar a fornecer nossos serviços e nosso apoio às usinas de Angra, aumentando o escopo desses fornecimentos; e o segundo é, assim que o Brasil decidir como será o futuro de sua matriz e qual será o papel da energia nuclear, podermos fazer parte dos novos projetos de usinas. Parte da minha visita é com o intuito de entender qual é esse plano e qual é a direção dele.

Carlos Leipner – No contexto da América Latina, essa região é muito vibrante como indústria nuclear, não só no Brasil, que tem uma grande indústria e uma regulação muito maduras, mas também vemos muitas oportunidades na Argentina, que está na fase final do comissionamento de Atucha II, assim como o México, que está considerando construir novas usinas. Então é uma região muito interessante para a Westinghouse.

A empresa teria interesse em construir novas usinas com a Eletronuclear, sendo parceira, se isso fosse possível, ou quer apenas fornecer o projeto?

Graham Cable – A Westinghouse tem um interesse muito grande em novas usinas. Estamos desenvolvendo quatro novas unidades na China e quatro nos Estados Unidos, assim como temos participação em outros projetos em construção pelo mundo. Temos projetos que virão em breve no Reino Unido e na Bulgária, por exemplo. Então temos muito interesse. Somos uma empresa que desenvolve projetos de usinas, com serviços em combustível e em outras atividades correlatas, então nosso foco é participar dos projetos. Com o avanço do Brasil nessa área, temos muitas esperanças em sermos escolhidos para fazer parte desses novos projetos.

A participação de vocês poderia incluir alguma forma de financiamento nos projetos, caso houvesse essa possibilidade?

Graham Cable – Nos projetos que estamos envolvidos, sempre trabalhamos próximos a agências de exportação de crédito, como o US Ex-Im Bank, assim como outros similares na Coreia e no Japão, para fornecer grandes e competitivos pacotes de financiamento. Mas a Westinghouse não tem como foco ser controladora de usinas, nem operadora, então qualquer participação que tenhamos adquirido nesses projetos, nós em geral vendemos antes do início da operação. Mas já trabalhamos dessa forma em outros projetos também.

No Brasil, em que cenário poderia haver um acordo de transferência de tecnologia?

Graham Cable – Temos um histórico de fazer isso. Fizemos com nossa tecnologia de combustíveis aqui, e com a das usinas em outros países. Se for olhar casos no passado, fizemos essa transferência de tecnologia para a França, para a empresa que hoje vem a ser a Areva. Transferimos tecnologia no Japão, para a MHI (Mitsubishi Heavy Industries), e estamos fazendo isso também na China. Se o Brasil tiver esse interesse, é algo que podemos fazer.

Qual a demanda mínima para isso?

Graham Cable – Quando olhamos para plantas nucleares, vemos uma planta gêmea, com duas unidades de mil MW, como o mais viável economicamente. Olhando para o desenvolvimento da indústria local, isso requer muitos investimentos, o que demandaria múltiplas unidades. Acreditamos que um número entre seis e oito unidades justificaria um acordo de transferência tecnológica.

Carlos Leipner – Esse conceito de um programa de longo prazo de desenvolvimento de usinas é importante também para a atração de novos engenheiros para o segmento, mostrando que existe um futuro para quem quer trabalhar e se especializar nessa área.

Que tipo de usina seria mais interessante para o Brasil, em termos de capacidade?

Graham Cable – Como o País tem grandes centros consumidores, precisaria de projetos maiores, porque grandes linhas de transmissão geram perdas grandes no caminho. Acreditamos que esses projetos maiores devem ficar próximos a esses centros, mas não colados a eles, porque, ao serem instalados em áreas um pouco menos desenvolvidas, podem ser um motor para a economia local, gerando avanço em todas as áreas ali.

Carlos Leipner – A AP1000 é a que consideramos que tem o desenho ideal para o mercado brasileiro. Menores que isso, não tem a mesma competitividade, e muito maiores do que isso, também não.

Em que fase está o desenvolvimento do novo combustível para Angra I em parceria com a INB?

Carlos Leipner – O novo combustível para Angra I, o NGF-16, será utilizado pela primeira vez em larga escala na usina este ano. Estamos muitos animados com isso, já fizemos pequenas utilizações para ver a performance, que foi muito boa, e agora vamos fazer um fornecimento maior para ser inserido na próxima troca de núcleo, entre este mês e março. Ele já foi produzido pela INB e já foi entregue, está só esperando o momento da troca de núcleo.

A produção foi feita 100% no Brasil?

Carlos Leipner – Foi manufaturado 100% aqui. A Westinghouse forneceu alguns componentes para a INB e ela fez a produção toda do combustível.

A parceria com a INB está avançando para algum novo patamar?

Carlos Leipner – A parceria se desenvolve, estamos fornecendo componentes, temos uma troca de conhecimento, que faz parte da transferência tecnológica que fizemos no passado, e trabalhamos para qualificá-los como possíveis fornecedores de componentes para a Westinghouse. Isso está em andamento, mas ainda não foi finalizado.

Qual a diferença do novo combustível para o antigo?

Carlos Leipner – O novo aumenta a flexibilidade operacional da usina, podendo gerar mais eficiência no processo de geração de energia.

O que poderia deixar o Brasil mais atrativo para a indústria nuclear mundial?

Graham Cable – Já achamos o Brasil um mercado atraente. Quando olhamos para o futuro, o Brasil tem uma política energética, em processo de revisão, em que, para ser honesto, gostaríamos de ver duas coisas: uma é que existe uma oportunidade aqui de iniciar um novo programa nuclear, o que consideramos que seria muito atrativo, assim como muito positivo para a economia brasileira. Além disso, acreditamos que seria importante haver uma reforma regulatória, em termos de licenciamento. Se olhar para muitos países, os reguladores passaram do processo de três fases para dois, dando a licença de construção junto com a de operação. Porque, no passado, isso gerava incerteza e atraso nos projetos, deixando-os mais caros e afastando investidores. Esse processo de dois passos, primeiro com a licença de instalação e depois com a licença de construção somada à de operação, agiliza e deixa o processo mais seguro economicamente.

Você falou sobre potenciais parceiros no Brasil. Pode citá-los?

Graham Cable – Nos encontramos, por exemplo, com a Nuclep, que é uma empresa importantíssima. Se houvesse uma nova usina nuclear no Brasil, não importa quem fosse a empresa escolhida para fornecer o projeto, todos gostariam de trabalhar com a Nuclep. Então fomos encontrá-los, para ouvir as posições deles sobre o assunto.

Carlos Leipner – Há muitas empresas que puderam participar dos projetos nucleares brasileiros ao longo dos anos e isso permite à Westinghouse encontrar muitos potenciais parceiros para trabalhar no segmento. É um momento interessante o atual, em que continuamos olhando para as oportunidades de novos negócios no Brasil e também para as empresas que podem vir a ser nossas parceiras.

Além disso, o trabalho da Abdan aqui é muito importante para nós, para a indústria como um todo, trilhando novos caminhos e auxiliando o setor a avançar. É um trabalho muito relevante e continuamos apostando nele.

Deixe seu comentário

avatar
  Subscribe  
Notify of