FIRJAN DEFENDE REGRAS MAIS SIMPLES EM O&G PARA DESTRAVAR RIQUEZAS DO PÓS-SAL E ONSHORE DO BRASIL
Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –
Por mais que os dias de pandemia de Covid-19 sejam cheios de pontos de interrogação, olhar para frente e projetar como driblar e vencer essa nova crise é uma necessidade que se impõe desde já. Por isso, o Petronotícias começa a semana entrevistando a gerente de Petróleo, Gás e Naval da Firjan, Karine Fragoso, que aponta quais são alguns dos pontos que as empresas de óleo e gás e órgãos governamentais devem levar em consideração no pós-pandemia, mirando a retomada de negócios. O primeiro aspecto citado por Karine é a simplificação das normas do segmento. “A desconstrução de regras impeditivas e de desincentivos, que só existem para travar a pujança do Brasil em atividade terrestre e no offshore, deve ser nosso mantra”, afirmou. A entrevistada ainda projeta que “a mesma riqueza que brota do pré-sal, pode brotar pelo interior do Brasil e voltar a brotar do pós-sal aprisionado no Polígono do pré-sal”. E defende um maior mapeamento dos nossos recursos, já que considera uma “violência” a falta de conhecimento sobre as riquezas que o país possui. Karine ainda levantou muitos outros assuntos, como a importância da internalização do Repetro pelo Rio de Janeiro, a necessidade da maior utilização da tecnologia no dia a dia das empresas, a relevância do empreendedorismo, o potencial do onshore brasileiro, entre outros temas.
Primeiro, poderia fazer uma avaliação de como tem sido até aqui a resistência da indústria de óleo e gás do RJ e sua situação atual após mais de 100 dias de pandemia?
Que esse é um mercado cíclico, não temos dúvidas. A diferença é que os ciclos estão mais curtos e cada vez mais apertados.
Isso demanda das empresas muita resiliência e muito esforço de coordenação das esferas de poder quando olhamos para os entes públicos. E ainda demanda muito cuidado quando olhamos para os grandes demandadores. Uma condição de mercado como a que estamos enfrentando hoje, não estava em nenhum cenário possivelmente projetado. Todas essas incertezas se traduzem em risco, que no fim do dia estão precificados e adicionam custos para todos os lados.
Essa nova crise vem em um momento ainda de muita dor para as empresas. Elas ainda estavam em recuperação e muitas, de fato, já vinham sendo demandas de forma mais contínua. Todos numa expectativa de um ano de crescimento das curvas e das participações. Porém, essa nova trava imposta no mercado, que cancelou contratos, adiou projetos, travou novas contratações e, de uma forma real, colocou fornecedores e demandantes em lados opostos, acirrou ainda mais uma relação que já estava delicada.
É bem verdade, que algumas empresas já entenderam, e conseguiram construir estruturas internas que percebem os ganhos de parcerias e compartilhamento na criação de soluções que atendam aos desafios desse mercado. Algumas cuidam mais que outras de suas redes de fornecedores. E essa abertura de mercado que estamos começando a viver na prática, com a diversidade de operadores e, portanto, de cultura e interlocutores, é um momento muito rico de possibilidades. A indústria nacional caminha com os grandes demandadores, a competência dos nossos trabalhadores, engenheiros, geólogos, soldadores, entre tantos outros, é anualmente reconhecida em prêmios mundo a fora. A indústria fornecedora sempre atendeu aos desafios dos grandes demandadores e sempre colaborou na identificação de novas soluções para problemas novos ou já colocados.
E ela vai continuar assim. A pandemia, na verdade, evidenciou toda essa competência interna que temos. A rede de colaboração que foi formada, em resposta à esse momento de restrição, quebrou barreiras. E mostrou que com vontade, muita coisa é possível e viável economicamente, em atendimento às exigências de segurança, mesmo em condições adversas.
Qual sua avaliação sobre recentes novidades e avanços no setor, como a adesão do Repetro pelo RJ e a redução de royalties para pequenos e médios produtores. E o que ainda precisa ser feito?
A internalização do Repetro pelo Rio de Janeiro, da forma que se deu, foi uma vitória de muitas frentes e caras. Um trabalho de coordenação, de idas e vindas, com muito debate e construção de notas técnicas, notas jurídicas e articulação política. Internalizamos o Repetro em sua íntegra, e trouxemos para as empresas do estado do Rio a oportunidade de competir com sua vantagem natural, a logística. Nesse momento, ainda precisamos avançar na sua regulamentação, mas já reiniciamos nossa mobilização para construção de propostas em conjunto com a indústria. O ambiente construído pelo Repetro poderá trazer benefícios para todos.
Quanto à redução dos royalties para pequenos e médios produtores, essa é uma grande mensagem para todo mercado. O Brasil tem uma extensão territorial fantástica, com bacias exploratórias quase que intocadas, e uma concentração de produção de óleo e gás que não está dedicada a essa enorme condição do país. A desconstrução de regras impeditivas e de desincentivos, que só existem para travar a pujança do Brasil em atividade terrestre e no offshore, deve ser nosso mantra. A mesma riqueza que brota do pré-sal, pode brotar pelo interior do Brasil e voltar a brotar do pós-sal aprisionado no Polígono do pré-sal. A falta de conhecimento sobre que riquezas o país tem, e sobre o desperdício ao deixar inexploradas essas bacias, é uma violência.
A sensibilidade das autoridades públicas quanto a essa situação é real hoje, mas é necessária muita vontade e esforço para avançarmos com mais urgência sobre essas pautas.
A declaração da Petrobrás de que vai sair de todo onshore e também das águas rasas deveria ser motivo de comemoração. E é, de fato. A saída dela é bom para todos nós, além de ser fundamentalmente bom para ela. Quem tem a oportunidade de visitar um campo de produção terrestre no Recôncavo Baiano, na Bacia Potiguar ou em qualquer outra área de produção no onshore brasileiro, pode testemunhar a importância dessa produção para aquela região. Temos acompanhado a criação de empresas, a construção de portfólios e o avanço de empresas que estão desbravando esse caminho, criando emprego local e adicionando valor à sua produção. Mas a agenda para esse ambiente ainda é muito grande, e ainda vai demandar muito esforço de todos nós.
Essa mesma redução de royalties, por recomendação do CNPE [Conselho Nacional de Política Energética], com o trabalho realizado pelo MME [Ministério de Minas e Energia], precisa ser regulamentada pela ANP [Agência Nacional do Petróleo], que já assumiu o compromisso de fazer isso em até 90 dias. Os desinvestimentos da Petrobras precisam se concretizar, não só dos campos, mas também no refino e nas infraestruturas.
Por aqui, seguiremos trabalhando e encorajando que novos empreendedores surjam, que empresas que são fornecedoras e vivem o dia a dia da produção também possam, como exemplos que já temos no mercado, avançar para se tornarem também um pequeno produtor. Por que não? Por isso, defendemos que o arcabouço regulatório deve ser proporcional ao tamanho dessas empresas, e assim, com a criação de mais empresas, possamos rapidamente atingir a meta dos 500 mil barris de produção terrestre.
Ao seu ver, como ficará a cadeia de fornecedores de óleo e gás no pós-pandemia? Que medidas ou ações poderiam ajudar essas empresas nesse momento de retomada?
Muito do que foi testado nesse período irá permanecer. Por um motivo ou por outro, aprendemos a trabalhar de uma forma diferente, sem prejudicar o resultado final. Alguns até narram os ganhos do trabalho remoto e, com certeza, o avanço gigantesco que tivemos, de forma coletiva, no uso de ferramentas disponíveis, antes, e que estarão disponíveis no futuro próximo, como versões aprimoradas pelo aumento dos testes por uso intensivo.
O uso permanente e a busca constante por novas tecnologias é fundamental. A tecnologia é meio, e precisa ser incorporada mais e mais nas nossas rotinas, das mais simples às mais elaboradas. É ela que melhor colabora nas metas, jamais abandonadas, de redução de custos e aumento de produção, seja na sua casa, na sua empresa, ou na boca do poço. O tradicional é ótimo, traz a segurança tão importante para nós, mas o novo precisa ser testado e agregado nas rotinas. O uso, estruturação e transformação dos dados disponíveis para a criação de inteligência e aprendizado é igualmente fundamental.
O mercado não deve barrar o avanço da tecnologia ou temer o uso preditivo de dados estruturados. O bom uso da inovação nem deve ficar perdido, construindo novas possibilidades enquanto não usamos e aplicamos o que já temos e está ao alcance de nossas mãos. Aqui também precisamos desburocratizar e simplificar. Existe uma complexa rede de normas, regras, e contrassensos que impedem muitas oportunidades que não são concretizadas por um entendimento equivocado ou empoeirado. Precisamos fazer uma faxina regulatória e normatizadora, abrir espaço para o novo. E tem muito novo que já passou da adolescência e avança pela a vida adulta sem nunca ter contribuído de fato.
Também, na forma que contratamos nossa força de trabalho e na relação de trabalho que temos, cabe atualização e agregação de conhecimento adquirido nessa experiência coletiva da pandemia. Há possibilidade de encontrar produtividade, com segurança e resultado positivo para ambas as partes. As pessoas voltaram a ser o foco de atenção das empresas, no mesmo momento em que a tecnologia passa a ser cada vez mais incorporada. Temos aprendido muito com nossas empresas e com a resposta do coletivo.
Apesar do susto inicial, nossas empresas têm respondido muito bem e a grande maioria conseguiu prosseguir operando, com algum aumento de custos. O tamanho do mercado foi reduzido, é fato, e por isso mesmo precisamos continuar avançando nas frentes que consolidam as aberturas de mercado, principalmente para o gás natural, fundamental para a economia do Rio. Também nos ambientes onshore, onde existe muita oportunidade para pequenos e médios fornecedores de todos os cantos , e também para os do Rio. Além dos ambientes de águas rasas e campos maduros, que carecem de investimentos para recuperação de produção.
Sobre os debates online que a Firjan tem realizado, poderia compartilhar conosco quais outros temas vocês pretendem discutir nas próximas semanas?
Os debates têm sido um enorme aprendizado. Alcançamos, com eles, vários objetivos: conectamos empresas e, fundamentalmente, pessoas que não se conheciam. Reencontramos antigos agentes desses mercados e apresentamos para o mundo as empresas e competências que muitas vezes não são conhecidas. Temos muitas empresas que são especializadas no que fazem, que carregam muita qualidade e que estão aptas a atender com soluções prontas, ou mesmo, para construir em parceria. Empresas que não deixam de investir para entregar mais, e que não deixam de perseverar.
Claro que sentimos falta do calor humano, dos nossos eventos cheios, e de poder conversar com cada um ao final, conhecer suas histórias e poder desdobrar em novas conexões e negócios. No fim, estamos todos buscando mais trabalho: mais um , dois, quantos mais contratos possamos atender. Com foco na criação do emprego na indústria e na geração de renda para um estado, um indivíduo, mais rico, e no fim mais independente.
Nesta semana, vamos lançar a Websérie Naval, para conhecermos e apresentarmos mais da nossa indústria naval. O primeiro programa, amanhã (7), às 16h, terá um foco no mercado de defesa e no próximo iremos para o offshore. Nesse primeiro momento, vamos intercalar com as webinars de Óleo e Gás, portanto, vamos continuar com os eventos todas às terças, às 16h. Nos próximos eventos sobre óleo e gás, vamos continuar trazendo uma grande empresa e uma pequena ou média empresa, seguindo nesse objetivo de apresentar fornecedores locais. Outro tema que deve receber nossa atenção é o Gás Natural, fundamental para a retomada econômica do estado e estratégico para o fortalecimento das indústrias do Rio. Para acessar os programas passados, ou os novos, pode nos procurar direto no Youtube, pela Webserie óleo e gás da Firjan, ou pela nossa página: www.firjan.com.br/petroleoegas
Pela ONIP, vamos continuar com o Circuito Brasil de Óleo e Gás, em parceria com a ABPIP e apoio da Firjan, todas às quartas-feiras, às 16h, sempre trazendo um tema de interesse ou uma região do país. Na próxima semana vamos falar de não convencionais, leilões e outros assuntos com o nosso convidado especial Décio Oddone, ex-diretor Geral da ANP.
Aproveitando o espaço, quero divulgar o projeto que lançamos nessa semana: ONIP De Bacia em Bacia – do Poço do Visconde aos 500 mil barris por dia. Para quem tiver interesse é só acessar e participar: www.onip.org.br
Por fim, além das transmissões, pode citar algumas novas ações que a Firjan tem preparado para ajudar o setor de O&G do RJ?
A FIRJAN, como muitas empresas, têm sido incansável na busca das mais distintas soluções que possam agregar valor às nossas indústrias e aos seus trabalhadores. Tenho muito orgulho de trabalhar na Federação de Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, e de ter alcançado o respeito e, com ele, a liberdade de trabalhar os tem as que são realmente fundamentais para as empresas do Rio e do Brasil. O mercado de óleo e gás é um mercado monstruoso, que compra muito, de tudo e de todo mundo. Através dele, podemos percorrer os mais distintos setores e temas da economia. Sua cadeia de valor é complexa e suas cadeias de produção são longas e diversas. Nosso trabalho tem sido, e permanece sendo, o de alargar e alongar esses encadeamentos a partir do Rio de Janeiro e do Brasil.
A Firjan fez, e permanece fazendo, um trabalho robusto de articulação para a melhoria do ambiente de negócios. Consolidamos várias frentes desse trabalho no que chamamos de “Resiliência Produtiva”, que pode ser acessado em nosso site. Vamos desde a desburocratização para acesso a crédito, ao acompanhamento de um PL de interesse da indústria, como foi o caso da internalização do Repetro. Atuamos de forma primorosa, através do nosso SESI, para atender às demandas provocadas pela Covid-19, orientando gestores e colaboradores, oferecendo desde atendimento gratuito – organizando documentos fundamentais para disseminação das melhores práticas – a serviços para empresas, contribuindo na retomada segurança da indústria.
Trabalhamos de forma integrada com o SENAI para conectar empresas, estruturar redes de produção de EPI’s e doações a comunidades, construir soluções tecnológicas para testagem da população, com testes mais seguros e de menor custo para às empresas. Ainda pelo SENAI, mantivemos nossas aulas, adaptamos os cursos ao cenário remoto, disponibilizamos conteúdos e entregamos para o mercado profissionais formados e aptos ao trabalho. Pelo IEL e Casa Firjan, trazemos conteúdos riquíssimos para a construção de cenários futuros, fazendo a conexão entre setores e mercados, de uma forma holística e agregadora. E pelo CIRJ, temos um encontro com prestadores de serviços que estão no em torno das indústrias e podem participar de nossos fóruns e ações.
Não esquecemos dos nossos propósitos, e seguimos avançando.
Deixe seu comentário