A GUERRA ENTRE RÚSSIA E UCRÂNIA SE AGRAVA A CADA DIA, MAS NÃO HÁ INDÍCIOS DE QUE A RÚSSIA USARÁ ARMAS NUCLEARES TÁTICAS | Petronotícias




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A GUERRA ENTRE RÚSSIA E UCRÂNIA SE AGRAVA A CADA DIA, MAS NÃO HÁ INDÍCIOS DE QUE A RÚSSIA USARÁ ARMAS NUCLEARES TÁTICAS

leoA cada poucos dias, a retórica da Rússia em torno do potencial uso de uma arma nuclear na Ucrânia parece mudar de um lado para o outro. Um dia, os líderes militares russos discutem planos para a utilização de uma arma nuclear tática. No outro dia, o Kremlin afirma explicitamente que uma guerra nuclear nunca deveria ser travada e que a utilização de tais armas não teria qualquer valor político ou militar. As probabilidades continuam pequenas, mas um governo russo sentindo-se seriamente ameaçado poderá usar seu arsenal nuclear para mudar a sua sorte na guerra da Ucrânia. Mas não parece isso o que está acontecendo. Os ataques mais contundentes ucranianos foram via drone explosivos contra partes de refinarias, perto da fronteira da Rússia, embora os ataques ao navios russos tenham sido bastantes significativos. A Rússia, no entanto, domina a maior central nuclear da Europa, Zaporizhzhia, com seis reatores e uma outra usina nuclear ucraniana. Há poucos dias, mísseis russos atingiram linhas de transmissão e subestações de energia deixando uma boa parte da Ucrânia às escuras.

Maior central nuclear da Europa na Ucrânia é tomada pelo Exército Russo

Maior central nuclear da Europa na Ucrânia foi tomada pelo Exército Russo

Embora existam numerosos degraus na escada metafórica da escalada antes da questão nuclear entrar em jogo, existem pelo menos três cenários distintos para a utilização de uma arma nuclear pela Rússia, cada um dos quais difere na lógica e nas condições iniciais e consequências prováveis. Por isso, o Petronotícias convidou para uma entrevista um experiente especialista neste assunto, o ex-presidente da Eletronuclear, Capitão de Mar e Guerra da Reserva da Marinha Brasileira e atual Diretor Técnico da ABDAN, Leonam Guimarães.

– Como o senhor está vendo esta escalada na Guerra da Ucrânia e as ameaças de uso de uma arma nuclear?

 – Olha, vamos analisar assim, num primeiro cenário Cenário: Um Dispositivo de Demonstração. A Rússia poderia testar armas nucleares como um aviso à Ucrânia e aos seus apoiadores, demonstrando tanto a sua determinação como a sua capacidade. As ações falam mais alto do que as palavras, pelo que testar uma arma nuclear poderá levar à compreensão das declarações anteriores do Presidente russo, Vladimir Putin, de que esta “operação militar especial” na Ucrânia está se tornando uma “crise existencial” para o Estado russo.

atomica– A propósito, quando foi o último teste nuclear feito pela Rússia?

–  Bem, o último teste nuclear russo ocorreu ainda sob a bandeira da União Soviética em 24 de outubro de 1990; e, com exceção da Coréia do Norte, nenhum estado conduziu um teste nuclear desde 1998. A Rússia poderia conduzir uma demonstração nuclear nas suas regiões do Norte, em águas internacionais, numa parte desabitada da Ucrânia ou até mesmo no espaço exterior. Todas estas opções implicariam na denúncia pela Rússia dos tratados internacionais que proscrevem esses ensaios e dos quais a Rússia é signatária há décadas, já os tendo ratificado (Tratado de Proibição Completa dos Testes Nucleares CTBT e Tratado do Espaço Exterior OST de 1967, respectivamente).

– Um teste em locais assim não seria perigoso?

 – Perigoso sempre é, mas a Rússia provavelmente teria o cuidado de garantir que um tal teste não causasse vítimas e produzisse uma precipitaçãoNUCLEAR RUSSO radioativa (fallout) mínima. Note-se aqui que o Senado dos EUA ainda não ratificou o CTBT, não estando portanto legalmente impedido de realizar um teste. Pode-se afirmar que existem correntes de pensamento em ambos países que defendem a retomada dos testes para validar experimentalmente seus novos projetos de armas nucleares porque não confiam totalmente nas simulações computacionais.

– Isso mexeria com a balança do poder militar das superpotências?

Uma demonstração nuclear não inclinaria a balança a favor de nenhum dos lados. A eficácia mesmo das armas nucleares mais avançadas da Rússia é provavelmente já conhecida pelos governos ocidentais relevantes, e um teste provavelmente não incentivaria a Ucrânia a capitular porque Kiev já sente que o conflito é existencial. As recentes campanhas de bombardeios aéreos da Rússia mostraram que, no mínimo, uma demonstração nuclear poderá fortalecer a determinação RUSSIAde Kiev e gerar mais simpatia e apoio por parte do Ocidente.

– Um teste pode trazer riscos ao meio ambiente, hoje tão cortejado?

Os efeitos humanitários e ambientais também serão provavelmente mínimos, uma vez que o local de teste seria escolhido tendo esses impactos em mente. Um efeito secundário indesejado poderá dizer respeito às relações da Rússia com a China. A China tentou seguir uma linha cuidadosa na manutenção do forte relacionamento pessoal entre o Presidente Xi Jinping e Putin, sem despertar a hostilidade aberta do Ocidente. Até agora, a China tem sido simpática aos objetivos estratégicos mais amplos da Rússia na Ucrânia, mas um teste nuclear russo poderia colocar Pequim numa posição difícil. Xi declarou recentemente a oposição da China a qualquer país que utilize ou ameace utilizar armas nucleares. E recentemente, até como noticiou o Petronotícias, eles assinaram um documento que dizem ser de uma Nova Era e com parcerias sem limites.

– O senhor acredita que teria uma movimentação diplomática mais intensa?

Sem dúvidas. As seguintes condições poderiam levar a este cenário: conflito prolongado sem vitória ou ganhos militares significativos; crescente pressão internacional contra a Rússia, resultando em sanções cada vez mais rigorosas e isolamentoPUTIN diplomático; e desejo do Kremlin de sinalizar determinação e força sem um uso imediato e direto no campo de batalha. Teríamos como consequências deste cenário: intimidação de oponentes regionais, sugerindo que a Rússia está pronta para um confronto nuclear; aumento das tensões internacionais e um colapso nas relações diplomáticas; riscos de uma corrida armamentista nuclear renovada, com outras nações fortalecendo suas defesas. Lembremos que a possibilidade desse uso de demonstração foi considerada para o caso das bombas de Hiroshima e Nagazaki em 1945 mas descartada pela opção de um lançamento em alvo real. Mas lá as circunstâncias eram bem diversas da atual.

Bombas de Fragmentação

Bombas de Fragmentação

– O senhor falou em primeiro cenário. Qual seria o segundo?

– O segundo cenário seria uma arma tática. A Rússia poderia utilizar armas nucleares táticas contra alvos militares ucranianos ou infraestruturas energéticas, numa tentativa de enfraquecer a vontade do país e prejudicar a sua capacidade militar. Essas armas nucleares têm uma carga útil e yield menor e um direcionamento mais preciso, o que as torna propícias ao uso no campo de batalha. O “yield” de uma arma nuclear refere-se à quantidade de energia liberada quando a bomba é detonada, geralmente medida em toneladas, quilotoneladas (mil toneladas) ou megatoneladas (um milhão de toneladas) de TNT (trinitrotolueno). Essa medida descreve seu poder explosivo.

– Acho que o mundo real desconhece essas armas táticas nucleares…

A Rússia tem cerca de duas mil armas nucleares táticas que poderiam ser lançadas por avião, míssil ou navio. Provavelmente usaria o sistema debombina mísseis Iskander-M de curto alcance. Estas armas têm yeld de 1 a 50 quilotons, a maior das quais teria um raio de explosão cerca de meio quilômetro mais largo do que a bomba que os militares dos EUA lançaram sobre Hiroshima, no Japão, no final da Segunda Guerra Mundial. Numa hipótese, a Rússia poderia ter como alvo as forças ucranianas em Luhansk, perto da linha Troitske-Svatove-Kreminna, para evitar que as forças russas tivessem de recuar, como fizeram em Kherson. Um ataque nuclear poderia enfraquecer as forças ucranianas e criar uma terra de ninguém inabitável que faria a Ucrânia pensar duas vezes antes de avançar antes ou durante o Inverno.

– Então, isso quer dizer que a Rússia ganharia logo a Guerra usando esses artefatos?

ATAQUE MISSEISA utilização pela Rússia de uma arma nuclear táctica contra alvos militares no campo de batalha dificilmente interromperia a contraofensiva ucraniana. Mesmo que uma arma nuclear no campo de batalha tornasse o avanço terrestre mais desafiante, a Ucrânia provavelmente continuaria a concentrar-se nos ataques aéreos e na defesa aérea de uma forma que tem sido bem-sucedida nas últimas semanas. Além disso, a utilização de armas nucleares no campo de batalha seria menos eficaz na destruição da infraestrutura elétrica e energética ucraniana do que o bombardeio convencional, porque o seu maior yield e menor precisão tornam-nas inadequadas para esses alvos.

– Qual seria os prejuízos para o meio ambiente no caso de uso dessas armas táticas?

Os efeitos ambientais do uso de armas nucleares táticas são difíceis de calcular e dependeriam do yield da ogiva, da altura de detonação, doEWXPLOSAO clima e da geografia local. A Rússia seria cautelosa em não detonar armas demasiado perto dos seus próprios soldados ou do território ocupado. A China seria quase certamente forçada a denunciar publicamente esse uso de armas pela Rússia, e o distanciamento resultante teria repercussões mais amplas na futura cooperação China-Rússia. O Ocidente provavelmente não responderia ao uso nuclear tático enviando tropas para a Ucrânia, mas os Estados Unidos e os seus aliados provavelmente aumentariam o número de armas convencionais que enviam para a Ucrânia. Os estados ocidentais também estariam mais dispostos a fornecer assistência humanitária não militar em resposta às consequências e à radiação, que também poderiam afetar os países vizinhos.

Ataques as refinarias russas perto da fronteira

Ataques as refinarias russas perto da fronteira

– Então não seria uma vitória certa?

Essas condições poderiam levar a esse cenário: a Rússia enfrentando derrotas militares severas, como perda de territórios estratégicos ou incapacitação de suas forças; a incapacidade de seus meios militares convencionais de conter avanços ucranianos apoiados pela OTAN; pressões internas para uma vitória rápida, reduzindo a disposição do governo russo de seguir um caminho mais convencional. Teríamos como consequências: danos significativos ao campo de batalha, com potencial devastador de baixas civis e militares; isolamento global completo da Rússia, com implicações de sanções ainda mais severas e condenação internacional; e potencial envolvimento direto de países da OTAN, aumentando o risco de uma guerra nuclear total.

– Poderia haver um novo cenário para esta situação?

– Com certeza, o terceiro cenário seria o pior. Seria a Arma do Terror. A opção mais alta na escalada da Rússia é também a menos provável:diparos utilizar uma arma nuclear estratégica contra alvos civis ucranianos ou contra os parceiros internacionais vizinhos da Ucrânia. Tal ataque seria centenas de vezes mais poderoso do que aquele que utilizasse armas táticas. O objetivo da Rússia seria enfraquecer a determinação ocidental e provavelmente teria como alvo instalações militares ou infraestruturas relevantes para o esforço de guerra ucraniano, tais como linhas de fornecimento de armas na Polônia ou instalações de armazenamento de armas nos países bálticos. Bombardear uma grande cidade ocidental como Paris ou Los Angeles, em comparação, apenas provocaria uma reação ocidental mais forte. Este é também o cenário em que é mais provável uma resposta nuclear ocidental.

– O Poder do Presidente Putin também estaria em jogo nesta situação?

bandeirasOlha, embora o conflito na Ucrânia não seja uma ameaça existencial para a Rússia, Putin poderia percebê-lo como uma ameaça para si próprio. Ele provavelmente teme que perder a guerra signifique perder o poder ou a vida. À medida que a probabilidade dessa perspectiva aumentar, Putin poderá encarar as armas nucleares como um último recurso para a autopreservação, independentemente dos custos externos. A Rússia levantou recentemente o alarme nas capitais ocidentais ao alegar que a Ucrânia estava planejando utilizar um dispositivo nuclear improvisado, muitas vezes referido como uma “ bomba suja ”. Especialistas dizem que a maior parte dos danos causados por tal dispositivo seriam decorrentes de sua explosão e que representaria muito menos ameaça de radiação do que uma arma nuclear tradicional, mas o efeito pânico teria impacto disruptivo nas regiões atingidas. A Ucrânia e os seus aliados rejeitaram a alegação, considerando-a propaganda falsa e potencialmente enganosa, destinada a dar à Rússia um pretexto para intensificar a guerra com armas nucleares.

– Parece que o mundo ocidental reagiria na mesma moeda, a moeda do terror…

A utilização de uma arma nuclear contra alvos civis ou não ucranianos certamente geraria uma resposta retaliatória por parte dos Estadosarraso ocidentais. É improvável que os Estados Unidos descartem o uso das armas nucleares, dada a sua confiança na demonstração de determinação que resultaria de uma resposta convencional rápida e sofisticada, que também seria taticamente eficaz. Os membros da Europa Oriental da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que poderiam temer tornar-se o próximo alvo da Rússia, estariam particularmente interessados em garantir que a aliança mobilizasse uma resposta que enviasse um sinal forte à Rússia de que a utilização nuclear nunca a ajudará a alcançar objetivos expansionistas. .

– O próprio presidente norte-americano já deu declarações sobre este tema…

soldadosNa verdade, o presidente Joe Biden destacou a posição dos EUA sobre a questão, observando: “Qualquer uso de armas nucleares neste conflito, em qualquer escala, seria completamente inaceitável para nós, bem como para o resto do mundo, e teria consequências graves”. Esta imprecisão é intencional e consistente com uma política de longa data de “ambiguidade estratégica” dos EUA, que visa dar flexibilidade aos decisores políticos dos EUA na decisão de como responder a acontecimentos nucleares.

Um envolvimento ocidental mais direto mudaria dramaticamente a intensidade do conflito. Na ausência dedrones bombas baixas dos EUA num ataque nuclear russo fora da Rússia ou da Ucrânia, o envolvimento dos EUA provavelmente permanecerá indireto através do aumento das vendas de armas e do apoio não militar. É mais provável que os Estados Unidos utilizem armas convencionais diretamente contra a Rússia, embora tenham o cuidado de sinalizar que pretendem defender a Ucrânia e o Ocidente em vez de conquistar Moscou. Qualquer envio de tropas ocidentais não cruzaria a fronteira para a Rússia, e mesmo a utilização de mísseis de cruzeiro avançados, drones e operações terrestres seria limitada a alvos russos na Ucrânia. As operações especiais com ataques cibernéticos, provavelmente tanquedscontinuariam, embora pouco se soubesse sobre elas até bem depois do fim da guerra.

– A OTAN teria também um papel importante em casos assim?

As seguintes condições poderiam levar a esse cenário: desespero do Kremlin com a possibilidade de colapsostop total do governo ou ocupação estrangeira; a crença de que o uso de armas nucleares pode forçar a submissão de nações opositoras, incluindo os aliados da OTAN; um desejo de infligir destruição massiva como retaliação contra ameaças existenciais. Teríamos como consequências: retaliação massiva e rápida de outras potências nucleares, incluindo a OTAN e os EUA; destruição em larga escala na Rússia e além, levando a inúmeras vítimas civis e militares; e impacto devastador nas infraestruturas globais, economia e segurança, provocando um conflito nuclear de escala mundial.

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