MERCADO DO AÇO ASSISTE A UMA QUEDA DE BRAÇOS ENTRE SIDERÚRGICAS E EMPRESAS CONSUMIDORAS SEM MANIFESTAÇÃO DO GOVERNO
O debate sobre o preço do aço no Brasil continua bastante aflorado no mercado. Uma preocupação das siderúrgicas que se sentem prejudicadas pelo aumento das importações, notadamente da China e da Turquia, que enfrentam uma retração nos seus mercados internos e precisam colocar a produção no mercado usando o atrativo dos preços bem menores do que em muitos países. Em relação ao Brasil, principalmente pela diferença tributária e trabalhista entre os dois países, essa margem de diferença é intensa. Grandes empresas consumidoras do aço, optaram por importar do que comprar das siderúrgicas nacionais. Sem vendas, as siderúrgicas nacionais são pressionadas a cortar custos, o que inevitavelmente explode na redução da carga de trabalho e em seguida no corte de empregos e nas paralisações de suas unidades. Esta foi a fórmula seguida pela Gerdau, que demitiu 700 funcionários e ArceloMittal, que colocou 400 trabalhadores em férias coletivas e parou a unidade de Resende, no Rio de Janeiro.
As siderúrgicas pedem ao governo que aumente as alíquotas e os consumidores do aço pedem que elas permaneçam competitivas. É uma queda de braço que faz o governo, pressionado pelas duas partes, ficar em ponto morto. Depois de toda repercussão no mercado, a ABITAM, que consta como signatária do pedido do governo que não atenda as siderúrgicas e aumente as alíquotas, nos enviou uma mensagem, solicitando que retirasse o nome dela das associações signatários do documento que o Petronotícias publicou, embora no documento original, conste que a ABITAM apoiou o movimento. O Petronotícias também recebeu uma nota do Instituto Aço Brasil, que representa as siderúrgicas brasileiras, fazendo as suas válidas ponderações. Uma nota formal que vamos publicar na íntegra:
“ Em relação a texto publicado em 20/11/23 no veículo sobre pleito da indústria do aço, o Instituto Aço Brasil, que representa associadas responsáveis por 85% da produção de aço no país, informa que a decisão de solicitar elevação da tarifa de importação do aço se deve ao forte aumento do ingresso do produto de origem estrangeira verificada nos últimos meses, levando o setor a uma condição crítica. Até setembro, a entrada de aço importado no Brasil cresceu 57,9%, dos quais 56% originados da China.
Esse aço entra no país para concorrer com o produto produzido pela indústria brasileira de aço de forma predatória e desleal. Graças a subsídios oferecidos pelo governo da China, siderúrgicas chinesas conseguem vender aço abaixo do preço de custo. A iniciativa decorre dos esforços estatais em manter a indústria do aço da China artificialmente aquecida, dentro da estratégia frear até onde for possível a desaceleração da economia do país.
A concorrência predatória e desleal do aço chinês não é um problema exclusivo do Brasil. Prova disso é que Estados Unidos, 27 países da União Europeia, Reino Unido e, mais recentemente, o México, elevaram suas tarifas de importação do aço para 25%. Neste cenário, no Brasil vigora a tarifa de 9,6% para a maioria dos itens importados, criando uma gritante assimetria entre o mercado brasileiro e outros mercados relevantes de aço. Essa disparidade explica o forte crescimento das importações predatórias nos últimos meses no Brasil.
Para corrigir este problema, de forma a preservar uma indústria estratégica para o país, as empresas produtoras de aço, representadas pelo Instituto Aço Brasil, vêm pleiteando, junto ao governo, a elevação temporária e emergencial para 25% de 18 NCMs (Nomenclatura Comum do Mercosul), dentre 273 NCMs existentes.
Não existe qualquer outra razão do setor para apresentação do pleito que não seja a preocupação em preservar produção, a criação de empregos e os investimentos da indústria do aço, impedindo a transferência da geração de riqueza para a Ásia, diante de uma ameaça real proporcionada por uma concorrência absolutamente desleal.
Importante ressaltar que alguns segmentos econômicos têm se aproveitado dos preços artificialmente baixos do produto chinês para realizar importações e vender o produto internamente sem repassar ao consumidor o suposto ganho financeiro proporcionado pelas elevações de margens, para melhorar temporariamente seus resultados financeiros.
A indústria do aço é estratégica para o país, garantindo a segurança alimentar, energética e nacional. O setor participa da criação de 3 milhões de postos de trabalho, entre empregos diretos, indiretos e induzidos. Paga R$ 35 bilhões de impostos por ano e está presente em quatro das cinco regiões brasileiras, movimentando e gerando desenvolvimento para as economias locais. Investe, anualmente, R$ 12 bilhões, em modernização das unidades, desenvolvimento de nova tecnologias e inovação. A concorrência predatória do aço estrangeiro ameaça não só a sustentabilidade desse setor tão relevante para o país, como também outros setores da cadeia, que certamente não passarão incólumes caso a crise do setor perdure por muito tempo e se aprofunde ainda mais.”
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