ALÉM DE LUTAR CONTRA A REALIDADE DO MERCADO, AS EMPRESAS TERÃO QUE VENCER O PESSIMISMO EM 2016
Desde que iniciamos este projeto Perspectivas 2016, nenhum profissional ouvido pelo Petronotícias foi tão contundente quanto o Geofísico Pedro Zalán, que também trabalha como consultor. Bastante fundamentado por seus argumentos, ele traça um futuro sombrio, quase tão negro quanto o petróleo no Brasil. Mas ele também propõe soluções para os diversos problemas que todo setor enfrenta. Nesta edição, fomos ouvir também o empresário Carlo Cervo, diretor no Brasil da empresa norueguesa Modex Energy, que, ao contrário do que o mercado preconiza, fez muitos investimentos para os negócios no País em 2015, mas acredita que este panorama vai mudar em 2016.
Vamos ver as opiniões do empresário Carlo Cervo, Diretor da Modex:
– Como analisa os acontecimentos em seu setor neste ano?
“Foi um ano de muitas surpresas. Internacionalmente, diversos fatores geopolíticos, econômicos e tecnológicos colocaram o setor numa crise longa e profunda, cuja gravidade nem os analistas mais experientes haviam previsto. Aliado a isto, o Brasil e suas instituições não fizeram e nem fazem seu dever de casa, o que agravou a peculiar situação no Oil & Gás brasileiro. O ano de 2014 já não foi bom para o setor, mas 2015 conseguiu começar ruim e terminar pior. Apesar da tempestade no segmento, para a Modex o ano foi positivo. Conseguimos crescer nossa participação no mercado brasileiro e efetuamos vultuosos investimentos para dar início aos novos contratos.”
– Quais seriam as soluções para os problemas que o país está atravessando?
“Lamentavelmente, ainda precisaremos de algumas gerações para atingir uma maior civilidade como nação. Ainda somos uma nação jovem. Nestes 25 anos de carreira no óleo e gás, lembro-me dos avanços importantes que houve a partir da queda do monopólio até a descoberta do pré-sal. Naquela época podíamos nos orgulhar do que o setor estava plantando e do ambiente que estávamos criando. Olhando para trás, já faz quase uma década que perdemos o rumo, decisões e caminhos errados foram tomados, a Petrobrás mais e mais virou instrumento político e econômico para os “20 anos de poder” almejados pelo partido. As coisas começaram a andar para trás ou não progredir, perdemos o rumo. Será que vamos ter outra década perdida? Quanto às soluções para o setor, olhando os problemas, pode-se já deduzir as soluções requeridas: praticamente 8 anos sem leilões interessantes, falta de regularidade nas rodadas de licitação, a Petrobrás como operadora única, uma desvirtuada política de conteúdo local, excesso de regulamentação, demorado licenciamento ambiental, entre outros.”
– Quais as perspectivas para 2016? Pessimistas ou otimistas?
“De maneira geral, a crise mundial deverá continuar, e os investimentos no setor diminuirão ainda mais. Com relação ao país, vejo que ainda não chegamos ao fundo do poço desta crise, que é econômica, política e institucional. No meu setor em específico, vejo perspectivas positivas para empresas bem posicionadas e inovadoras, pois existe ainda uma frota grande de contêineres e cestas offshore não certificados operando para a Petrobrás. Esta frota precisa ser substituída por unidades certificadas, que oferecem segurança operacional nas movimentações de cargas.”
Veja agora as opiniões do geofísico Pedro Zalán, que traz uma nuvem sombria para o futuro das operações do óleo&gás, no Brasil:
– Como analisa os acontecimentos em seu setor este ano?
“A indústria petrolífera foi terrivelmente afetada pela forte queda dos preços do barril de petróleo. O motivo da queda brutal no preço foi a superoferta de petróleo no mercado mundial. A Arábia Saudita, a Rússia e os Estados Unidos continuaram a produzir em níveis recordes, a despeito da queda catastrófica. A OPEP, capitaneada pela Arábia Saudita, comandou a inundação do mercado com este óleo extra para atingir seu concorrente mais ameaçador, a indústria do shale oil/shale gas norte-americana. Os baixos preços do petróleo colocariam em risco a produção lucrativa deste óleo não-convencional norte-americano, produzido a preços muito mais altos do que o tradicional e barato petróleo da OPEP.
Com preços abaixo de U$60/barril, muitos campos em produção passaram a não ser mais viáveis economicamente, forçando o fechamento ou a diminuição das atividades destes campos. Com isto, diminuiu tremendamente a necessidade e a contratação de firmas prestadoras de serviços na área de produção, como sondas, equipamentos de produção, apoio logístico, barcos, helicópteros, caminhões, equipes de fraturamento, perfilagens etc.
Muitas rodadas de ofertas de blocos exploratórios mundo afora tiveram resultados decepcionantes, como no México e no Brasil. Neste segmento, igualmente, companhias de perfuração e de levantamentos de dados promoveram grandes lay-offs de funcionários e muitas delas entraram em concordata.
No Brasil, todo este problema foi seriamente agravado pela incapacidade do governo de estimular a continuação de investimentos nesta área e de atrair novos investidores para o país. A insistência em uma política de conteúdo local tirânica e ultrapassada, rígida, inflexível e aplicada meramente com intuitos arrecadadores tornou-se uma barreira econômica e operacional para as companhias que pretendam investir em E&P no Brasil. A manutenção da obrigatoriedade da operação única da Petrobrás no Pré-Sal impede a realização de novas licitações de áreas exploratórias e impede a expansão da indústria petrolífera e a geração de milhares de novos empregos.
Toda a indústria brasileira está montada para servir e funcionar em torno de um único grande operador, a Petrobrás. Como ela está mortalmente ferida e combalida pelos inúmeros casos de corrupção que a assolaram nos últimos anos, incapaz de realizar novos investimentos significativos ou de manter todos os projetos que já se encontravam em andamento, toda a indústria petrolífera nacional encontra-se igualmente combalida.”
– Quais seriam as soluções para os problemas que o país está atravessando?
“No caso da indústria petrolífera brasileira, aponto as seguintes soluções: Flexibilização e racionalização das regras de conteúdo local; Agilização e racionalização na emissão de licenciamentos ambientais; Extinção da regra do operador único para o Pré-Sal; Estabelecimento de um calendário plurianual de 3 tipos de licitações: de áreas exploratórias excludentes do Pré-Sal, dirigidas para o Pré-Sal e para campos maduros.
É importante também impedir o aparelhamento político das estatais e das agências reguladoras, com o comando e a execução de suas funções somente por técnicos capacitados e de carreira admitidos por concursos públicos. É preciso estímulos fiscais para as companhias que se dispusessem a investir em E&P em áreas onshore do país, tanto na exploração, bem como na explotação de campos maduros; Extinção do viés ideológico ultrapassado de considerar o capital estrangeiro investido no país como um inimigo a ser combatido e explorado em vez de considerá-lo como um aliado a ser estimulado.”
– Quais as perspectivas para 2016? Pessimistas ou otimistas?
“Infelizmente, pessimistas. Não há no cenário mundial razões para se crer em uma volta ao crescimento significativo no preço do barril de petróleo a curto prazo. Consequentemente, todo o cenário de falta de investimentos, falências e concordatas de firmas, demissões e desemprego em massa na indústria petrolífera parece que vai prevalecer por algum tempo, ainda.
A única certeza que se pode enunciar, no momento, é que nenhum profissional de nenhuma firma de petróleo, fundos de investimentos ou bancos pode prever com absoluta certeza o que ocorrerá com o preço do petróleo no curto, no médio ou no longo prazo. Todas as ilações neste sentido serão meramente um exercício de adivinhação, similarmente fundamentadas, no qual a maioria das previsões estará rigorosamente errada. A quantidade de fatores que influenciam este preço é tão grande e de características tão imprevisíveis que raramente alguma instituição acerta corretamente o futuro das oscilações do preço desta matéria-prima. E tal incerteza pode reservar grandes surpresas, alvissareiras ou bem desagradáveis.
No cenário brasileiro, as previsões são piores ainda. O processo de impeachment do atual presidente da República, tão desejado pelo segmento produtivo do Brasil, deverá se arrastar por longos meses ano adentro, com consequências totalmente imprevisíveis. Mantido o governo atual, a inflação disparará, as taxas de juros também, o desemprego aumentará terrivelmente e os investimentos em absolutamente todos os setores diminuirão gradativamente. Enquanto outros países estarão avançando a passos firmes, tais como a Colômbia, Chile, Peru, e agora a Argentina, o Brasil estará irremediavelmente retrocedendo.
Na indústria petrolífera, este cenário influirá, logicamente, de maneira mais negativa ainda, criando um quadro realmente preocupante para o seu futuro em nosso país. Cada vez mais, o país se aperceberá que a dívida da Petrobrás é impagável, difícil de equacionar, a não ser com o uso das reservas em moeda estrangeira do país, uma ação esta totalmente desaconselhável, e que, se não houver um movimento para se diversificar a atuação de vários operadores de E&P no país, a indústria petrolífera nacional estará condenada ao ocaso.”
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