ABB FECHA PARCERIAS PARA LEILÃO DE RESERVA E PLANEJA ALCANÇAR ATÉ 40% DE PARTICIPAÇÃO NO MERCADO DE ENERGIA SOLAR BRASILEIRO
Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) –
Com um faturamento anual de aproximadamente US$ 40 bilhões e presença em 100 países, a ABB vem ampliando sua participação no mercado energético brasileiro e o segmento solar tem sido um dos destaques nesse processo de expansão. Depois de cinco anos investindo na nacionalização de suas tecnologias importadas, a empresa suíça já fabrica aqui todas suas tecnologias e equipamentos para o setor, atendendo ostensivamente às regras do Finame – programa de financiamento do BNDES voltado a máquinas e equipamentos fabricados localmente. O gerente do segmento solar da ABB no Brasil, Bruno Monteiro, conta que o interesse da companhia vai desde os grandes projetos até a geração distribuída, e revela que fecharam parcerias com muitos grupos cadastrados no próximo leilão de energia de reserva do país, marcado para dezembro, em que foram cadastrados 419 projetos solares, somando 13,3 GW de potência. “A expectativa da ABB hoje é que haja uma contratação total de pelo menos 1 GW, mas estamos participando de muito mais do que isso”, diz Monteiro, ressaltando que o plano da empresa é dominar uma fatia de 30% a 40% do mercado solar no Brasil.
Como a ABB vê o potencial de crescimento da energia solar no Brasil?
Existem diversos fatores que indicam um potencial relevante de crescimento. O primeiro deles é a necessidade de diversificação da matriz energética brasileira. Então o crescimento solar – e de qualquer fonte renovável – é influenciado por isso. Atualmente mais de 70% da geração elétrica é proveniente de fontes hídricas no País e, se formos analisar o plano decenal da EPE, não teremos mais projetos de hidrelétricas de grande porte no futuro. Então esse crescimento está com dias contados e a matriz precisa se diversificar. Eu diria que a resposta para o que poderia suprir esse crescimento é tanto solar quanto eólica.
Mas elas são fontes complementares, enquanto a geração hídrica é firme. O correto não seria um crescimento conjunto de usinas de fontes firmes, como a nuclear, em paralelo ao avanço das complementares, como a solar e a eólica?
A questão da energia firme e de base é a que dá lastro para a geração. A solar a e eólica são energias sem um lastro. Com estudos, conseguimos estimar a quantidade de sol e de vento da região, mas são complementares ainda assim. Então toda a matriz energética tem que ter um mix formado pelas energias de base e complementares. Quando pensamos em energia de base, o primeiro assunto que vem à cabeça é por que vamos continuar esgotando o planeta Terra, sendo que temos fontes renováveis à nossa disposição. Em relação à energia nuclear, tivemos recentemente, no Japão, um fator agravante para esse tipo de geração, e o próprio Japão está querendo deixar a nuclear para investir mais em solar.
Na verdade o Japão tem revisto as decisões de suspender os projetos nucleares e inclusive retomou seu programa com a reativação de usinas recentemente. Mas, ainda assim, seguindo a proposta de focar nas fontes solar e eólica, como dar lastro a elas?
Boa parte da energia brasileira é de base. Quase 100% são compostos por algo que podemos medir objetivamente. Então hoje as renováveis são as mais interessantes para o crescimento do mix brasileiro. A condição climática também é favorável. O mapa solarimétrico brasileiro mostra que mesmo no ponto com maior incidência solar na Alemanha, que tem o maior parque gerador da fonte no mundo, essa área ainda tem 40% menos irradiação do que o ponto com menor incidência solar do Brasil.
Então, baseado nesses pontos, a ABB vê o crescimento no setor com grande otimismo, a ponto de acreditar que até 2020 o Brasil vai estar no top 10 mundial de geração solar, com 8 GW instalados no grid.
E a ABB tem como meta participar em quanto deste total?
A ABB é uma líder mundial no que ela faz e essa liderança no segmento nos traz a credibilidade para dizer que não faremos diferente no segmento solar. Então esperamos ser líderes de mercado. Se pudéssemos mensurar isso, esperamos um total de negócios de 30% a 40% desse volume. O que nos dá essa posição de liderança é que começamos a trabalhar em solar muito cedo no Brasil, fazendo investimentos importantes, como na fábrica de Sorocaba (US$ 200 milhões), onde conseguimos o Finame para o nosso inversor solar central, de 1 MW. E o compromisso de atender à demanda daqui com conteúdo local nos levou, desde 2011, a fazer investimentos para ter todos os produtos finalizados internamente, atendendo ao índice de nacionalização determinado pelo BNDES. Então ninguém tem mais produtos aqui do que a ABB, que atende a praticamente todos os fornecimentos da cadeia, com a exceção da fabricação de módulos solares e das estruturas metálicas. Fazemos desde os disjuntores, passando pelos inversores, pelos transformadores, até a subestação de conexão, sendo que temos tudo aprovado pelo Finame.
Qual mercado deve gerar mais oportunidades para a empresa, o de geração centralizada ou descentralizada?
Os dois segmentos são interessantes, mas eles estão em momentos distintos. A expectativa é muito boa para ambos. Na geração distribuída, já está funcionando bem. A gente estima que a geração distribuída no Brasil em 2016 vai alcançar de 65 MW a 70 MW. E entendemos que já é uma demanda muito boa, sendo que, pelo nível de tarifa que os consumidores pagam no Brasil, o negócio se justifica. Algo interessante que faltava eram financiamentos para esse mercado, mas agora já existem alguns bancos que estão fazendo isso, o que pode gerar paridade tarifária em diversos pontos no país. O crescimento será exponencial com isso.
E na centralizada?
Na centralizada, que funciona por meio de leilão, acho que o mercado ainda tem algumas incertezas, até porque vemos que, apesar dos resultados favoráveis dos leilões, poucos projetos têm de fato sido concretizados. Se for analisar o volume de projetos contratados, acho que giram em torno de 2,65 GW, mas muito pouco disso é concluído. Eles não estão sendo construídos, e um dos principais pontos para isso é a falta de equipamentos com conteúdo local. A falta de fabricação dos módulos solares. Tem poucos grupos hoje no Brasil fabricando os módulos e atendendo ao Finame. O ponto é que a desvalorização do real tem prejudicado o projeto financeiro desses grupos estrangeiros.
Levando essa lacuna de mercado em conta, a ABB tem interesse em fabricar módulos fotovoltaicos no Brasil?
Não. Esse é um produto que não faz parte do nosso portfólio e não temos nenhum plano para partir para isso. Foge do escopo do tipo de equipamento que a ABB produz e foge da nossa estratégia.
A companhia tem buscado parcerias com as empresas que se cadastraram para o próximo leilão de energia de reserva, que terá uma grande quantidade de projetos solares?
Estamos muito confiantes com esse leilão do final do ano, temos apoiado diversos investidores e empresas que vão participar, e estamos muito otimistas. Temos nos ligado desde a empresas que já estão no Brasil no segmento de geração vendendo energia, até aquelas que são investidoras voltadas apenas à construção e venda de usinas. São diversos perfis de parcerias.
O volume do que temos apoiado é muito grande. A EPE cadastrou 419 projetos solares, totalizando 13,3 GW, mas o modelo de projetos que nós avaliamos com real potencial para ganhar no leilão são usinas de até 30 MW. A expectativa da ABB hoje é que tenha uma contratação total de pelo menos 1 GW, mas estamos participando em muito mais do que isso.
Quais as metas para esse setor no país?
Até o momento, temos tido uma participação significativa em grandes contratos no Brasil e esperamos um posicionamento abarcando de 30% a 40% do segmento. Estamos com alguns produtos novos para esse mercado, como um inversor que vem com uma bateria de lítio acoplada, que traremos para Brasil no início de 2017; temos também um inversor central extremamente robusto e de alta eficiência, feito em alumínio inox, para usinas com ciclo de vida de 30 anos, dentre outras inovações. Então estamos trazendo toda nossa tecnologia para aumentar o retorno do investimento, diminuir o tempo de retorno do investidor, e buscamos ampliar a participação no mercado.
Um destaque que podemos dar é a nossa participação no avião Solar Impulse, que deu a volta ao mundo apenas com energia solar. A tecnologia dele pode ser aproveitada no Brasil em regiões isoladas da rede. Então é um projeto bem conceitual, mas que pode ter suas bases aproveitadas em diversos outros fins.
Parabéns pela matéria e ao Bruno Monteiro. As oportunidades são enormes e a necessidade grita.